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quinta-feira, 11 de outubro de 2012


"É preciso levantar da cadeira para fazer acontecer"

EcoD
Crítica inteligente: de forma criativa, membros da Shoot the Shit fazem das ruas esburacadas de Porto Alegre um "paraíso do golfe". Foto: Divulgação

Você sofre com os buracos das ruas e avenidas de sua cidade? Que tal utilizá-los para jogar golfe? O ponto de ônibus que você usa não mostra as linhas com os itinerários que passam por ele? Por que não colar adesivos para informar? Está sedentário (a)? Dar uma malhadinha enquanto espera o coletivo pode ajudar.
Pode até parecer surreal, mas isso e muito mais já foi feito aqui no Brasil, por três jovens que moram em Porto Alegre. Insatisfeitos com a situação da cidade, eles resolveram “levantar a bunda da cadeira” para criar a organização Shoot the Shit – um verdadeiro sucesso desde então, quando o assunto é o desenvolvimento do lugar em que se vive por meio do engajamento local.
O EcoD conversou com o co-fundador do coletivo, o jovem publicitário Gabriel Gomes, que foi um dos palestrantes do TEDx Pelourinho, realizado em 22 de setembro em Salvador, Bahia. Os demais integrantes são Luciano Braga e Giovani Groff.
O trio responsável pela Shoot the Shit: Gabriel (à esq.), Luciano Braga (centro) e Giovani Groff. Foto: Divulgação
Portal EcoDesenvolvimento.org - Quando foi que vocês tiveram a ideia de criticar o problema dos buracos nas ruas de Porto Alegre jogando golfe?
Gabriel Gomes - Essa é uma pergunta que adoramos responder (risos). Foi bem ao acaso. Alimentamos nossa criatividade com elementos não tão próximos. Eu havia feito uma viagem na qual eu comprei um taco de golfe. Não havia muito sentido nessa aquisição, mas achamos um. Dois amigos e eu trabalhávamos em uma agência de publicidade, mas estávamos um tanto frustrados, porque o fruto de nossa criatividade não ia para às ruas. Criamos a Shoot the Shit em 2010 para fazer dela o espaço que quiséssemos – fazer os projetos acontecerem. Estávamos os três em uma festa. No meio da balada, conversamos que a cidade não estava legal e que precisávamos fazer alguma coisa.
EcoD – O vídeo do projeto “Paraíso do Golfe” já tem mais de 80.000 visualizações no Youtube. A repercussão das demais ações do coletivo também supera as expectativas?
GG – Sim. A galera curte muito. E nos apoia a continuar com novos projetos. Já temos sete ações ao todo. A repercussão é o que há de melhor, porque não são problemas que só nós identificamos, mas que atingem a população de Porto Alegre e de praticamente todas as demais cidades do Brasil. Recebemos mensagens de todo o país, do tipo: “Ah, aqui em Belo Horizonte, Fortaleza, tem muito mais buracos”.
Pensamos até em fazer um “circuito brasileiro de golfe” (risos). O mais legal é mostrar os problemas de modo criativo. Poderíamos comprar cimento e tapar os buracos, mas resolvemos fazer diferente – vai ver por isso chame tanto a atenção.
EcoD – Você chegou a relatar que os buracos foram tapados depois da ação, mas que o problema continuou depois…
GG – Verdade. Em poucos dias, novos buracos surgiram próximos aos que foram cobertos. Concluímos, portanto, que o sistema está errado. Nossa organização está ancorada em três pilares: Inteligência, Criatividade e Fazer o Bem. Se comprássemos o cimento, estaríamos usando só dois deles: inteligência e fazer o bem.
A criatividade serve para uma “quebra de gelo” em relação a se aproximar das pessoas. “Putz! Os caras estão protestando. Mas protestam de uma forma legal, então, simpatizei com eles”.
Adesivos com espaço em branco para a população colaborar, indicando qual linha passa no ponto de ônibus. Foto: Divulgação
EcoD – Já na ação “Que Ônibus Passa Aqui”, embora a população tenha reagido positivamente, o mesmo não pode se dizer da prefeitura, que chegou a acusá-los de vandalismo… Como vocês lidaram com tal situação?
GG – Apresentamos essa ideia a alguns amigos antes de implantá-la. Eles respondiam: “Cara, vocês são malucos. As pessoas vão usar os espaços em branco dos adesivos para escrever palavrões, desenhar besteiras”. Bem, eles se enganaram. As pessoas não foram o problema, e sim a burocracia.
