(Marina Pita/Agência Patrícia Galvão, 04/04/2016) Ativista do movimento negro, Jurema Werneck defende que é preciso ouvir as mulheres para entender a epidemia da síndrome congênita da zika
As epidemias, assim como qualquer outro fato de interesse público, não são livres de interpretações e recortes. No caso da epidemia de zika e da emergência pública decorrente da síndrome congênita associada ao vírus, o desafio é garantir que as vozes da ciência e da saúde não sejam as únicas a falar neste momento, segundo análise da médica, doutora em comunicação e cultura e coordenadora da ONG Criola, Jurema Werneck.
As epidemias, assim como qualquer outro fato de interesse público, não são livres de interpretações e recortes. No caso da epidemia de zika e da emergência pública decorrente da síndrome congênita associada ao vírus, o desafio é garantir que as vozes da ciência e da saúde não sejam as únicas a falar neste momento, segundo análise da médica, doutora em comunicação e cultura e coordenadora da ONG Criola, Jurema Werneck.
“Precisamos da voz das mulheres, que vai contar a outra epidemia. Que vai contar a epidemia de silenciamento, de convivência com o mosquito, da convivência com a falta de saneamento, a convivência com as consequências da zika e com o terror da zika. Acho que esta é a questão central”, frisa Jurema Werneck, para quem é hora de as organizações sociais, movimentos e governo passarem a discutir como dar voz para as mulheres narrarem a epidemia de zika.
A avaliação da especialista em saúde e direitos das mulheres negras é de que o setor saúde enxerga a epidemia unicamente como “o problema de um mosquito, que carrega um vírus, que pica as pessoas e que faz nascer crianças com microcefalia”.
“As mulheres com certeza contariam outra história. Mas, para o setor de saúde, a mulher é acompanhante, mãe. Ela não tem nome e não é um sujeito. É o vetor da desgraça – através dela que nasce a criança com má formação, é através dela que não se tira o mosquito da casa, porque a mulher não limpa direito o vaso de planta. Ela não é nem coisa, é um corredor, é um vetor”, explica Jurema.
Mas a epidemia não ocorre por conta do vaso de planta, frisa Jurema. A epidemia se instala a partir de uma forte vulnerabilidade social e ambiental: as valas a céu aberto, ausência de saneamento básico, de água encanada, de coleta adequada de lixo e resíduos sólidos.
As condições para a proliferação da epidemia estão, assim, fortemente atreladas às comunidades pobres e negras. “Essa e todas as epidemias têm cor. Elas surgem diante da vulnerabilidade, elas terminam nessas comunidades, dessas pessoas. É o clássico da epidemiologia, que não está escrito, mas todo mundo sabe. No caso da epidemia de zika, recebi uma informação de que 70% das crianças com a síndrome do zika congênita são filhas de mulheres negras.”
Jurema Werneck é uma das painelistas confirmadas para o 9° Seminário Nacional A Mulher e a Mídia, que vai debater o tema – Mídia, Zika e os Direitos das Mulheres, nos dias 22 e 23 de abril, em São Paulo.
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