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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


Estimulantes para tratar deficit de atenção

Escrevi aqui semana retrasada que o deficit de atenção é um transtorno real, que afeta, em graus variados, de 0,5% a 5% das pessoas, dependendo dos critérios de diagnóstico (no Reino Unido, onde os critérios são mais estritos, a incidência parece mínima; nos EUA, onde o diagnóstico é mais liberal, a incidência parece duas vezes maior).
Como tantos transtornos, o deficit de atenção também é para o resto da vida e, portanto, não tem cura, apenas tratamento. Se soa ruim, eu diria que (1) o tratamento existe (não é ótimo?) e (2) ele é tão eficaz que muita gente por aí quer usá-lo sem ter necessidade. Trata-se de metilfenidato ou anfetamina --e é aqui que vários pais cruzam os braços e começam a suspeitar do médico que quer dar estimulantes para seus filhos.
O primeiro impulso de resistência é compreensível. Afinal, estimulantes são drogas pró-dopaminérgicas como a cocaína, que estimulam não só o córtex pré-frontal, tão importante para a atenção, como também o sistema de recompensa --daí seu potencial de dar "barato" e, assim, levar ao vício. Mas não é isso que o tratamento faz.
Como o transtorno vem de uma necessidade de dopamina, doses baixas de metilfenidato ou anfetamina apenas trazem o cérebro de volta ao nível normal de funcionamento. É nesse momento que os pacientes descrevem uma sensação "mágica" de tranquilidade, como se o mundo finalmente parasse de pular ao seu redor. Ler um texto até o fim é subitamente trivial, sem dez pensamentos competindo com cada palavra. Fazer uma prova torna-se possível.
Mais importante, contudo, é que há diferença entre esses estimulantes e drogas como a cocaína, que faz com que o efeito "recreativo" dos estimulantes seja muito menor.
Ingeridos em comprimidos ou absorvidos pela pele, metilfenidato e anfetamina agem aos poucos e levam uma boa dezena de minutos para surtir seus efeitos, tanto sobre a atenção quanto sobre a motivação. Sem o coice dopaminérgico propiciado, em comparação, pela inalação de cocaína, a chance de esses estimulantes de ação lenta darem "barato" é mínima. E, sem barato, não há vício.
Aos pais hesitantes, portanto: se há uma necessidade real --e o diagnóstico precisa ser muito bem-feito--, tratar seus filhos com estimulantes não é viciá-los, e sim dar-lhes a oportunidade de uma vida normal.
Suzana Herculano-Houzel
Suzana Herculano-Houzel, carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha, e professora da UFRJ. http://folha.com/no1229384

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