Susan Pinker tem um olhar diferenciado sobre as diferenças biológicas que existem entre os sexos. A psicóloga canadense segue a mesma linha de pesquisa que seu irmão, Steven Pinker. Ambos buscam entender a mente humana no contexto da evolução.
Para ela, o movimento feminista foi bom por ter dado liberdade de escolha às mulheres, mas errou ao afirmar que todas as distinções de gênero eram socialmente construídas. Em seu livro, O Paradoxo Sexual, ela questiona por que mulheres, que têm melhor desempenho na escola e vão à universidade em maior número do que os homens, têm salários mais baixos. Susan defende que salários de homens costumam ser maiores não por discriminação no mercado, mas porque eles priorizam mais isso.
Frequentemente, diz a psicóloga na obra, mulheres competentes e talentosas optam por assumir cargos de menor responsabilidade ou preferem trabalhar durante meio expediente para dar atenção aos filhos e à família. Os homens, por outro lado, são competitivos e preocupam-se com a carreira.
Neste best-seller, tema da entrevista abaixo, Pinker associa perfis biográficos à ciência e revela como certas diferenças influenciam a ambição e as escolhas profissionais de homens e mulheres. Confira e não esqueça: Susan Pinker encerra o ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento 2017. A psicóloga, que recentemente lançou a obra The Village Effect, sobre a importância das relações presenciais, sobe ao palco do projeto em Porto Alegre no dia 04 dezembro. Em São Paulo, no dia 06.
Seu livro [O paradoxo sexual] fala sobre mulheres em empregos com bons salários, mas que as afastavam dos filhos, tornando-as infelizes. Por que elas quiseram anonimato?
Susan Pinker: Acho que as mulheres que fazem essa escolha ainda estão envergonhadas de não estar agindo como homens. Mas não podemos esperar isso delas. Elas não são homens.
Como assim?
Susan Pinker: Existe a expectativa, no Ocidente, de que mulheres devem voltar a trabalhar normalmente quando seus filhos ainda são pequenos sem que se sintam mal por isso. Mas essa angústia tem razões biológicas. Se você der liberdade de escolha, mulheres vão querer trabalhar menos enquanto seus filhos forem novos.
As mulheres foram discriminadas por tanto tempo que as pessoas têm uma aversão à ideia de que existe uma diferença natural, biológica. Isso oferece às mulheres mais tempo não só para os seus filhos, mas para seus outros interesses.
Ganhar um salário menor é o preço que as mulheres pagam para satisfazer seus sentimentos?
As mulheres foram discriminadas por tanto tempo que as pessoas têm uma aversão à ideia de que existe uma diferença natural, biológica. Isso oferece às mulheres mais tempo não só para os seus filhos, mas para seus outros interesses.
Ganhar um salário menor é o preço que as mulheres pagam para satisfazer seus sentimentos?
Susan Pinker: Sim. Fui entrevistada por uma jornalista na Holanda, onde há leis que dizem que, se você quer trabalhar só meio período, não pode ser demitido. A maioria das mulheres na Holanda não trabalha o dia inteiro, tendo filhos ou não.
Essa jornalista trabalhava só quatro dias por semana. Ela dedicava as sextas para tocar piano, e achava que não seria feliz sem isso. Então não se trata apenas de cuidar dos filhos, mas também de ter uma vida mais equilibrada.
Para as mulheres, a vida não é apenas trabalho, salário e promoções, ao contrário do que pensam muitos homens, que acham que tudo isso vale a pena quando compram um novo carro. Incomoda a muitos deles pensar que outras pessoas estão ganhando mais dinheiro, que moram em um lugar mais legal. São mais competitivos, gostam mais de assumir riscos. Não todos, mas eu diria que 75% dos homens são assim.
Ou seja, não é regra.
Susan Pinker: Eu sempre deixo claro que cada pessoa é um indivíduo único. Ciência é estatística, pessoas são únicas. Então, quando você estuda ciência, está analisando probabilidades. Sempre existirão exceções. Compare com a altura. Em geral, homens são mais altos, mas existem várias mulheres mais altas do que muitos homens.
"As mulheres foram discriminadas por tanto tempo, que as pessoas têm uma aversão à ideia de que existe uma diferença natural, biológica."
Mas ainda existe muita resistência à ideia de que as diferenças entre os gêneros não são apenas socialmente construídas.
Essa jornalista trabalhava só quatro dias por semana. Ela dedicava as sextas para tocar piano, e achava que não seria feliz sem isso. Então não se trata apenas de cuidar dos filhos, mas também de ter uma vida mais equilibrada.
Para as mulheres, a vida não é apenas trabalho, salário e promoções, ao contrário do que pensam muitos homens, que acham que tudo isso vale a pena quando compram um novo carro. Incomoda a muitos deles pensar que outras pessoas estão ganhando mais dinheiro, que moram em um lugar mais legal. São mais competitivos, gostam mais de assumir riscos. Não todos, mas eu diria que 75% dos homens são assim.
Ou seja, não é regra.
