Autora do conto mais famoso do mundo nos últimos anos publica seu primeiro livro
POR CLARISSA WOLFF 9 DE FEVEREIRO DE 2019
Em dezembro de 2017, minha linha do tempo de todas as redes sociais só falava de um conto publicado na New Yorker naquele mês: “Cat Person”, de Kristen Roupenian. Logo veio a notícia de que a Companhia das Letras havia comprado os direitos da obra de estreia da autora e agora, no comecinho de 2019, seu livro de contos foi lançado no Brasil.
Com 12 contos que abordam de forma consistente o amor no mundo hiperconectado, a autora mistura sobrenatural à realidade material para discutir consentimento, ego, e os relacionamentos entre homem e mulher. “Cat Person” é, sem dúvida, a joia do livro, e nenhum dos outros contos consegue ter o mesmo poder em traduzir de forma tão poderosa uma verdade difícil de ser explicada.
Com 12 contos que abordam de forma consistente o amor no mundo hiperconectado, a autora mistura sobrenatural à realidade material para discutir consentimento, ego, e os relacionamentos entre homem e mulher. “Cat Person” é, sem dúvida, a joia do livro, e nenhum dos outros contos consegue ter o mesmo poder em traduzir de forma tão poderosa uma verdade difícil de ser explicada.
Há outros contos interessantes, é claro. A história que abre o livro, “Seu safadinho”, é uma dessas. Abordando jogos de manipulação emocional em um estilo que parece ser saído da série “Girls”, de Lena Dunham, é uma narrativa competente.
“O cara legal” é outro desses capazes de mergulhar na essência de uma individualidade que, de forma bastante Rousseauniana, é completamente determinada pelo meio.
A masculinidade tóxica é também vítima de si mesma e a discussão sobre o papel do homem “legal” parece finalmente ter conseguido o resultado que Woody Allen tenta há décadas de forma vergonhosa.
“Cat Person e outros contos”, Kristen Roupenian
Companhia das Letras, 2019
Tradução de Ana Guadalupe
256 páginas
R$ 44,90
Mas é “Cat Person” que merece os louros. É esse o conto que conseguiu fama internacional, grandes contratos e teorias fantasiosas. E não é à toa.
“Cat Person” detalha a genealogia do encontro definitivo da vida amorosa millennial. Com o apoio de aplicativos de namoro, confusão sexual e uma atração meia-boca, os limites de consentimento são explorados.
Em uma época onde a hashtag #MeToo vira tendência, aparece em músicas de estrelas internacionais e famoso atrás de famoso sofre por escândalos, o termo “má conduta sexual” parece ser necessário como forma de delimitar a diferença entre estupro per se e abuso sexual.
“Cat Person” borra ainda mais esses limites quando coloca um desejo caótico, desorganizado, e ainda não completamente compreendido no meio.
Mas é por meio da tradução perfeita dos papeis de gênero que o choque da realidade dos relacionamentos chega ao clímax: a intimidade desajustada e o sentimento de direito sobre o outro são, talvez, o principal subtexto da história.
Não é um livro perfeito do começo ao fim, mas merece a discussão, a conversa e a leitura. Nem que seja por você também amar gatos.
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