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sábado, 14 de março de 2020

O que é economia feminista?

Uma nova corrente de pesquisadoras propõe um olhar de gênero paras os números e indicadores sociais

MARIA LAURA NEVES
12 MAR 2020

Comecei um mestrado e tive uma aula fascinante sobre desenvolvimento sustentável. Costumamos repetir esse conceito a esmo, sem saber ao certo o que significa – aliás, essa é uma questão que permeia a sustentabilidade e tema de uma próxima coluna, sobre a importância das palavras e de darmos os nomes certos às causas. Voltando ao conceito de desenvolvimento, o que exatamente está embutido nele?

Várias coisas: o crescimento do PIB, a longevidade, indicadores de educação – os componentes do IDH (índice de desenvolvimento humano).  Para o Nobel indiano Amartya Sen, também a liberdade que só se obtém com acesso às oportunidades. Para mim, também precisamos contar a equidade, o acesso às artes, ao samba, e, por que não, à psicanálise. O que quero dizer é que o significado de desenvolvimento é que nem gosto, cada um tem o seu.

O que, no entanto, é pouquíssimo levado em consideração nessa discussão são os indicadores que envolvem metade da população mundial: os de gênero. Ignorar as mulheres é, aliás, uma pratica das Ciências Econômicas – apenas duas economistas receberam o Nobel na história, Elinor Ostrom, em 2009 e Esther Duflo, em 2019; somente 12% dos professores de economia das universidades norte-americanas são mulheres. Para adicionar nossa perspectiva às pesquisas, acadêmicas do mundo todo estão se debruçando sobre os dados e criando uma nova disciplina: a economia feminista, que se propõe a desvendar números para promover a equidade de gênero.

Um de seus questionamentos é a do cálculo do PIB. Por que trabalhos familiares e domésticos (que sempre caem nas costas das mulheres) não fazem parte dessa conta?, se perguntam. Por que a economia do cuidado (das crianças, dos idosos, dos doentes) não é contabilizada como uma força de produção?

Para elas, a nova economia tampouco está livre do machismo. Uma corrente de pesquisadoras sugere que se avalie os impactos da economia digital e de compartilhamento sob uma lente de gênero. Trabalhar como motorista de carros de aplicativos, por exemplo, é diferente para homens e mulheres. Como essa precarização nos afeta? Quanto a sociedade perde por não haver um suporte para essas trabalhadoras quando engravidam? São perguntas para as quais ainda não temos respostas e só teremos quando houver mais economistas mulheres se debruçando sobre os dados – sem dúvida, um sinal de desenvolvimento.

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