O tráfico humano e a internet: rede é usada para aliciar mulheres
Criminosos usam a web para identificar potenciais vítimas e aliciá-las principalmente para fins de exploração sexual. Sites de relacionamento estão na mira da polícia
por Solange Azevedo
A audácia dos criminosos não tem limites. Cada vez mais aliciadores usam a internet para identificar e recrutar vítimas para o tráfico humano. Criam falsas agências de modelos e de empregos ou utilizam negócios reais como fachada para atrair principalmente mulheres e meninas para exploração sexual. Apenas nos últimos dois anos, 1.096 páginas desse tipo foram denunciadas à ONG SaferNet. Entre 2011 e 2012, o número de casos que chegaram à entidade cresceu 17%. Desde abril de 2010, quando o primeiro foi reportado e repassado à Polícia Federal, 110 endereços que continham indícios claros do delito foram excluídos pelos provedores. “Muitas dessas páginas ilegais estavam hospedadas em redes sociais”, relata Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil. “Mas algumas delas, como o Twitter, tem sistematicamente se recusado a removê-las”.
O tráfico humano, ao contrário de outros crimes praticados na internet, é de difícil comprovação. Estelionatários, por exemplo, costumam deixar rastros de seus malfeitos. Imagens comercializadas por redes de pornografia infantil, por si só, já evidenciam a existência do delito. Vítimas de aliciadores de seres humanos, não. Elas, geralmente, viajam voluntariamente para outras cidades ou países e só quando estão nas mãos dos criminosos descobrem que foram enganadas. “Cerca de 95% dos casos em que havia indícios para abertura de inquérito diziam respeito à exploração sexual de meninas e mulheres”, afirma Tavares. “O foco dos traficantes não são garotas de programa. São jovens de classe média e alta que trabalham, estudam e querem atuar como modelo para ganhar uma grana e complementar a mesada”.
OS ALICIADORES USAM OFERTAS DE TRABALHO (Foto: Getty Images)
Existem aliciadores que usam a web para recrutar garotas para festas de empresas e eventos como salão do automóvel, Carnaval e grandes competições esportivas nacionais e internacionais. Quando elas se interessam pelo trabalho, em geral, têm de mandar fotos em poses sensuais ou até de nudez para participar da seleção. Depois, sutilmente, recebem outra proposta: ganhar pelo menos 15 vezes mais caso se tornem “ficha rosa” – um jargão que identifica modelos que aceitam fazer programas. Os riscos de cair nas mãos de traficantes não são desprezíveis. “As iniciadas sabem o que o termo ficha rosa significa, mas quem não é do ramo não sabe”, alerta Tavares. “O perfil das vítimas de tráfico humano muda quando se trata de internet. Elas são jovens dos Jardins e da Vila Olímpia, e não meninas pobres, que largam família e filhos em busca de uma oportunidade”.
Para denunciar tráfico humano e outros crimes na internet acesse: safernet.org.br
AS PROPOSTAS VÊM ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS (Foto: Reprodução)
“FICHA ROSA” É UM JARGÃO PARA IDENTIFICAR MODELOS QUE ACEITAM FAZER PROGRAMAS (Foto: Reprodução)http://revistamarieclaire.globo.com/MC-Contra-o-Trafico-Humano/noticia/2013/02/o-trafico-humano-e-internet-rede-e-usada-para-aliciar-mulheres.html