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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Até choque elétrico é melhor que não fazer nada

Por que somos obcecados por entretenimento? Uma curiosa pesquisa explica

CRISTIANE SEGATTO

04/07/2014

Se eu encontrasse o gênio da lâmpada dando sopa por aí, gastaria dois dos meus três desejos para garantir o que há de mais precioso neste mundo hiperconectado. Pediria tempo e silêncio. Abriria mão de um diamante para ter a garantia vitalícia de agarrar essas duas raridades sempre que sentisse vontade.

Em maior ou menor intensidade, esse é um sentimento generalizado. Estamos sendo triturados e engolidos por nossas agendas ao som de um falatório sem fim. O pancadão de opiniões ruidosas cansa. Estressa. Faz adoecer. Às vezes, dá vontade de estalar os dedos e se abrigar num refúgio bem particular.

Quem nunca desejou ficar quieto, pensando na vida? Eu já. Muitas e muitas vezes. O que me surpreendeu nesta semana foi descobrir que talvez isso não seja exatamente verdade. Um curioso estudo publicado nesta sexta-feira (4) na revista Science  demonstrou que pessoas preferem até mesmo receber pequenos choques elétricos a ficar sozinhas com seus próprios pensamentos.

Esquisito? Nem tanto. A equipe do professor de psicologia Timothy Wilson, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, conduziu onze experimentos com voluntários entre 18 e 77 anos. Concluiu que a maioria não suporta passar sequer quinze minutos sozinho numa sala, sem ter nada para fazer.

Antes do início de um dos testes, os voluntários experimentaram na sala um aparelho que emitia pequenos choques elétricos. Antes de fechar a porta, os pesquisadores disseram aos participantes que eles ficariam sozinhos, com tempo para pensar na vida ou sonhar acordados.

Em pouco tempo os voluntários começaram a se mostrar impacientes. A maioria preferiria estar do lado de fora, ouvindo música ou mexendo no smartphone. Uma grande parcela – 67% dos homens e 25% das mulheres – resolveu meter o dedo no aparelho que emitia choques só para ter algo para passar o tempo.

“Foi uma surpresa perceber que nem os mais velhos gostam muito da ideia de ficar sozinhos com seus próprios pensamentos”, disse Wilson. Segundo ele, a enorme oferta de aparelhos eletrônicos e o ritmo acelerado da vida moderna não são as causas da aversão humana à falta do que fazer.

Pelo contrário. Para Wilson, as pessoas usam e abusam de smartphones e outros produtos tecnológicos porque sentem uma enorme necessidade de entretenimento. Ele ressalta que estudos anteriores já haviam demonstrado que, em geral, as pessoas não gostam de se sentir desconectadas do mundo.

“A mente é projetada para estar ligada ao mundo”, afirma Wilson. “Mesmo quando estamos sozinhos, nosso foco quase sempre está no mundo exterior”. Sem um treino de meditação ou de qualquer outra técnica de controle dos pensamentos, o que é difícil de alcançar, a maioria das pessoas prefere estar envolvida em atividades externas.

O corpo pede preguiça, mas o que o cérebro quer não é exatamente sossego. Uma praia vazia é meu ideal de tranquilidade. Mal posso esperar para curtir o silêncio e sentir o cheiro do mar enquanto a areia estiver aquecendo minhas costas.

Quando esse dia chegar, os músculos estarão de folga, mas o cérebro vai procurar o que fazer. Ficará intrigado com a força da formiguinha que transporta uma folha maior que ela ou se divertirá imaginando o que acontece, naquele exato momento, dentro do navio que cruza o horizonte. Não nascemos para não fazer nada. Precisamos de ação e entretenimento, mas precisamos saber escolher para onde vale a pena levar nossa mente.

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