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terça-feira, 9 de outubro de 2012


Dever de casa e tarefa da escola

Professor particular, professor tutor, tia, avó que foi professora, horas obrigatórias de estudo etc. etc. etc.

Pai e mãe que chegam do trabalho e, em vez de se dedicarem ao relacionamento com o filho, vão estudar junto com ele. No início, com paciência para explicar tudo nos mínimos detalhes. Pouco tempo depois, sem paciência alguma e, não raramente, chegando aos gritos com o filho.

Tudo isso porque estamos chegando ao final do ano letivo e muitas crianças, por causa das notas, estão a perigo tanto do ponto de vista da escola quanto do ponto de vista dos pais.

Alguns pais me disseram que irão fazer o filho --e falo de crianças com menos de 11 anos-- estudar todos os dias com professores particulares para "recuperar" toda a matéria dada desde o início do ano. Só assim, me disseram, o filho conseguirá aprender a matéria apresentada agora, já no último bimestre.

Tenho pena dessas crianças. Em primeiro lugar, porque pais e escolas pensam que o processo de aquisição de conhecimento é igual ao de escalar um morro: antes de chegar ao topo seria preciso dar muitos passos.

Não: já sabemos há muito tempo que o conhecimento não exige pré-requisitos, ou seja, não é preciso aprender determinados temas para chegar a outros.

Essa ideia está ultrapassada, tanto quanto nossa organização escolar seriada que agrupa os alunos por idade.

Como diz Ken Robinson, autor inglês que trata da criatividade e da inovação em educação, a data de fabricação das crianças não é o que as agrupa quando se trata de aprendizagem do conhecimento. São seus ritmos e modos de aprendizagem.

Em nosso país, o mantra de que os pais zelosos devem acompanhar os estudos dos filhos não é questionado, tampouco problematizado.

Ponto para a nossa ideologia escolar, que consegue, desse modo, delegar aos pais tarefas que são da instituição de ensino. E como tem escola reclamando que os pais delegam a elas suas responsabilidades, não é?

O fato é que com a família em transição e a escola congelada seria preciso rediscutir as funções de ambas e, inclusive, criar as bases do que poderíamos chamar de "parceria escola-família".

O que os pais podem fazer para ajudar o filho que precisa reagir em sua vida escolar? Eles podem, por exemplo, ajudá-lo a entender que conhecimento exige esforço.

Uma ótima atitude a se tomar é organizar o dia do filho para que ele tenha horários de estudo --entre outras coisas-- e um local para fazer isso longe das tentações que costumam ser estimulantes para ele.

Insistir para que o filho "grude a bunda na cadeira" até conseguir estudar e focar sua atenção é outra atitude favorável que complementa a primeira.

Nem a escola ensina isso. Basta o estudante experimentar alguma dificuldade que ele pede para ir ao banheiro, tomar água etc. E a escola permite, ou seja, não ensina que aquela dificuldade pode ser superada com esforço e concentração.

Conversar com o filho a respeito da matéria que ele estuda, fazer perguntas que a escola não faz, ajudar o filho a fazer relações entre o tema e a vida ou mostrar a ele algumas dessas relações também incentivam bastante a criança a entender o que é que ela estuda, afinal.

Sim, os pais podem, como nós acabamos de ver, ajudar o filho em sua vida escolar, mas não como se fossem eles os professores. Podem ajudar como pais, que nem sequer precisam saber o conteúdo das lições.

Se não fosse assim, como é que tantas pessoas com pais analfabetos conseguiriam estudar?

Os pais devem ajudar ensinando a atitude diante do estudo. Simples assim. Mas é algo tão difícil de realizar quanto simples.

Rosely Sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. É autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre outros. 

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