so2 “Mulheres e meninas na frente e no centro”
Babatunde Osotimehin, diretor-executivo do UNFPA.
Foto: Malgorzata Stawecka/IPS

Nova York, Estados Unidos – As previsões da Organização das Nações Unidas (ONU) de que a população mundial chegará a nove bilhões de pessoas em 2050 colocam, mais do que nunca, a necessidade de acabar com a pobreza, assegurar bons sistemas de saúde, acesso à educação e inclusão social.
“O assunto demográfico é um tapete, mas não é só questão de crescimento, há outras coisas a atender”, disse à IPS o diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Babatunde Osotimehin. “E aceitarei o desafio do que chamo de constante da vida”, acrescentou.
Por ocasião do lançamento da iniciativa global do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, Educação Primeiro, Osotimehin explicou como os Estados-membros do fórum mundial, junto com o UNFPA, se preparam para enfrentar os desafios que implica uma população mundial de nove bilhões de pessoas.
IPS: Qual será o principal objetivo do UNFPA no ano que vem: envelhecimento, planejamento familiar ou crescimento populacional nos países em desenvolvimento?
Babatunde Osotimehin: Atenderemos duas pontas. Primeiro os jovens em idade reprodutiva ou na fronteira dela. Já que a maioria reside nos países em desenvolvimento, onde a população ainda cresce com rapidez, nós, enquanto Fundo de População, trabalhamos com os governos para atender temas de educação sexual, em geral com as meninas, para garantirmos que lhes damos todas as possibilidades para desenvolverem seu potencial. Os serviços de saúde reprodutiva estão incluídos no plano e trabalhamos com os governos para implantar políticas que garantam os direitos das pessoas escolherem sem coerção. Se isso for conseguido, pode-se diminuir o crescimento da população. Já o fizemos em muitos países, e com sucesso. Seguir adiante com um enfoque baseado em direito e oferecer serviços educacionais é o correto. Mas, isto é apenas uma parte. Também há a discussão do envelhecimento, pois os países se encolhem em termos de população. A produtividade pode se ressentir, já que haverá menos jovens do que adultos. Atualmente, uma em cada nove pessoas tem mais de 60 anos. Mas em 2050 a proporção será de uma em cinco. Temos que estar conscientes disto. Para implementar políticas sociais consideramos o que o envelhecimento representa para a produção, a gestão de serviços, o emprego, as políticas e os serviços sociais, de saúde, moradia e educação.
IPS: Acredita que a atual crise econômica, especialmente a da Europa, tenha um impacto negativo no financiamento de programas de população no mundo?
BO: A crise pode afetar o financiamento dos programas de população porque não sabemos quanto vai durar. Alguns doadores foram afetados, mas, com sorte, serão encontradas soluções na zona do euro e começaremos a ver a diferença em termos de assistência ao desenvolvimento. Contudo, creio que é hora de ver os sistemas de desenvolvimento com uma lente totalmente diferente. Por exemplo, o que fazer com o “acordo de Busan” para que, de fato, envolva a cooperação Sul-Sul, mais do que assistência neste sentido, na área técnica, modalidades que incidam no processo de desenvolvimento, que não dependam totalmente de dinheiro. Por fim, também exortar as economias emergentes a participarem da agenda para o desenvolvimento mediante a cooperação Sul-Sul e assegurando que estas experiências ocorram em várias regiões e no mundo. Provavelmente, é isso o que vai acontecer.
IPS: O programa de ação adotado na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo em 1994, vai completar 20 anos em 2014. Espera um novo encontro internacional a título de acompanhamento?
BO: Não haverá uma conferência internacional, mas uma reunião de alto nível na ONU. Creio que vamos revisar o que conseguimos em relação ao processo do Cairo, e em 2014 teremos o informe do secretário-geral a respeito e enfocando saúde reprodutiva baseada em direitos, mas, basicamente, também identificaremos o que falta, onde temos que avançar. Poderemos usar isso para levar nossa agenda, porém, o mais importante, também para marcar a agenda para o desenvolvimento de 2015, pois a saúde reprodutiva e os direitos das mulheres e meninas devem estar à frente e no centro para que possamos avançar.
IPS: Quais os êxitos e os fracassos da Conferência. Os objetivos foram alcançados? Se não, qual é o déficit?
BO: Não foram atingidos os objetivos em termos de financiamento. Não posso dizer exatamente qual é o déficit, mas tivemos avanços. Como pode ver, houve um enorme aumento em matéria de educação de mulheres no mundo. Também pudemos oferecer educação sexual em muitos países e melhorar as políticas ambientais sobre saúde reprodutiva. Além disso, registramos aumento no gasto dos próprios governos nesta área. Naturalmente, restam muitos desafios, com resistência a certas questões femininas para garantir os direitos e a saúde reprodutiva, mas penso que tivemos, no geral, progressos.
IPS: Quanto à Educação Primeiro, que papel caberá ao UNFPA?
BO: O papel da agência será destacar a perspectiva única que daremos à educação. a) No que diz respeito à educação de meninas, que é crucial para o desenvolvimento nacional; b) Insistir para a educação ser global e incluir educação sexual integral; c) Avançar no empoderamento de jovens e dar-lhes capacidade para participarem de forma efetiva no desenvolvimento nacional. Há alguns dias disse que os jovens são o futuro, e, então, me disseram: “Não, estamos aqui. Não somos o futuro, somos o hoje”. E isto é verdade. As mudanças que aconteceram no norte da África foram protagonizadas por jovens, e isto ocorre em todo o mundo. Todos enfrentamos desafios, mas é importante saber como podemos garantir que os jovens participem da conversação e que se vejam como parte da solução, não do problema. Envolverde/IPS