Adital
Os jovens que moram no campo, especialmente em países do Mercosul, estão se deparando cada vez mais com dificuldades e vulnerabilidade de seus direitos sociais, e com menos oportunidades para viver e se desenvolver em sua terra, em sua comunidade. Assim, cada vez mais, abandonar o campo tem se tornado a única opção para que os e as jovens possam estudar, trabalhar e prover seu sustento.
Estas conclusões são fruto das pesquisas de Alcides Ramírez Caballero, licenciado em trabalho social com especialidade no trabalho com jovens da área rural e coordenador da Sociedade de Jovens Rurais Residentes em Assunção.
Estas conclusões são fruto das pesquisas de Alcides Ramírez Caballero, licenciado em trabalho social com especialidade no trabalho com jovens da área rural e coordenador da Sociedade de Jovens Rurais Residentes em Assunção.
Caballero aponta que as mulheres são as primeiras a sair em busca de oportunidades. Elas vão para as cidades grandes ou buscam países europeus para morar temporária ou definitivamente, produzindo vazios populacionais em muitas comunidades campesinas de países da América do Sul, provocando também uma masculinização da população rural. Mais que trabalhar, muitas vezes, a juventude sonha em conseguir continuar a estudar e ingressar em cursos técnicos ou cursos superiores, o que é praticamente impossível permanecerem no campo.
No Paraguai, de cada 10 jovens que terminam o ensino médio, apenas três conseguem ingressar em cursos técnicos ou universitários e, ainda assim, para concretizar isso, é necessário que migrem para alguma cidade maior. Outros pensando mesmo na sobrevivência e buscando direitos que não encontram mais no campo partem para as cidades rumo às periferias de grandes cidades, onde se tornam mais vulneráveis e continuam tendo seus direitos negados. Além desse risco, outra preocupação é a perda da identidade cultural construída no campo.
O Paraguai possui problemas que se assemelham aos de seus vizinhos. O país conta com 40 milhões de hectares próprios para agricultura e pecuária, mas a reforma agrária não é efetivada e, a cada dia, mais o incentivo é para a agricultura extensiva voltada à exportação. Estes são os fatores responsáveis pelo aumento da migração para as áreas urbanas e o encolhimento da população rural.
A concentração de terras também é uma realidade. Apenas 2% de proprietários concentram 84% das terras. O censo agropecuário de 2012 mostrou que 29% dos agricultores não têm um pedaço de chão para trabalhar. A maior parte dessa estatística é formada por jovens de 18 a 30 anos de idade. A mesma problemática é compartilhada por populações indígenas que perderam seus territórios, foram deslocados para as periferias das zonas urbanas ou estão ocupando praças em Assunção, a capital, ou Ciudad del Este, zona de grande movimento comercial.
Por esse motivo, é que a reforma agrária é tema central dos movimentos juvenis campesinos, que insistem na instalação desta pauta junto ao poder e à opinião pública. No entanto, o debate vem sendo desvirtuado por grupos conservadores, políticos e detentores dos meios de comunicação, que costumam alegar que a pobreza não é consequência dos latifúndios e criminalizar as lutas sociais.
Para além da reforma agrária, a luta é para que não sejam entregues aos campesinos terras improdutivas e também para desmistificar que o desenvolvimento rural só é possível com base no modelo agroexportador e com a participação de multinacionais, como Monsanto, Syngenta e Cargill, devido ao volume de seus investimentos.
Nesse contexto, Caballero defende que as organizações campesinas juvenis também construam demandas pelo desenvolvimento rural, soberania alimentar, inclusão de tecnologias apropriadas que ajudem a garantir o trabalho dos/as jovens no campo, construção de modelos de industrialização da pequena e média produção e de medidas de combate ao monocultivo, tudo isso partindo de uma perspectiva juvenil.
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