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terça-feira, 26 de abril de 2016

O fiu-fiu no Congresso: como os deputados tratam suas colegas?


A bancada feminina da Câmara dos Deputados (Foto: Câmara dos Deputados)
A bancada feminina da Câmara dos Deputados (Foto: Câmara dos Deputados)

Como se comportam os deputados, no Congresso Nacional, com suas colegas mulheres? Não muito diferente da realidade do dia a dia

NATHALIA BIANCO
22/04/2016
“Quando você termina uma tarefa e um colega seu de trabalho diz "linda", comemorando, ele está te desrespeitando?”. A pergunta, com tom incrédulo, foi feita por Francisco Floriano, pastor e deputado federal do Rio de Janeiro pelo Partido Republicano (PR). Durante a votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados, no domingo (17), é possível ver Floriano gritando "linda" para deputadas chamadas a votar.
O deputado diz que não vê problema em chamar deputadas de "linda" dentro do Congresso Nacional. É uma questão “muito pequena”, diz.
Não é nada pequeno o desconforto ao ver a deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO) ouvir “elogios” proferidos por homens amontoados em torno do microfone. O mesmo ocorreu com as deputadas Brunny (PR-MG), Shéridan (PSDB-RR) e Mara Gabrilli (PSDB-SP).
Pequena é a participação feminina na política brasileira. Apesar de serem 51,4% da população do Brasil, de acordo com o IBGE, as mulheres ocupam apenas 9,9% (51, num total de 513) das cadeiras na Câmara. O índice é inferior ao de países do Oriente Médio. 
O deputado Francisco Floriano (de gravata amarela) no dia da votação do impeachment (Foto: TV Câmara/Reprodução)
O deputado Francisco Floriano (de gravata amarela) no dia da votação do impeachment (Foto: TV Câmara/Reprodução)
Para Vera Cepeda, professora de ciências políticas da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), o problema de deputados acharem que estão sendo “amigáveis” – nas palavras de Floriano – com suas colegas tem várias dimensões. O principal é o simbolismo. O Congresso serve de modelo de comportamento da sociedade brasileira. Modelo positivo ou, nesse caso, negativo. “Enquanto qualquer pessoa achar que isso é natural, mesmo no âmbito da esfera pública, você naturaliza esse tipo de questão”, diz.
Para a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) – ausente à votação em decorrência de gravidez – a Câmara é um ambiente machista. “No Dia Internacional da Mulher havia deputados fazendo brincadeiras por ser uma mulher que estava presidindo a mesa”, diz.
Nem todas reclamam – por não ver incômodo ou pela banalização do incômodo. Mariana diz que nunca se sentiu ofendida, e que não vê machismo entre os colegas. Shéridan diz que, por mais que a composição da Câmara seja predominantemente masculina, nunca sofreu. “A hostilidade pode existir em qualquer ambiente. Temos que saber lidar com todos os cenários”.
“O Brasil lida mal com a questão de preconceito de gênero”, diz Vera. Ela diz que a maioria populacional feminina nunca se converteu em maioria no meio político, mas como no de trabalho e intelectual. “Se você observar as ocupações de liderança, ou o número de pós-graduandos, a presença das mulheres é enormemente inferior à dos homens. Do ponto de vista populacional isso prova que tem alguma coisa esquisita”, afirma. Na Câmara, o ambiente de assédio funciona como um filtro injusto, capaz de indiretamente expulsar as incapazes de lidar com o ambiente hostil. E prova que a esfera do espaço público e político no Brasil está contaminado com valores atrasados, como achar que as mulheres precisam aceitar os “elogios” em qualquer lugar e hora.
Um deputado validar e não reconhecer um simples ‘linda’ como um problema reforça valores que a sociedade brasileira tem dificuldades em superar, como a subalternidade ou os problemas de violência, de preconceito, de raça, que muitas vezes estão ligadas a questões de gênero. Sim, deputado. Um colega chamar uma mulher de ‘linda’ implica em muito mais do que um “pequeno debate”.


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