Essa é a primeira edição d'O Papo com a Camila Achutti
Luciano Andolini
Luciano Andolini
O Papo é um velho sonho que rola aqui no PapodeHomem, uma série regular que traga as pessoas que colocam a mão na massa nas mais diversas áreas para ter uma conversa real sobre aquilo que importa. Resumindo ao mínimo necessário, é isso.
Antes de qualquer coisa e sem delongas, a primeira edição, com a Camila Achutti:
Sócia-fundadora da Ponte21, influenciadora digital na FIAP e é uma das líderes do movimento por igualdade de gênero no mercado de TI.
Criou o blog Mulheres na Computação e trouxe ao Brasil o Technovation Challenge Brasil, desafio de empreendedorismo e tecnologia só para meninas, do qual hoje é embaixadora.
A Camila é uma dessas pessoas que desenvolve uma visão toda particular a respeito daquilo que faz.
Sua gana de tornar acessíveis os conhecimentos do letramento digital tanto para mulheres quanto para pessoas que estão mais afastadas e sua posição como mulher no mundo do empreendedorismo, tecnologia e educação acabou por ser um trampolim de transformações e insights.
Aqui embaixo tem algumas falas destacadas, mas no vídeo tem muito mais.
Além disso, para quem não pôde comparecer ao Papo, disponibilizamos pra download aqui o áudio na íntegra da conversa.
Sobre entrar no mundo da tecnologia (0:35)
"Eu entrei no mundo da tecnologia por uma questão de gênero, pra saber como a tecnologia, desenvolvimento, inovação poderia ser appealing pras meninas. E aí você começa a entrar no Brasil, que são tantos dentro do Brasil, e você percebe que o buraco é mais embaixo. Não são só meninas, é todo mundo, mas todo mundo tem smartphone, todo mundo poderia ser um agente de transformação, só não foi exposto a isso."
Sobre o acesso à tecnologia em comunidades distantes no Brasil (1:10)
"Essa experiência do barco foi muito maluca, foi maior perrengue pra chegar. E, de fato, é fisicamente difícil chegar lá. A conexão é complicada, você tem que entrar num barco, a conexão é rádio, mas ainda assim, o smartphone chegou lá. Então a gente tem que se valer disso, nem que seja pra levar educação de qualidade, independente da matéria.
E o exemplo que eu conto, pra fazer uma comparação é: ninguém me perguntava o que era um celular, o que era internet, o que era Facebook, Whatsapp. Mas quando eu dei um exemplo pra explicar o que era um procedimento e eu usei uma geladeira, ficou todo mundo em silência por que não tinham entendido meu exemplo. Ninguém tinha geladeira. A galera vive de caça, eles não tem geladeira.
Aquilo parece que caiu uma pedra na minha cabeça. O brô tem um celular na mão que conecta ele com o mundo e ele não tem geladeira em casa. Olha o nível de capilaridade que a gente chegou. A gente só precisa querer chegar lá, porque até agora eu não vi ninguém querer."
Sobre a educação tecnológica para crianças (3:20)
"Quando uma criança nasce, a gente não pergunta se ela quer aprender a ler e escrever. A gente simplesmente entende que desde o século XIX, ler e escrever é importante pra que ele sobreviva em sociedade. No século XXI, eu entendo que talvez a gente não tenha que perguntar se uma criança quer aprender a programar, se ela quer entender como um computador funciona, como um aplicativo é construído, porque isso é um conhecimento essencial."
Tecnologia, mulheres e posições de liderança (5:39)
"Quando você aprende a ler e a escrever, eu não estou te obrigando a ser roteirista, a ser escritor, a ser editor. Não estou te obrigando a trabalhar com comunicação diretamente. Eu entendo que essa é uma ferramente importante pra você. Ponto final.
E daqui pra frente, você ter esse mínimo de letramento digital vai te diferenciar em qualquer profissão.
Eu acho que esse lance da liderança, da inovação, de liderar movimentos, quando você tem uma formação tecnológica, ainda que não seja profissional, um conhecimento tecnológico das possibilidades, isso abre muitas portas.
E o fato das meninas desde pequenas se distanciarem disso faz com que elas percam oportunidade no mercado de trabalho como um todo, na liderança como um todo. É por isso que eu acho que a gente tem que não só inserir as meninas nessa área tecnológica, mas não fazer elas terem medo."
Conselho para quem está começando na tecnologia, especialmente mulheres (13:16)
"Não se impor um padrão é muito forte. Você não deixar que ditem as suas regras é muito forte pra mim. Eu lembro até hoje como era a relação que eu tinha com como roupa, maquiagem, essas coisas externas. No meu primeiro ano eu só queria ser igual a todo mundo. Eu só queria ser igual àqueles 45 meninos que na minha cabeça eram um padrão.
E não me encaixar nesse padrão era o diferencial. Era o que de fato ia fazer diferença na minha vida.
As grandes inovações nascem da curva, da pessoa que foi lá, olhou um sistema, olhou um padrão e não seguiu ele. E aí ela achou outro que era dez vezes melhor.
Então, acho que não seguir padrões impostos é muito forte, mas ao mesmo tempo eu acho um conselho mega cruel. Não é fácil não seguir o padrão. É muito difícil."
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