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sábado, 1 de outubro de 2016

Série Luke Cage encara um inimigo incômodo da sociedade: a tensão racial

O super-herói Luke Cage. Calmo e controlado, ele dá um recado contra a violência policial. (Foto: Divulgação)



















Como em 1972, quando surgiu nos quadrinhos, Luke Cage se transforma no herói de que precisávamos

NINA FINCO
29/09/2016

Super-heróis costumam ser boas caixas de ressonância de tendências e questões sociais  – mas alguns acertam na sintonia muito mais que outros. Luke Cage, a nova série da Marvel e da Netflix, oprime o espectador  sob toneladas de tensão racial, bem numa era de confrontos entre a população e policiais nos Estados Unidos. A primeira série de TV de super-herói protagonizada por um negro, que estreia no dia 30, usa mais que socos, explosões e superpoderes para cativar o público. Os episódios são recheados de referências à violência policial. A trilha sonora é uma ode à cultura negra e ao hip-hop. Num ano em que artistas como Beyoncé Kendrik Lamar usaram o palco para protestar contra o racismo, Luke Cage ameaça conquistar um lugar entre ícones dessa luta.
O criador da série, Cheo Hodari Coker,  coordena os produtores musicais Adrian Younge e Ali Shaheed Muhammad, além de uma equipe de roteiristas formada majoritariamente por negros – uma raridade no showbiz. Cada detalhe da série abraça a controvérsia racial. Entre os livros da estante no quarto de Cage está Homem invisível, de Ralph Ellison, sobre um homem negro cuja cor lhe dava invisibilidade. Um dos políticos locais da série faz campanha com as palavras de ordem “Keep Harlem Black” (Mantenham o Harlem negro), em protesto contra a gentrificação que ameaça a identidade de um dos bairros negros mais famosos dos Estados Unidos.
O herói da trama não veste traje colante e colorido, e sim jaqueta com capuz. É o mesmo estilo de roupa que Trayvon Martin, jovem negro de 17 anos, trajava ao ser alvejado por um segurança de condomínio na Flórida em 2012. Ao contrário de Martin ou Michael Brown, jovem morto pela polícia municipal de Ferguson em 2014, Luke é à prova de balas. O ator Mike Colter, que despontou emMenina de ouro e participou de séries como The good wife, recusou diversos papéis antes desse por perpetuarem chavões sobre negros. “Eu não sabia se teria sucesso neste ramo, porque acho que (para trabalhar) você tem de ignorar o fato de, às vezes, ser estritamente um estereótipo ou não estar fazendo nada para desfazer o estereótipo”, afirmou em entrevista à revista americana Time. Com Luke Cage, foi diferente.
Sua primeira aparição no papel do herói foi na série Jessica Jones, de 2015. Vemos que Cage hesita em usar sua força descomunal. Ele não se comporta como o típico macho alfa: é tranquilo, íntegro e reservado. Sua música-tema reflete sua personalidade, ao combinar hip-hop com toques de blues e jazz (a propósito: todos os episódios da série levam nomes de músicas do grupo Gang Starr, famoso por combinar elementos de vários gêneros da música negra).
Luke Cage foi criado nos anos 1970, na mesma leva de outros heróis negros que chegavam às bancas pela Marvel: Pantera Negra eFalcão. Ao contrário de seus colegas, que costumavam enfrentar principalmente supervilões megalomaníacos, Cage batia e apanhava em conflitos típicos de bairros violentos. “Cage luta contra vilões fantásticos, bem como policiais corruptos. Ser um herói afro-americano com a pele à prova de balas carrega uma importância social e política distinta”, afirma Qiana Whitted, professora de estudos afro-americanos da Universidade da Carolina do Sul.
Com o título de “Hero for hire” (Herói de aluguel), ele apresentava um jeito diferente de agir. “Era um cara que precisava de emprego e estava aberto a usar seus poderes para sobreviver. Isso era excitante e inovador”, afirma CW Marshall, especialista em cultura pop e professor da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá. Além disso, não se escondia atrás de uma máscara.
Cage teve de ser adaptado apenas sutilmente, porque a tensão racial dos anos 1970 invadiu o século XXI. Parte da população negra, não só nos Estados Unidos, sofre com racismo e o legado amargo dos tempos de escravidão. Uma nova onda de protestos e ativismo impede que se esconda o problema. “Hoje, somos mais conscientes da necessidade de diversidade. E atitudes positivas precisam ser tomadas para suprir essa necessidade”, diz Marshall. Se o primeiro passo para a recuperação é admitir, Cage contribui para nos mantermos no caminho certo.

Época

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