por INPI14/01/2019
Como parte da celebração do Dia Mundial da Propriedade Intelectual, comemorado no dia 26 de abril, o INPI ouviu as perspectivas de três mulheres cientistas brasileiras, premiadas internacionalmente, e que nos relatam as alegrias e os desafios de promover e trabalhar com a ciência e a inovação no Brasil.
A ciência como profissão
– Eu sempre gostei de ciência. Desde adolescente. Só não sabia na época que eu poderia fazer disso uma profissão – relata a cientista brasileira Thaisa Storchi.
Autora de vários livros e artigos científicos, a gaúcha Thaisa tem três pós-doutorados na área de astrofísica e é uma das cientistas brasileiras mais citadas no Brasil e no exterior, com sua pesquisa em galáxias chamadas ativas, devido à captura de matéria por um buraco negro supermassivo no seu centro. Sobre a participação de mulheres na ciência, ela afirma que hoje encontra muito mais mulheres nos congresso e observatórios, e destaca a determinação com que elas fazem a pesquisa científica.
– Quando estou pesquisando, mergulho fundo mesmo, e parece-me que a maioria das mulheres cientistas fazem o mesmo. A recompensa é a alegria da descoberta, é quase um sentimento infantil! Tem coisa melhor de se fazer quando criança do que explorar o mundo? E tem coisa melhor do que continuar podendo explorar o mundo pela vida toda? Por isto que é bom ser cientista! O prazer da descoberta nunca acaba! Cada objeto novo estudado, no meu caso "observado" com algum telescópio, é uma nova exploração, um novo conhecimento adquirido, uma nova contribuição para a cultura da humanidade – afirma a cientista.
Ao relatar os empecilhos da carreira como pesquisadora científica, Thaisa explica que são os mesmos de muitas outras carreiras, por conta de um “viés inconsciente” que faz com que tantos os homens como as mulheres valorizem mais a participação masculina na maioria dos ramos da atividade humana.
– Esses episódios de viés inconsciente acontecem em inúmeras oportunidades, o que vai minando a confiança da mulher em si mesma. Precisamos estar alertas para mudar isto, agindo, chamando a atenção de quem comete estas pequenas ofensas, para que, num futuro quem sabe próximo, possamos livrar as mulheres desses empecilhos para que tenhamos todos, homens e mulheres, os mesmos direitos e responsabilidades – conclui Thaisa.
Os desafios da mulher na ciência e na inovação
Um estudo sobre a participação dos gêneros na pesquisa científica nos últimos 20 anos, publicado em 2017 pela editora Elsevier, mostrou que o número de mulheres pesquisadoras e inovadoras tem aumentado em todo o mundo. No Brasil, de acordo com a publicação, o número de pesquisadoras já corresponde a 49% do total, o maior percentual entre todos os países pesquisados, junto com Portugal.
No entanto, segundo a cientista e professora da Universidade de Brasília, Taís Gratieri, esses números, apesar de positivos, mascaram que, na prática, as mulheres na ciência brasileira enfrentam problemas históricos, como a sub-representação e a falta de prestígio como cientistas.
– Como a profissão de cientista não é reconhecida, não é atrativa. De fato, historicamente as mulheres ocupam em maior número as funções que não denotam status ou poder, o que explica a nossa aparente igualdade na ciência. Mas, quando se menciona a função de um professor universitário, por exemplo, nosso papel, de cientistas, muitas vezes não chega nem ao menos a ser lembrado – afirma Taís.
Cientista e pós-doutora pela Universidade de Genebra, Suíça, Taís recebeu em 2013 um prêmio internacional em reconhecimento por sua pesquisa no desenvolvimento de um colírio que, após a aplicação, permite que o remédio fique mais tempo em contato com os olhos e atinja o local da infecção em quantidades suficientes. Ela ainda desenvolve outras pesquisas na área de ciências biomédicas, que têm resultado em algumas patentes depositadas no Brasil.
No entanto, ela afirma que as cientistas brasileiras têm uma luta que vai além do incentivo para a participação feminina na pesquisa científica e na inovação; elas acabam direcionando boa parte de suas energias para garantir condições básicas de infraestrutura e recursos, além de lidar com burocracias, em prol do reconhecimento da própria ciência.
– Dessa forma, qualquer espaço para discutirmos ciência e inovação é bem-vindo. Mulheres e homens na ciência, mais do que nunca, devem dar-se as mãos e lutar lado a lado para o reconhecimento do papel das mulheres na inovação e, mais que isso, lutar pela importância da ciência para o nosso país – completa Taís.
A transformação social pela inovação
Para a pesquisadora e professora Joana Félix, uma transformação social efetiva passa pela união entre a educação e a ciência.
– São as armas mais poderosas para vencermos os obstáculos da vida. Produzem cérebros que serão as cabeças pensantes do nosso futuro – afirma Joana.
Pós-doutora em química pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Joana usa sua própria história de vida como exemplo para incentivar a participação de jovens, em especial, mulheres, na ciência brasileira. Egressa de escolas públicas e filha de pais humildes, a cientista enfrentou muitas barreiras para realizar seus estudos. Hoje, ela coleciona mais de 50 prêmios, incluindo o Kurt Politizer de Tecnologia 2014, como reconhecimento aos projetos de inovação tecnológica na área de química.
Em sua cidade natal, Franca, interior de São Paulo, ela desenvolve várias pesquisas junto com seus alunos de uma escola técnica estadual. Entre elas, está o desenvolvimento de uma pele humana artificial para transplantes e testes farmacológicos e de um tecido ósseo para remodelação, reconstituição e transplante.
Tendo como matéria-prima o reaproveitamento de resíduos de curtumes, a pesquisadora tem mais várias patentes depositadas no Brasil e no mundo, gerando a possibilidade de transferência de tecnologia de suas inovações.
Sobre a escolha por trabalhar com a educação básica, ela afirma que o estímulo à ciência deve começar bem cedo, para gerar frutos durante muitos anos.
– Investir em educação científica desde a infância é a peça chave para a construção de uma sociedade democrática, economicamente produtiva, mais humana e sustentável – conclui a cientista.
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