17/04/2016
Meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Paulo Nobre é um dos mais conhecidos cientistas brasileiros. Entretanto, a mensagem principal que ele levou para a II Feira da Sustentabilidade, que acontece até este sábado, dia 16 de abril, em Piracicaba, não tem, aparentemente, relação com o tema do evento. “A construção de uma nova sociedade depende de que a ciência considere a condição espiritual humana e que haja uma profunda relação de respeito, amorosa mesmo, da pessoa consigo mesmo, com outras e com a vida em geral”, afirmou Nobre, em uma das 50 atividades da programação da Feira, sediada na Casa do Marquês, no bairro Monte Alegre. Ele participou de uma conversa com Fabiola Zerbini, do Instituto Kairós, com a mediação da jornalista Maria Zulmira de Souza, idealizadora do Repórter Eco, da TV Cultura.
Em outras palavras, a mensagem que o cientista levou para Piracicaba tem, sim, muito a ver com a temática geral da Feira. Para Paulo Nobre, existe um falso divórcio entre respeito ao meio ambiente, aos fluxos da natureza, e o viver em sociedade. “O respeito à natureza, a proteção da biodiversidade, começam no respeito do ser humano consigo mesmo e com os outros seres humanos. A justiça social está intimamente ligada com a questão climática”, afirmou o cientista, citando um dos paradigmas que, na sua opinião, devem ser modificados na edificação de uma nova sociedade.
As relações entre o ser humano consigo mesmo, com outros humanos e a natureza, acrescentou, são relações amorosas, não pode ser diferente. “Respeitar a vida é amar”, sintetizou Nobre, destacando que, infelizmente, o que tem ocorrido é o contrário, o desrespeito, a morte. “Ninguém acorda pensando no mal que fará ao outro naquele dia. Todos querem chegar no final do dia se sentindo felizes. Então, por que ocorrem a violência, a degradação ambiental?”, se perguntou.
O cientista entende que uma possível resposta a essa indagação crucial pode ser “a falta de propósito, de sentido” em muitos modelos de sociedade. “Se apenas a riqueza, o bem estar material, trouxesse felicidade, não haveria altos índices de suicídio nos países ricos”, observou. “É preciso um propósito, o ser humano refletir sobre o seu papel, sobre o que é viver coletivamente, o que é de fato ser próspero”, salientou.
Outro ponto fundamental, advertiu, diz respeito ao papel onipresente da ciência nas sociedades industrializadas contemporâneas. “A ciência tem ignorado a condição espiritual humana. E espiritualidade não se refere apenas e exclusivamente a religião. Nem é preciso irmos para a física quântica para constatar isso. Hoje muitos cientistas dão explicações científicas para o fato de que a espiritualidade é fundamental”, ressaltou o meteorologista do INPE.
Paulo Nobre também está convicto de que as mudanças serão aceleradas, quanto mais o cidadão perceber que ele pode fazer a diferença, não precisa esperar ações dos governos e instituições em geral. “Muitos se perguntam o que podem fazer em relação às mudanças climáticas, que parecem algo tão grande, tão distante. A questão das mudanças climáticas será resolvida quando todas as crianças tiverem escola, quando cada um estiver pensando no que fazer pelas futuras gerações. E isso independe de governos”, defendeu o cientista, para uma plateia composta por ambientalistas, estudantes, empreendedores sociais. Uma importante reflexão, na II Feira da Sustentabilidade, organizada pela Casa do Marquês, Casa da Floresta Assessoria Ambiental e Instituto Casa da Floresta. (Por José Pedro Martins)
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