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quarta-feira, 6 de março de 2019

O dia em que um documentário sobre mulheres e menstruação ganhou um Oscar



KEVIN WINTER VIA GETTY IMAGES

Melissa Bertone (à esquerda) e Rayka Zehtabchi (à direita) são as responsáveis pelas filmagens de "Absorvendo o Tabu". 

'Absorvendo o Tabu', que está disponível na Netflix, ganhou prêmio de Melhor Curta-Documentário no Oscar 2019.

By Andréa Martinelli
25/02/2019
Não acredito que um filme sobre menstruação ganhou o Oscar.
Rayka Zehtabchi, diretora de "Absorvendo o Tabu".
A frase acima resume o êxtase da diretora Rayka Zehtabchi ao levar para casa, na noite do último domingo (24), o prêmio de melhor documentário (curta-metragem) por Period. End of sentence. (Absorvendo o Tabu, em português). 

Sim, em 2019 um filme sobre mulheres e menstruação ganhou um Oscar. Em 25 minutos, o documentário conta a história das mulheres que vivem em Kathikera, uma aldeia de Hapur, próxima a Nova Déli, na Índia. Elas lutam para ter acesso a produtos de higiene e, principalmente, à educação e trabalho.
Zehtabchi, que era a única mulher concorrendo na categoria, recebeu o prêmio ao lado da produtora estreante Melissa Bertone. “Eu não estou chorando porque estou menstruada. Eu simplesmente não acredito que um filme sobre menstruação acaba de ganhar um Oscar”, disse ao receber o prêmio.


DIVULGAÇÃO

25 minutos, o documentário conta a história das mulheres que vivem em Kathikera, uma aldeia de Hapur, cidade próxima a Nova Déli, na Índia.

Ela agradeceu à Netflix por dar suporte à produção do documentário, aos seus familiares, outros colegas que trabalharam no projeto e às mulheres de Hapur. “Vocês estão fazendo com que mulheres do mundo todo lutem por uma ‘igualdade da menstruação’”, completou a diretora.
Em seguida, Bertone pegou o microfone e agradeceu a todos envolvidos no “The Pad Project”, iniciativa que deu origem ao filme. “Eu compartilho este prêmio com a Feminist Majority Foundation, toda a equipe e elenco. Eu compartilho isso com os professores e alunos de todo o mundo. Um ‘período’ deve terminar uma sentença, não a educação de uma menina.”
Absorvendo desbancou Black SheepEnd GameLifeboat e A Night at the Garden que disputavam a estatueta na mesma categoria.

Falar de menstruação, falar de direitos

Ambientado na aldeia de Hapur, próxima a Nova Déli, o documentário conta a história de um grupo de mulheres que lidera uma revolução silenciosa ao lutar contra o estigma profundamente enraizado: o da menstruação.
Por gerações, as mulheres da comunidade não tiveram acesso a produtos básicos de higiene, o que levou à proliferação de doenças e, também ao abandono dos estudos. A vida delas ganha outra dimensão no momento em que uma máquina de vendas de absorventes chega na região. Elas começam fazer uso dos absorventes, além de fabricá-los e comercializá-los.


REPRODUÇÃO

Por gerações, as mulheres da comunidade não tiveram acesso a produtos básicos de higiene na Índia.

Ao entrar em contato com a fabricação de absorventes, elas ganham não só acesso à saúde. Mas consciência sobre o próprio corpo, a possibilidade de retomar estudos e, principalmente a chance de ganhar o próprio dinheiro.
A máquina foi criada por Arunachalam Muruganantham, conhecido como o “homem dos absorventes” na Índia. Ele a criou após perceber os problemas que sua esposa enfrentava devido à falta de acesso a absorventes. Ele faz uma pequena aparição no documentário e sua história inspirou o filme de Bollywood PadMan (Homem dos Absorventes, em tradução livre).
Este é o segundo documentário de curta-metragem indiano que vence um Oscar. Em 2008, o ganhador foi Smile Pinki, que contava a história de uma menina de cinco anos, que foi submetida a uma operação de correção de seu lábio leporino. Absorvendo o Tabu está disponível na Netflix.

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