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domingo, 31 de março de 2019

Empoderar-se é um instrumento de emancipação política e social

Maciana de Freitas e Souza
Sexta-feira, 29 de março de 2019

“O que é empoderamento”?, escrito pela arquiteta e urbanista Joice Berth, título da coleção feminismos plurais, coordenada pela filósofa Djamila Ribeiro, traz reflexões a respeito do conceito de empoderamento evidenciando as concepções de diversos intelectuais a exemplo de Paulo Freire, Michel Foucault, Hannah Arendt como também apresenta conceitos do feminismo negro do pensamento de bell hooks, Patricia Hill Collins, Angela Davis e entre outras. O livro é dividido em quatro partes intitulados: “Opressões estruturais e empoderamento: um ajuste necessário”, “Ressignificação pelo feminismo negro”, “Estética e afetividade: noções de empoderamento” e as considerações finais.
Berth inicia seu percurso a partir de contribuições teóricas afirmadas em Michel Foucault e Hannah Arendt para explicar o que se entende por poder. Para Foucault, o poder se constitui enquanto prática de controle social e dominação que atravessa toda a estrutura social. Para a filósofa alemã, o poder resulta do “agir conjunto”, portanto, somente o coletivo pode fornecer respostas relevantes para a produção de ações – resistências.
A autora expõe algumas causas legitimadoras da expansão das desigualdades, causas que se fazem importante conhecer, pois permite desmascarar as funções ocultas do discurso e chama atenção para a lógica neoliberal e seu apreço pelo individualismo, competitividade, no âmbito das relações humanas, reforçando o processo de manutenção do status quo.
De qualquer forma, o que se deve ter em mente é que o empoderamento individual na perspectiva freireana é importante, mas que ele seja fundado numa percepção crítica sobre a realidade social para a construção de ações práticas na realidade concreta, pois sem se contrapor a ordem vigente não há empoderamento efetivo. Por isso assinala Berth que “(…) quando assumimos que estamos dando poder, em verdade, estamos falando na condução articulada de indivíduos e grupos por diversos estágios de autoafirmação, autovalorização, autorreconhecimento e autoconhecimento de si mesmo e de suas mais variadas habilidades humanas, de sua história, principalmente, um entendimento sobre sua condição social e política e, por sua vez, um estado psicológico perceptivo do que se passa ao seu redor” (2018, p.14).
A nossa formação dependente, com sua economia escravista, trouxe diversas implicações socioeconômicas, políticas e culturais para a população negra. Nesse sentido, há uma manutenção das estruturas hierárquicas que legitima essas opressões. Desse ponto de vista, empoderar-se, para Berth, “(…) é um instrumento de emancipação política e social”, enquanto prática de transformação não somente subjetiva, mas essencialmente de caráter coletivo com vistas a possibilidade de direitos e autonomia dos sujeitos.
Diante dessas considerações, surge o desafio do ensino-aprendizagem a partir da teoria crítica para a construção de uma educação emancipadora que possa compreender as dinâmicas e narrativas para a transformação social. Berthenfatiza que “(…) a consciência crítica é condição indissociável do empoderamento” (p. 43), visto que, “(…) uma coletividade empoderada não pode ser formada por individualidades e subjetividades que não estejam conscientemente atuantes dentro de processos de empoderamento” (p. 42). Dessa forma, além do ensino, a questão organizativa se constitui também como um ponto fundamental para que mudanças sociais e políticas possam ser vistas na realidade.
O enfoque principal do livro está na importância do feminismo negro, da participação política, bem como a descolonidade do conhecimento para o alcance de direitos. A autora reforça a necessidade de um olhar atento a essas questões que perpassam nossa vida social a partir de uma leitura crítica das situações de assimetrias por meio de uma abordagem respeitosa, no intuito de evitar a reprodução de estereótipos e noções problemáticas acerca dessas temáticas, pois muitas vezes pela mídia o “empoderamento” é visto apenas por uma ótica individual, levando ao esvaziamento  original do termo e apropriação do discurso pelos grupos hegemônicos: 
“O empoderamento enquanto prática social necessária no ápice de seu cooptação e distorção tem sido literalmente vendida sobretudo por aqueles que almejam manter o status quo formador de acúmulos e desequilíbrios sociais. Esse fenômeno social cria clãs micro-opressores que não tem condições psicológicas para conduzir outros indivíduos pelos caminhos processuais de autodescoberta sociopolítica, simplesmente porque nem ao menos buscaram erradicar dentro de si mesmos as internalizações perversas do sistema de opressão a que estão expostos” (2018, p.83)
Conforme o capitalismo se desenvolve, por meio das instituições ele amplia seu poderio, na realidade, não há a intenção ou um projeto nesse sentido de mudanças das relações de poder, mas sua lógica está voltada a “(…) continuar exercendo o controle social sobre grupos oprimidos e não visam a transformação” (2018, p.54).
Após a leitura de “o que é empoderamento”, acreditamos que não há como compreender a realidade dos grupos minoritários sem levar em conta esses elementos, portanto deve ser ponto de partida para atualização de nossas análises conjunturais, a fim de contribuir para o conhecimento crítico.
Maciana de Freitas e Souza é bacharela em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

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