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domingo, 16 de outubro de 2016

Vozes iguais: a diversidade do Encontro Nacional de Mulheres na Argentina

O 31º Encuentro Nacional de Mujeres, realizado em Rosário entre os dias 8 e 10 de outubro, promoveu a conexão e a união das mulheres na luta contra o patriarcado e os retrocessos nos direitos das mulheres com a ascensão do governo de Maurício Macri

por Agatha Azevedo 11 outubro, 2016

Feito por mulheres negras, travestis e transexuais, migrantes, lésbicas e bissexuais, dos povos originários, prostitutas, defensoras descriminalização do aborto, mães, indígenas e tantas outras, o Encontro transformou a maior cidade da província de Santa Fé em um local de fortalecimento e luta. Com oficinas de temas como ativismo feminino, sexualidade, aborto, bissexualidade e lesbianidade, HIV, maternidade, prostituição e trabalho sexual, estupro, tráfico de mulheres, violência de gênero, mulheres dos povos originários, mulheres campesinas e rurais, afrodescendentes, e mulheres migrantes e latinoamericanas, o encontro autoconvocado ainda teve cerimônia de abertura, ato das mulheres e rodas de conversas informais durante a programação. A relatoria completa do que foi debatido em cada uma delas pode ser encontrada na página do Encontro.
 Foto: Agatha Azevedo/ Mídia NINJA
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres
A rede de feministas que se formou através do Encontro contra os casos de violência na Argentina tem conseguido êxito, porém a luta ainda está longe do fim. Na agenda de lutas deste ano estavam as denúncias a artistas e figuras públicas como Cristian Aldana, vocalista da banda argentina “El Otro Yo”, por casos de violência contra mulher, estupro e pedofilia; o combate à morte de mulheres trans e travestis e à impunidade dos assassinos, lembrando o aniversário de um ano do caso de Marcela Chocobar, assassinada de maneira cruel e negligenciada do direito de estar nas estatísticas de feminicídio e de ter um enterro digno; e inúmeros casos de mulheres desaparecidas pelas redes de tráfico e prostituição.
 Foto: Agatha Azevedo/ Mídia NINJA
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres
Como conquistas, esta edição foi marcada pela primeira roda de mulheres afro, e comemorou a resolução do caso de Belén, jovem de 27 anos da cidade de Tucumán acusada de assassinar o próprio filho, presa e condenada a 8 anos de prisão por ter tido um aborto espontâneo, que só saiu da cadeia graças à pressão popular. Também foi pontuada a importância de seguir com as grandes manifestações do “Ni Una Menos”, marcha que é filha do Encontro de Mulheres e que diz não ao feminicídio no país e na América Latina.

Foto: Cobertura Emergente + Manifesta
Foto: Cobertura Emergente + Manifesta
A tradicional marcha de mulheres foi reprimida pelas forças da polícia. Este é o segundo ano que isso acontece, e a polícia tenta impedir que a marcha passe em frente à Igreja e proteste contra ela com balas de borracha e spray de pimenta. Mais um reflexo do avanço da direita na América Latina e da política que se instaurou com o início do governo de Maurício Macri, no final de 2015.
Para o Brasil, o modelo argentino que surgiu em 1985 e traz delegações de mulheres de todos os cantos do país serve para apontar um caminho de união diante do cenário atual. Abaixo, é possível sentir um pouco do que foi dito no Encontro. As falas aqui citadas não tem nomes. Esta opção política se dá por entender a construção horizontal do Encontro argentino, que colocou mais de 70 mil mulheres divididas em 67 oficinas em diálogo, e não pertence à nenhuma organização, mas à pluralidade de opiniões e vozes da mulher argentina e migrante.
“Quantas companheiras trans terminaram o Ensino Médio? Precisamos ser capacitadas e aprender para poder ocupar postos de trabalho, e que nestes nós sejamos incentivadas a terminar os estudos, porque mais do que uma cota trans, na Argentina nós precisamos de respeito e de conseguir concluir a escola.”
Foto: Agatha Azevedo/Mídia NINJA
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres
“Devemos levar em conta qual é a nossa história e onde estamos parados para ver onde temos que lutar. Dar espaço para a cultura é dar uma arma de luta pra nós mulheres. Nos confortamos quando estamos juntas. Temos que dialogar para mudar.”

Foto: Agatha Azevedo/Mídia NINJA
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres















“Nós eramos 5 irmãs. Porque eu considero que somos todas irmãs. E mataram a minha irmã trans. Marcela Chocobar, desaparecida, assassinada, esquartejada. Nós encontramos seu corpo destroçado, sem pele. A mataram com tanto ódio que Marcela, que era alegre e divertida, sempre presente, não pode ser reconhecida. Somos 5 irmãs que estivemos sempre juntas e me custa dizer que hoje somos 4. Seguimos pedindo que se encontrem os restos do corpo dela, e há um ano de sua morte, nos dói dizer que ela ainda é considerada um homicídio simples.”
“As redes de tráfico de mulheres são fruto da existência da prostituição compulsória e dos prostíbulos como um lugar que aceita a mulher como mercadoria. Ela é tão mercadoria que é submetida a exames de HIV e doenças para a proteção dos clientes que as consomem e se sentem totalmente descartáveis. Muitas mães ainda procuram suas filhas. E da porta pra dentro do puteiro, não existe proteção, não existe camisinha, não existe choro.”
Foto: Agatha Azevedo/ Mídia NINJA
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres















“Somos um povo que vieram saquear.”
“Queremos que escutem nosso pedido de justiça. Em Salta, norte argentino, temos registrados 53 casos de companheiras violentadas pela Polícia e pelo patriarcado. Além de ser difícil dizer o que acontece com mulheres em situação vulnerável e de prostituição, de ser dolorido dizer, denunciar, ainda temos que aguentar a justiça nos pedindo para assinar papeis sendo que a maioria de nós não sabe ler e escrever. Somos pobres, excluídas do estado, muitas em situação de rua, e o tema não é só o tráfico de mulheres, a polícia também é parte disso. O mesmo que nos batia na rua era o que recebia a denúncia.”
“A gente se exalta não porque não nos ouvem, não nos respeitam e nossa violência sofrida, guardada ao longo dos anos, é tanta que dói, machuca e tem que sair.”
“Para ter direitos, temos que nos meter na política, porque ela que transforma a realidade. Temos que pressionar nossos dirigentes em nossos movimentos para que nos coloquem nos espaços de decisão porque não pode haver uma trans mais sem saúde, educação, morrendo e sem trabalho.”
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres















“Nós colocamos o corpo na rua, no protesto, por todas as mulheres e damos toda nossas vidas para que todas sejamos livres. Nós somos mais se todas vamos juntas! E vamos continuar pondo o corpo contra o machismo e que parem de nos bater.”
“Nós somos a classe obreira, nós construímos tudo. Então se rompermos tudo, vamos reconstruir tudo. O encontro é de todas e respeitaram nossas decisões, aqui não tem liderança, não tem movimento, aqui existem mulheres que resistem e querem brigar pela mudança.”
“Cuidamos muito de nós mesmas que estão perto da gente, diante deste mundo que estamos. Dói ver que a sexualidade e a expressão da sexualidade de uma irmã possa causar a ela risco de morte.”
“Temos que levar nossas lutas não somente na mente, mas também no coração, porque é com o coração que chegamos às pessoas.”
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres
Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres

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