As sucessivas denúncias de assédio sexual, que começaram com o produtor norte-americano Harvey Weinstein e vieram por aí fora, qual efeito dominó, lançaram o tema para a berlinda mediática. Agora, tanto ele como Kevin Spacey, o "tubarão" que caiu a seguir, deram entrada na mesma clínica de reabilitação no Arizona, "The Meadows", para se livrarem da adição sexual. Que tratamento é este? E resulta?
Katya Delimbeuf
Expresso
12.11.2017
"The Meadows" parece um hotel de cinco estrelas - pela beleza do local, no meio do deserto Sonoran, no Arizona, pelo 'design', pelo tamanho da piscina. Mas é um centro de tratamento de luxo, que há 40 anos se intitula a melhor clínica para tratar perturbações tão diversas como trauma, abuso e dependência de drogas, distúrbios de ansiedade, depressão, codependência, bipolaridade, distúrbios alimentares - e, claro, adição ao sexo. Por esta clínica passaram centenas de celebridades - e duas das últimas são vítimas do mesmo escândalo: Harvey Weinstein, o produtor de Hollywood que desde outubro viu as denúncias de abuso sexual contra si ascenderem a 50; e Kevin Spacey, o ator consagrado que o Netflix já excomungou, acabando com a série de culto de que era protagonista, "House of Cards", e que foi entretanto "apagado" do último filme em que entrou, “Todo o Dinheiro do Mundo” (as cenas em que aparecia vão agora ser rodadas por Christopher Plummer).
Katya Delimbeuf
Expresso
12.11.2017
VALERY HACHE / GETTY
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"The Meadows" parece um hotel de cinco estrelas - pela beleza do local, no meio do deserto Sonoran, no Arizona, pelo 'design', pelo tamanho da piscina. Mas é um centro de tratamento de luxo, que há 40 anos se intitula a melhor clínica para tratar perturbações tão diversas como trauma, abuso e dependência de drogas, distúrbios de ansiedade, depressão, codependência, bipolaridade, distúrbios alimentares - e, claro, adição ao sexo. Por esta clínica passaram centenas de celebridades - e duas das últimas são vítimas do mesmo escândalo: Harvey Weinstein, o produtor de Hollywood que desde outubro viu as denúncias de abuso sexual contra si ascenderem a 50; e Kevin Spacey, o ator consagrado que o Netflix já excomungou, acabando com a série de culto de que era protagonista, "House of Cards", e que foi entretanto "apagado" do último filme em que entrou, “Todo o Dinheiro do Mundo” (as cenas em que aparecia vão agora ser rodadas por Christopher Plummer).
Weinstein e Spacey seguem as pisadas de muitos outros, como Tiger Woods, o antigo número 1 do mundo de golfe que ali deu entrada em 2010. Como ele, vão pagar €32.000 por mês para se submeterem a um tratamento de 45 dias, chamado "Gentle Path" (Caminhada Gentil). Com ele estarão outros 27 pacientes homens, que estão monitorizados 24 horas por dia. Num "ambiente seguro, os pacientes são guiados numa viagem de recuperação para analisar as causas subjacentes às suas adições e transtornos", pode ler-se no website da clínica. "O objetivo é que ganhem confiança para fazer face à sua doença, aprendendo a lidar com a dor e a perda." A filosofia é uma abordagem holística, que trata a pessoa "como um todo", afirmam. Assistir a aulas de arte expressivas faz parte do programa, que tem como meta final "tornar os pacientes responsáveis pelos seus sentimentos, comportamentos e pela sua recuperação".
Várias questões aqui se colocam. Uma: é a adição sexual uma doença? Duas: estes tratamentos "curam" efetivamente as pessoas ou tudo não passa de uma manobra de 'marketing' para limpar o nome de quem está debaixo dos holofotes? Respondendo a uma pergunta de cada vez: só os EUA reconhecem a "adição sexual" como uma doença. No site da clínica, pode ler-se que "a adição sexual" é real e definida como uma experiência "alteradora do humor". A clínica avança ainda que as estatísticas (não sabemos quais) garantem que 17 milhões a 37 milhões de pessoas no mundo sofram desta doença.
Mas por que é que este conceito terapêutico não existe na Europa? Na verdade, na 5ª e última edição do manual de diagnóstico e estatística dos transtornos mentais (DSM-V), considerada a Bíblia da psiquiatria, a adição ao sexo não aparece descrita como um transtorno. A sexóloga Marta Crawford prefere falar de "desejo sexual hiperativo", ou de "uma forma não especificada de compulsão", mas admite ser cética no que diz respeito ao tratamento proposto pela clínica americana. A ela parece-lhe mais uma "operação de cosmética" para estas pessoas desaparecerem de circulação durante 45 dias e terem oportunidade de se redimir perante a opinião pública. No seu entender, "é preciso perceber, no caso de cada paciente, as razões na origem do comportamento" ou se o têm apenas "porque podem, por estarem numa posição de poder face às pessoas assediadas".
À sua clínica chegam, amiúde, pessoas com "consumos exagerados de pornografia, excesso de masturbação, procura de prostituição, voyeurismo". Nestes casos, a ansiedade é temporariamente aliviada pela descarga sexual, que ressurge pouco tempo depois. Aplacar a ansiedade com exercício físico intenso ou com ansiolíticos, alternativamente, é o primeiro passo. Mas "a única forma de cura reside no facto de a pessoa em causa perceber que o seu comportamento não a faz feliz e que constitui um problema". Se se trata de um transtorno ou de uma compulsão, ou apenas de um comportamento repetido como forma de poder, interessa contê-lo o mais possível. Para bem de todos.
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