Luís Fernando M. Costa | Editora da Unicamp | Especial para o JU
Segundo a historiadora Joan Scott, gênero é uma forma de dar sentido às relações sociais de poder baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos. Ou seja, o conceito diz respeito à percepção social dos corpos masculino e feminino e aos impactos disso. Esse foi o ponto de partida do debate entre a socióloga Regina Facchini, coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da Unicamp, e a escritora e militante Amara Moira durante o último Café com Conversa, intitulado “Pensar o sexo e o gênero”.
O programa, que resulta de uma parceria entre TV Unicamp, Editora da Unicamp e Café da Casa/Casa do Professor Visitante, foi gravado dia 11 de abril.
O programa, que resulta de uma parceria entre TV Unicamp, Editora da Unicamp e Café da Casa/Casa do Professor Visitante, foi gravado dia 11 de abril.
Em sua fala, Facchini chamou a atenção para o fato de que, desde o século XIX, o movimento feminista revela as desigualdades de poder entre homens e mulheres. Já na década de 1960, o movimento homossexual ganha mais força e luta pela garantia de seus direitos civis, transpondo uma perspectiva até então fundamentada na divisão binária entre os sexos. Sobre essa base, constitui-se o atual debate sobre gênero, do qual participam tanto Regina Facchini, com seu núcleo de pesquisa, quanto Amara Moira em sua militância diária. No entanto, ainda há muita resistência por parte de uma parcela da população que se compreende como “normal”, assinala Moira.
Durante a sua fala, a escritora ressaltou as repercussões práticas e teóricas decorrentes da divisão conceitual entre pessoas cisgêneras e transgêneras. Segundo Moira, o termo “trans” refere-se a algo que cruza uma linha, rompendo com uma direção predeterminada. No contexto de gênero, designa uma cisão entre a determinação biológica e a identidade de uma pessoa como homem ou mulher. Porém, em vez de simples nomenclatura, esse conceito surge com o propósito de nomear o que é diferente e, portanto, distingui-lo de uma norma. Moira assinala, no entanto, que a ideia de normalidade é algo perverso, pois, ao mesmo tempo em que cria uma categoria de pessoas “normais”, define outra categoria de pessoas, excluídas e violentadas.
Na década de 1990, funda-se o Pagu. Segundo a socióloga, seu surgimento foi favorecido por um contexto político de abertura de interlocução e de demandas de aparatos estatais, que buscavam atender as demandas dos movimentos feminista e LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). As pesquisas do núcleo têm como marco o trabalho com gênero articulado a outras relações de poder, pensando as relações sociais de poder que se entrelaçam e se produzem mutuamente. Durante o debate, Facchini ressaltou a importância desse olhar sobre as mulheres, a fim de compreender como elas se inserem nas relações de poder e como reagem diante das condições às quais são submetidas.
Nesse sentido, aponta a coordenador do Pagu, a proposta de Eleni Varikas em Pensar o sexo e o gênero (Editora da Unicamp), livro que foi o mote do programa, salta para o primeiro plano, ao colocar em perspectiva os processos de construção das diferenças.
Assista ao programa:
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