Susan Pinker: Eu sempre deixo claro que cada pessoa é um indivíduo único. Ciência é estatística, pessoas são únicas. Então, quando você estuda ciência, está analisando probabilidades. Sempre existirão exceções. Compare com a altura. Em geral, homens são mais altos, mas existem várias mulheres mais altas do que muitos homens.
"As mulheres foram discriminadas por tanto tempo, que as pessoas têm uma aversão à ideia de que existe uma diferença natural, biológica."
Mas ainda existe muita resistência à ideia de que as diferenças entre os gêneros não são apenas socialmente construídas.
Susan Pinker: As mulheres foram discriminadas por tanto tempo que as pessoas têm uma aversão à ideia de que existe uma diferença natural, biológica. Acham que falar sobre diferenças é voltar a pensar como antigamente, quando, na verdade, não tem nada a ver com discriminação. É bobo ignorar as evidências científicas porque você tem medo do que vão dizer.
Mas pode soar como "acabou a festa, todas de volta para a cozinha, os afazeres domésticos"...
Susan Pinker: Estou muito longe dessa mensagem. O que acontece de bom quando as mulheres aceitam que existem diferenças biológicas naturais é que elas se sentem muito menos isoladas com seus sentimentos. Se ignoramos as diferenças, estamos forçando mulheres a assumirem cargos e trabalhos nos quais boa parte delas não serão felizes.
Muitas mulheres me disseram: "Graças a Deus você fez esse livro. Eu achava inaceitável aquilo que eu sentia". É difícil para elas gostar de trabalhar com pessoas, mas saber que empregos assim não são tão bem pagos quanto os que envolvem lidar com "coisas", como engenharia. A maioria das mulheres gosta de trabalhos como assistência social, pedagogia, profissões na área de saúde, mas salários nessas áreas costumam ser menores.
Muitas mulheres me disseram: "Graças a Deus você fez esse livro. Eu achava inaceitável aquilo que eu sentia". É difícil para elas gostar de trabalhar com pessoas, mas saber que empregos assim não são tão bem pagos quanto os que envolvem lidar com "coisas", como engenharia. A maioria das mulheres gosta de trabalhos como assistência social, pedagogia, profissões na área de saúde, mas salários nessas áreas costumam ser menores.
"Precisamos remunerar melhor as mulheres pelos trabalhos que elas preferem. Ou seja, começarmos
a pagar aos professores tanto quanto pagamos aos engenheiros."
Mas, se as mulheres gostam de áreas que pagam menos, não há nada a fazer, então?
Susan Pinker: Precisamos remunerar melhor as mulheres pelos trabalhos que elas preferem. Ou seja, começarmos a pagar aos professores tanto quanto pagamos aos engenheiros.
Muitas mulheres esperam que as suas conquistas sejam reconhecidas sem que tenham de pedir aumentos. E, por isso, têm menos chances de ver os seus salários subindo. Se eu sou um chefe e recebo um homem em meu escritório dizendo "veja o que estou fazendo, eu mereço um salário maior", tenho mais propensão a oferecer um aumento a ele do que a outra pessoa que faz o seu trabalho sem reclamar.
Muitas mulheres esperam que as suas conquistas sejam reconhecidas sem que tenham de pedir aumentos. E, por isso, têm menos chances de ver os seus salários subindo. Se eu sou um chefe e recebo um homem em meu escritório dizendo "veja o que estou fazendo, eu mereço um salário maior", tenho mais propensão a oferecer um aumento a ele do que a outra pessoa que faz o seu trabalho sem reclamar.
O que a sra. pensava sobre as diferenças de gênero quando era jovem? Leu Simone de Beauvoir?
Susan Pinker: Sim, claro, como todo mundo naquela época. Estamos em um ponto alto do movimento feminista. Quando eu estava na universidade, no final dos anos 1970 e começo dos 1980, a expectativa era que homens e mulheres fossem idênticos, que nós deveríamos fazer as mesmas coisas, trabalhar a mesma quantidade de horas, no mesmo tipo de emprego, ter o mesmo tipo de vínculo emocional com o trabalho doméstico e com as outras pessoas.
Eu acreditava muito nisso, li todos os livros das principais feministas. Foi só quando eu fui trabalhar e quando meus filhos nasceram que percebi que havia um buraco entre a minha abordagem intelectual do assunto e os meus sentimentos.
Eu acreditava muito nisso, li todos os livros das principais feministas. Foi só quando eu fui trabalhar e quando meus filhos nasceram que percebi que havia um buraco entre a minha abordagem intelectual do assunto e os meus sentimentos.
Então deveríamos agora esquecer "O Segundo Sexo" [livro de Simone de Beauvoir, de 1949, marco do feminismo]?
Susan Pinker: "O Segundo Sexo" era interessante em sua época, mas está ultrapassado. A ciência avançou muito desde então. Não tínhamos ressonância magnética nem o mapeamento do genoma humano, não sabíamos metade do que sabemos hoje. Hoje, estamos entendendo como os hormônios afetam os comportamentos humanos."
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