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segunda-feira, 1 de outubro de 2012


Primeira infância saudável evita doenças crônicas na vida adulta

Negligenciar primeiros anos de uma criança também pode causar deficiência neuronal

ANGIELI MAROS, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO

Garantir um bom desenvolvimento durante a primeira infância (0 a 6 anos, conforme definido pelo Ministério da Saúde – MS) diminui as chances de aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta. Colesterol, doenças cardíacas, obesidade, diabete tipo 2, hipertensão e osteoporose são exemplos de enfermidades que podem ser evitadas desde a gestação, conforme mostra um estudo do epidemiologista inglês David Barker, com conclusões mundialmente reconhecidas pela comunidade científica.
“Há mais de 20 anos, o doutor Barker partiu da hipótese de que crianças que nasciam com baixo peso tinham mais infartos ou problemas do coração quando adultas. A partir daí, ele levantou outra hipótese que mostrava que algumas doenças crônicas de adultos tinham origem fetal”, explica o epidemiologista e coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança Nelson Arns Neumann. “Já se sabe que as crianças que têm algum tipo de sofrimento durante a gestação têm mais chance de desenvolver alguns tipos de doenças na vida adulta.”
Estímulos
Algumas atividades podem – e devem – ser amplamente difundidas entre as crianças para melhorar o desempenho cognitivo ao longo da vida. Confira:
• Contato com o chão: principalmente no primeiro ano de vida, os pais têm de deixar a criança no chão para que ela possa construir seu esquema corporal e desenvolver o campo psicomotor. É importante que ela tenha acesso a brinquedos com os quais possa observar a reação do objeto depois da ação dela, como uma bola.
• Jogo simbólico: até os seis anos de idade o jogo simbólico, ou a brincadeira do faz de conta, é uma das principais atividades da criança. Brincar de ser mamãe, super-herói, professor e outros personagens é um mecanismo que ela usa para aprender sobre o mundo e elaborar as dificuldades com as quais vai se deparar no futuro.
• Brincadeiras corporais: jogar bola, correr, subir, descer. Os pais não precisam ter medo de deixar os filhos livres para explorar o mundo. Machucar-se faz parte do crescimento. Atividades como essas ajudam as crianças a se expressarem com o corpo.
• Contar histórias: ler uma história para a criança é muito importante, pois desenvolve, dentre outras coisas, a imaginação.

Fonte: Maísa Pannuti, psicóloga especialista em educação e professora da Universidade Positivo.
Progressão do cérebro
No primeiro ano de vida, o cérebro de um bebê realiza aproximadamente 15 mil conexões entre seus neurônios. Aos seis anos, esse número sobe para a casa dos trilhões, o que revela um aumento imenso nas sinapses e, consequentemente, no desenvolvimento cerebral durante a infância, esclarece o pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Pediatra Eduardo Vaz.
Conforme o neuropediatra do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professor do departamento de Pediatria da mesma universidade Sérgio Antonio Antoniuk, é devido a essa alta do desenvolvimento cerebral durante a infância que a criança precisa ser estimulada para favorecer a aprendizagem. “Todas as crianças deveriam receber estimulação em casa e, se isso não for possível, é importante que ela frequente creches, com crianças da mesma idade. Ela precisa de estímulos visuais, auditivos, motores, porque não vai aprender tudo sozinha.”
Tamanhos médios do cérebro ao longo da vida
O máximo do desenvolvimento cerebral ocorre até os quatro anos de idade, esclarece Antoniuk. Veja como se dá progressão:
• Recém-nascido: 300 gramas 
• Um ano: 1 quilo 
• Quatro anos: 1,250 quilo 
• Adulto: 1,4 quilo


Fonte: Sérgio Antonio Antoniuk, neuropediatra do Hospital de Clínicas da UFPR e professor do departamento de Pediatria da mesma universidade.
Algumas justificativas para isso são velhas conhecidas: o uso de cigarros, drogas e álcool durante a gravidez, pressão alta e diabete desenvolvidos pela mãe nesse período. Outras são mais recentes, porém não menos prejudiciais, como a recusa insensata da gestante em engordar – o que deixa o bebê subnutrido –, a maternidade cada vez mais tardia e, principalmente, a antecipação do parto por causa da cesárea.
De acordo com o Minis­tério da Saúde, crianças que nascem duas semanas antes da data ideal têm 120 vezes mais chances de ter problemas respiratórios. Para Neumann, a antecipação do parto sem necessidade representa erro ou incompetência médica. “Existem casos em que você precisa fazer [o parto] antes, claro, mas em geral o médico vai acompanhando dia a dia, deixa o maior tempo possível dentro da barriga da mãe, porque, mesmo para a criança doente, a melhor UTI é dentro da barriga da mãe”, salienta.
Primeiros anos
Apesar de decisiva, a vida intrauterina não é a única que define o surgimento das doenças. Mesmo após o parto, durante os primeiros anos da criança, os pais precisam ficar atentos ao desenvolvimento dos filhos para evitar problemas futuros. Segundo o pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Pediatra, Eduardo Vaz, negligenciar essa fase, além de contribuir para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis também pode causar deficiência neuronal. “Crianças com menos suporte têm a região do hipocampo [responsável, sobretudo, pelas funções relacionadas à memória] diminuído, e isso faz com que elas fiquem mais sujeitas a transtornos de depressão e ansiedade quando se tornarem adolescentes”, completa.
Apego, atenção e afetividade são essenciais
Contribuir para uma evolução saudável durante a primeira infância requer mais do que manter rotinas de cuidados com a saúde. Para o professor do curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em desenvolvimento infantil Mauro Luís Vieira, apego, atenção e afetividade são essenciais. “A criança precisa da vinculação, e nada vai substituir a atenção dos pais. Como a maioria dos pais e mães trabalha fora, os poucos momentos que passam com a criança têm de ser intensivos, para que haja afetividade”, explica.
Além disso, o período inicial da vida molda o comportamento da criança. É nessa época que os pais precisam encarar a responsabilidade de impor limites. Segundo Vieira, esse é um grande problema da família atual, uma vez que vários pais e mães não têm ideia das consequências que pode causar a falta do “pulso firme” e não sabem como lidar com a situação adequadamente.
Medo
De acordo com o pediatra do Hospital Pequeno Príncipe Cícero Kluppel, a falta de imposição, que pode ser nociva para o desenvolvimento dos filhos, acontece muitas vezes porque a família tem medo de reprimir a criança. “Saímos de uma fase em que o limite era extremo e fomos para uma geração em que se permite tudo. Essa geração não está conseguindo colocar limites por medo de estar passando da conta”, explica.
No entanto, o pediatra ressalta que o limite não deve ser desconsiderado quando o assunto é comportamento, pois tal atitude traz segurança para a própria criança. “Quando há rotina, que é um tipo de limite, o filho passa a se sentir seguro porque sabe o que vai acontecer. Sem rotina, a criança vai criar mecanismos para chamar a atenção, vai agir com birra exacerbada.”

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