Brasil ocupa apenas a 10ª posição entre os países da América Latina quanto à participação de mulheres em conselhos corporativos
BREILLER PIRES
EL PAÍS
Belo Horizonte / São Paulo
Seis em cada dez empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não têm nenhuma mulher em seu conselho de administração. São 424 companhias cuja cúpula decisória é 100% masculina. A participação feminina na gestão corporativa não é mais uma raridade absoluta, como era na época em que a empresária Betania Tanure, de 57 anos, começou sua carreira, mas ainda representa uma minoria muito exígua nos grandes órgãos de decisão empresarial. Tanure é conselheira de duas grandes companhias: MRV Engenharia (de engenharia civil) e Magazine Luiza (varejo). É uma das poucas, porque as mulheres representam apenas 11% dos conselheiros nas empresas de capital aberto inscritas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O gigante sul-americano fica abaixo da média entre 15 países da região mais a Espanha quanto à participação de mulheres em conselhos de administração, segundo uma análise publicada nesta sexta-feira, Dia Internacional da Mulher, pela ONG mexicana Poder em parceria com o EL PAÍS e outros 14 meios de comunicação.
Há oito homens para cada mulher sentada à mesa de um conselho de administração nas empresas brasileiras com ações em Bolsa. A executiva Tanure considera que “olhando em perspectiva houve um avanço relativo”, e se mostra otimista porque “os números tendem a crescer”, mas não se engana: “Se você olhar a fotografia [atual], é muito ruim. A desigualdade entre homens e mulheres no alto nível das empresas continua sendo grande”. Entretanto, acha que o Brasil não está tão mal em comparação com seus vizinhos. “As dificuldades e barreiras para as mulheres no Brasil são bastante similares às do resto da América Latina. É uma questão cultural que não se muda da noite para o dia.”
Há oito homens para cada mulher sentada à mesa de um conselho de administração nas empresas brasileiras com ações em Bolsa. A executiva Tanure considera que “olhando em perspectiva houve um avanço relativo”, e se mostra otimista porque “os números tendem a crescer”, mas não se engana: “Se você olhar a fotografia [atual], é muito ruim. A desigualdade entre homens e mulheres no alto nível das empresas continua sendo grande”. Entretanto, acha que o Brasil não está tão mal em comparação com seus vizinhos. “As dificuldades e barreiras para as mulheres no Brasil são bastante similares às do resto da América Latina. É uma questão cultural que não se muda da noite para o dia.”
Tanure insiste numa ideia cada vez mais expressa por executivos que não foram moldados pelo padrão tradicional de homem branco heterossexual. “Elas precisam de mais mentoria e investimento em formação, mas, ao mesmo tempo, as empresas também precisam entender que a diversidade na cúpula é rentável. Em muitos negócios, principalmente no varejo, a mulher tem um poder de decisão muito grande na hora da compra”, salienta. Conta que ela mesma está tomando medidas contra a homogeneização em sua empresa: “Na minha consultoria, 80% são mulheres. Atualmente, até dou preferência para a contratação masculina, porque é bom ter equilíbrio”.
Nenhum dos 15 países analisados pela ONG Poder, que promove a transparência e a prestação de contas, sequer se aproxima da paridade na gestão corporativa. A Costa Rica lidera na região, com 22% de mulheres nos conselhos de administração das empresas de capital aberto, um ranking onde o México segura a lanterna, com 7%. Os 11% do Brasil o colocam na décima posição.
As firmas inscritas na CVM contam com 308 conselheiras (incluído um número notável de herdeiras) e 2.487 conselheiros homens. “Não participo de outros [conselhos de administração] porque recusei”, diz Tanure, que também dirige uma consultoria especializada em desenvolvimento empresarial que leva seu nome, fundada na região metropolitana de Belo Horizonte. Não é incomum que as mulheres conciliem sua presença na cúpula de várias corporações. É o caso de 27 delas, e duas se sentam em nada menos que seis conselhos de administração.
A escassa presença de mulheres nos conselhos empresariais brasileiros choca menos quando comparada à sua presença na política. É verdade que houve uma presidenta, Dilma Rousseff (2011-2016), mas no atual Gabinete só há duas ministras entre os 22 ministros (há quatro vezes mais militares do que mulheres), e no Congresso são 15% na atual legislatura, uma participação recorde, mas ainda pequena.
A disparidade salarial diminuiu no Brasil com relação ao ano passado, segundo um estudo publicado neste 8 de março pelo IBGE. As brasileiras ganham em média 13 reais por hora, contra 14,2 dos homens. Ou seja, recebem 8,5% a menos do que eles ganham, quando um ano antes eram 11,3% a menos. Elas continuam ganhando menos que os homens de sua mesma raça, mas a diferença entre os brancos é maior (recebem 24% a menos em relação a eles) que entre os negros e pardos (20% a menos), embora o próprio IBGE observe que a menor desigualdade entre estes últimos pode estar vinculada ao fato de negros e pardos desempenharem em geral trabalhos com salários mais baixos.
Tanure, que está há duas décadas no negócio, opina que “as empresas estão se tornando mais maduras para absorver as diferenças”. Ela as divide em três grupos: “As que têm consciência das desigualdades e tentam superá-las da melhor forma possível. As que estão conscientes, mas não se mexem. E, por último, as que ainda não se tocaram da questão”.
Ela está convencida de que é possível conciliar a vida profissional e familiar, mas não sem sacrifício. “Quando minha primeira filha nasceu, eu tinha aceitado um compromisso profissional na França antes de engravidar. Levei-a com apenas dois meses. São sacrifícios que precisamos fazer.”
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