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sexta-feira, 29 de março de 2019

Gal Costa: “É um disco alegre para tempos sombrios, no Brasil e no mundo”

Aos 73 anos, cantora grava DVD em São Paulo, sai em turnê e conversa sobre como se mantém imune, como artista, à passagem do tempo



Gal Costa, durante a gravação do DVD 'A Pele do Futuro'.
Gal Costa, durante a gravação do DVD 'A Pele do Futuro'. MARCOS HERMES

São Paulo 

Com um longo vermelho, a vasta cabeleira negra que, junto com sua voz —uma das maiores de todos os tempos da música brasileira—, caracterizam-na, Gal Costa pisou o palco da Casa Natura Musical, em São Paulo, na sexta-feira para registrar em DVD o trabalho que, como ela mesma diz, é "frescor em tempos sombrios". A Pele do Futuro, álbum de inéditas lançado no final do ano passado, coroa seus 53 anos de carreira, com uma mistura de MPB com disco music e uma estética dos anos 1970. Mas também tem samba, baião, baladas românticas e rock'n'roll. É assim que Gal dança em tempos de crise.

"Sempre quis fazer um disco com essa sonoridade, com esse estilo dos 70. E também queria trazer algo alegre nessa época socialmente conturbada do país", conta ela em entrevista ao EL PAÍS. Com composições de de Guilherme Arantes, Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, Nando Reis, Erasmo Carlos, Hyldon, Paulinho Moska, Jorge Mautner e Djavan, o álbum também conta com nomes da nova música brasileira, como Tim Bernardes, Emicida, Silva e Marília Mendonça, que também participa cantando a faixa Cuidando de longe. "Eu queria fazer um disco que qualquer pessoa, de qualquer idade ou preferência musical, pudesse gostar. É um disco maduro, alegre, para tempos sombrios. É um frescor para um momento como esse, não só no Brasil mas no mundo", explica Gal Costa.
Em meio a esse frescor, vozes da memória afetiva e novos reencontros. Maria Bethânia, parceira de longa data de Gal, faz magia com Gal na canção Minha Mãe, primeira gravação juntas depois de 28 anos —o último dueto tinha sido em 1990, na faixa Iansã, no álbum 25 Anos, de Bethânia.


A letra de Minha Mãe é um poema do carioca Jorge Mautner, que escreveu o poema inspirado especialmente nas mães das duas cantoras, Mariah Costa Penna e Canô Vianna Telles Velloso, a Dona Canô. Os versos traçam um paralelo entre a figura materna e Nossa Senhora Aparecida, de quem tanto Gal quanto Bethânia são devotas.
A Pele do Futuro traz diversas referências à maternidade e à figura da mãe propriamente dita e da mãe como voz. Criada sem pai, Gal construiu uma relação especial com sua progenitora, que a introduziu ao mundo da música e incentivou-a a fazê-la artista. Décadas depois, aos 60 anos, grande parte dessa relação foi reconstruída com Gabriel, que chegou à vida de Gal com dois anos de idade —hoje tem 13— e presenteou-a com a maternidade. "Criar um menino de 13 anos é muito instigante. Os valores que eu tenho, que minha mãe me ensinou, eu passo pra ele. A responsabilidade de criá-lo é ótima, Gabriel é a coisa mais importante na minha vida", diz ela.

Gal ainda dança

A cantora conta que, nas mais de cinco décadas de carreira, ela sempre titulou os discos com músicas que gostasse muito ou que considerasse mais importantes. "Costumo usar ou o nome da canção ou uma frase que tenha na letra", diz. Desta vez, no entanto, foi diferente. Foi o diretor artístico Marcus Preto que sugeriu o nome. A Pele do Futuro nasceu de Viagem passageira, primeira música composta por Gilberto Gil para Gal em 25 anos. A canção, profunda, que segue a filosofia mais interiorizada do cancioneiro do compositor baiano, tem versos como "A pele do futuro finalmente/ Imune ao corte, à lâmina do tempo / O tempo finalmente estilhaçado/ E a poeira sumindo no horizonte".
Imune ao corte da lâmina do tempo. Parece ser assim que Gal se sente. Aos 73 anos, ela diz estar com a mesma energia para cantar, dançar e fazer turnê que tinha quando era a rainha do Tropicalismo. "Eu me sinto mais jovem do que realmente tenho de idade. Minha alma é jovem. E quando eu subo no palco, vem uma energia não sei de onde, e eu me sinto com muita vitalidade".
A vontade de inovar ainda é a mesma. "Gosto de dar saltos na minha carreira, de ousar e criar novos caminhos. Gravo o que realmente me bate e o que eu gosto de cantar, então, sou desprendida de rótulos. Cada disco é justamente um santo diferente, com novos ritmos e novos artistas".
Gal é plural, como ela mesma diz, "como toda pessoa deve ser". "Tenho várias dentro de mim. A gente deve estar aberta para ver o mundo de várias maneiras. E eu sou isso". Por isso, tampouco sente-se aprisionada pelo tempo. "Meu espírito não acompanha minha idade cronológica. A minha voz é o espelho da minha alma. E minha alma é jovem”, garante baby

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