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sábado, 1 de outubro de 2016

Como casais inteligentes superam a crise

Uma mulher que assume o papel de arrimo de família certamente reconhecerá em seu homem o valor do suporte recebido

GUSTAVO CERBASI
26/09/2016

A crise econômica que fragiliza os empregos e faz crescer o número dos que empreendem por necessidade evidencia uma interessante mudança de comportamento no Brasil. Diante da necessidade de sobrevivência, o desempregado procura abrir um negócio ou desenvolver uma atividade empreendedora ligada ao que sabe ou ao que gosta de fazer. Aceita desempenhar atividades que, em tempos de vacas gordas, “não cairiam bem”. Imagina um engenheiro começar a vender cosméticos? Um pai virar dono de casa enquanto a mulher ainda se mantém empregada? Trabalhar aos domingos?

Dizia Platão que a necessidade é a mãe da inovação. Para colocar o pão na mesa, aqueles que superaram o orgulho e passaram a fazer o que mandou seu coração podem estar descobrindo, em meio à crise, um modo de vida mais autêntico, com foco no bem-estar de sua família e não no crescimento da carreira baseado no aumento dos lucros de seu empregador.

Essa é a cara de uma nova economia. Estilos de vida antes considerados exceções à regra podem estar se tornando um modelo a ser seguido para sobreviver às inconstâncias da mal planejada economia brasileira. Diante da escassez de oportunidades de trabalho, se a oportunidade que surge é para a mulher, e se essa oportunidade ainda garante um bom nível de dignidade, estabilidade e bem-estar à família, qual é o problema de o homem se tornar o “dono de casa”, ainda mais se estiver desempregado?

Seria problema conviver com os amigos caçoando de sua situação? Em uma cultura ainda machista e paternalista, sim, acredito que seria um problema. Porém, esse problema relacionado à opinião alheia deveria ser colocado na mesma balança que constata que, da porta de casa para dentro, agora há uma família feliz.

A recomendação, diante do preconceito, é aguentar a barra por um tempo e fortalecer-se nas conquistas da família: uma mulher que assume o papel de arrimo da família certamente reconhecerá em seu homem o valor do suporte recebido. Isso com certeza afetará positivamente a relação a dois. E, também certamente, um dia essa oportunidade se esgotará – na melhor das hipóteses, com a aposentadoria. Se o “dono de casa” for atrás de sua vocação, desenvolver habilidades com as quais goste de lidar – Artes? Gastronomia? Educação? Cursos on-line? –, poderá nascer dessa vocação um próximo negócio da família. Nessa hora, quem antes recebeu apoio pode oferecê-lo.

Esse pingue-pongue em família é a recomendação não só para tempos de crise, mas passa a ser uma solução permanente no contexto em que vivemos. Pode ser essa a cara de uma sociedade mais madura, menos apegada à opinião alheia, menos sedenta por status e mais confiante nos caminhos que se mostrarem possíveis. Por que não?

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