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terça-feira, 19 de abril de 2016

#MeProcessaFael: Caso de estupro na Bahia em que vítima é processada traz discussão sobre denúncias de violência sexual à tona


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Mulheres levantaram a voz nas redes sociais nesta última semana com a hashtag#MeProcessaFael, que faz referência ao caso de Sofia Costa, que denunciou o cantor Fael Primeiro por estupro. O crime, segundo Sofia, aconteceu no Carnaval de Salvador em 2015.
Sofia foi processada pelo cantor, que a acusa de calúnia e nega todas as acusações de estupro. Atualmente, por causa de uma transação penal para impedir que tal processo fosse adiante, a vítima cumpre 7 horas semanais de serviços comunitários.
Enquanto o cantor teve espaço até mesmo na mídia local para se defender das acusações.
Na última semana, Sofia veio a público para dar a sua versão da história que, até então, não tinha sido divulgada pelos jornais da Bahia. Ela publicou um relato, desmistificando, ponto a ponto, o que foi escrito por um dos sites de notícias.
Ela começa:
"Tenho perguntas a serem feitas e gostaria de respostas, antes de mais nada. Hoje o meu nome inteiro, completinho, foi divulgado em uma notícia do Bahia Notícia. Essa matéria, noticia, seja lá o nome que se dá para isso, foi com a seguinte chamada “Jovem cumpre pena alternativa após denunciação caluniosa contra Fael Primeiro”, e então preciso esclarecer e tentar entender o que está sendo dito nela, vamos lá"
Em seguida, ela afirma:
"O que me deixa indignada, chateada, destruída (mais do que eu já estou), é perceber que um monte de mulher não consegue acreditar na minha palavra. É saber que tem muita gente do meio artístico de Salvador que mantêm amizades com homens que “supostamente” cometem vários assédios, dos menores aos grotescos, por eles terem alguma influência em uma cidade infelizmente ainda provinciana como a nossa."
E esclarece:
"Eu aceitei fazer o trabalho social justamente por isso, e também por estar cansada! Eu estou EXAUSTA! Eu preferi passar pelo serviço comunitário por isso, para não passar por um processo longo e doloroso, já chega de sentir tanta dor."


A publicação viralizou e a hashtag #meprocessafael foi criada para dar visibilidade ao assunto nas redes sociais:

culpabilização da vítima e a falta de credibilidade em denúncias de abusos sexuais, psicológicos e de estupro não é algo que se limita ao caso de Sofia.
A página do Facebook Think Olga fez uma postagem sobre o assunto, neste sábado (16), relatando diversos casos de estupro e abuso sexuais sofridos por mulheres, desde 1991, que não tiveram desfechos positivos -- seja pelas mulheres serem deslegitimadas na mídia ou na justiça.
Nem mesmo as delegacias da mulher estão preparadas para reconhecer o crime e lidar com as vítimas da maneira mais apropriada.
"O Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que 47.646 estupros foram registrados no Brasil em 2014, mas estima-se que apenas 10% dos casos sejam notificados. Ou seja, em média 450 mil mulheres preferem manter o silêncio sobre o crime que sofreram a procurar a justiça."
Justamente por essa dificuldade de dar voz às dores e violências vividas pelas mulheres que hashtags como esta são importantes, como afirma o Think Olga em sua publicação:
"Em uma sociedade machista como a nossa, não existem benefícios diretos a uma mulher que se assume vítima de estupro. O bem que isso traz é para as mulheres como um todo. A cada Sofia que levanta sua voz e conta o que passou, muitas Anas, Robertas, Jéssicas, Sheilas e sabe-se lá quantas outras ouvintes saberão que essa dor não é só delas, que não estão sozinhas, que outras sobreviveram, que existe um caminho."

HuffPost Brasil 

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