Logo que saiu a matéria no jornal Zero Hora ficamos muito chateados. Como é que a colagem de adesivos que estão informando as linhas que passam nos pontos acaba enquadrada no mesmo tipo de vandalismo do cara que quebra esses equipamentos, promove a pichação? As pessoas no Facebook questionavam: “Como assim, se vocês estão fazendo o que a prefeitura deveria fazer?”.
Devido a tamanho apoio, a prefeitura começou a ceder e acabou abraçando o projeto [hoje há adesivos oficiais nos pontos, inspirados na iniciativa da Shoot the Shit]. A própria população participou e usou os adesivos para escrever as linhas passantes.
EcoD – E como ficou a situação do projeto no site colaborativo Catarse?
GG – Queríamos ao menos conseguir R$500,00 para financiar o projeto, mas conseguimos mais de R$1.700,00. Como a prefeitura resolveu abraçá-lo, comunicamos aos doadores que sobravam duas opções: devolvermos o que nos foi doado ou continuarmos com a grana para ajudar a desenvolver nossas demais ações.
Cerca de 98% não fez questão do reembolso dos recursos – apenas duas pessoas quiseram o dinheiro de volta, sendo que elas haviam doado algo em torno de R$20,00.
EcoD – Além desses dois projetos já bastante conhecidos, quais são as demais ações do coletivo?
GG – Tem uma que se chama “Salve uma Vida, Apague seu Cigarro” – adesivos colados que lembram cigarros apagados; “Mexa-se”, pois várias pessoas reclamam que não têm tempo para o exercício físico. O que nós fizemos foi levar o exercício físico para o tempo delas. Pegamos um equipamento e o colocamos ao lado de um ponto de ônibus, que é quando o cara está realmente sem fazer nada (até porque os ônibus costumam demorar).
“Não Deixe a Cultura Gaúcha Morrer” – criamos um painel gigante com uma poesia de Mário Quintana e o colocamos em uma parte abandonada da cidade [no quarto distrito, área industrial]. E tem o “Tá com Pressa?”, que é um adesivo voltado para a sinalização. Tem uma passarela que liga dois pontos da faculdade PUCRS, que vira um verdadeiro caos no horário de pico. Indicamos o seguinte: “Tá com pressa? Anda por aqui. Tá sem pressa? Anda pelo lado direito”. Já vimos a diferença assim que colocamos o adesivo no chão. Também tem a #Poa Precisa, para que as pessoas manifestem o que a cidade necessita.
EcoD – A prefeitura não procurou vocês ainda para aproveitar essas ideias?
GG – Procurou, mas eles querem que façamos todo o trabalho para eles (risos). Aí não funciona. Ainda não sinalizaram com nenhum aporte, mas vamos tentar trabalhar nesse sentido para continuar fazendo que a gente curte, sem ter que ser uma atividade paralela.
EcoD – Vocês se inspiraram em alguma experiência?
GG – Não. Nossas ideias são originais. Inclusive, não temos conhecimento de iniciativas semelhantes mundo afora. Mas estamos nos relacionando com outras organizações com boas ações. Para quem quiser nos conhecer melhor, temos uma página no Facebook e um site.
EcoD – Quais são as perspectivas da Shoot the Shit?
GG – Estamos com uma campanha de educação forte. Queremos mostrar os nossos projetos nas escolas e fazer um workshop com os jovens para ver o que eles encontram de problemas e soluções. Tentar ligar essa chavezinha na cabeça das crianças desde cedo, preocupação com a cidade, não jogar lixo na rua, algo assim.
Acreditamos que vai dar certo. As pessoas não oferecem resistência aos nossos projetos. Elas oferecem ajuda financeira, de força bruta para carregar alguma coisa. É por isso que eu tenho fé no mundo. Tem mais pessoas boas do que ruins.
Até aqui nós só conseguíamos nos reunir na hora do almoço ou depois do expediente. Mas agora estamos começando a trabalhar em full time. Assim, penso que conseguiremos mobilizar mais. Em breve, uma Shoot the Shit poderá estar mais perto de você. Estamos amadurecendo isso. Pensamos em estender o projeto para todo o Brasil, mas com outras pessoas o exercendo, com a nossa curadoria.

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