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domingo, 20 de outubro de 2013

Por uma ficção científica feminista

Antono Luiz M. C. Costa escreve sobre a primeira antologia de ficção científica feminista no Brasil
capa
A capa do livro Universo Desconstruído
Universo Desconstruído, uma edição independente de dez contos em 392 páginas organizada por Aline Valek e Lady Sybylla, apresenta-se, provavelmente com razão, como a primeira antologia de ficção científica feminista no Brasil. É uma iniciativa muito interessante. Por paradoxal que pareça para um gênero literário orientado para o futuro, tanto no Brasil quanto nos EUA o meio dos fãs de ficção científica e da subcultura nerd continua impregnado de um renitente machismo tanto nas suas práticas quotidianas e convenções anuais quanto no seu imaginário ainda demasiado povoado de protagonistas viris e coadjuvantes sensuais que, se não totalmente indefesas, ao menos se conformam com um papel subordinado. A antologia pode ser obtida de duas formas: como e-book, baixado gratuitamente dos sites http://universodesconstruido.com/ ou http://fcfeminista.tumblr.com/ nos formatos pdf, kindle e kobo, ou impresso (392 páginas, R$ 34,90), encomendado em https://clubedeautores.com.br/book/151591--Universo_Desconstruido.
É importante esclarecer que ficção feminista não é o mesmo que “escrita por mulheres”  – alguns dos autores desta antologia são homens – e talvez nem necessariamente com protagonistas mulheres, embora neste caso todas o sejam (seis mulheres biológicas, duas transexuais e duas mulheres-robôs). O que a qualifica como feminista é abordar questões feministas, ou como foi especificado na organização da antologia, “inverter papéis; evitar a sexualização da mulher; evidenciar a opressão de gênero; abordar questões raciais e de classe; mostrar mulheres como indivíduos ativos, líderes, guerreiras; evidenciar os problemas que temos em relação ao machismo, homofobia, transfobia, racismo etc.; e transgredir os estereótipos femininos e masculinos comumente explorados na ficção científica, sem que isso signifique desqualificar o gênero masculino”.
Independentemente do caráter feminista, é uma boa antologia. Quanto à qualidade média, compara-se bem às coletâneas de ficção científica nacional de editoras como a Draco, Devir, Tarja, Record, Terracota e outras. A maioria dos contos tem interesse intrínseco como especulação e aventura mesmo para quem não estiver especificamente interessado em sua pauta, sem cair nos riscos do excesso de pregação doutrinária.
Na maioria, os contos são mais ou menos distópico: futuros onde os problemas, especialmente preconceitos e desigualdades de gênero, parecem ainda mais graves que os atuais. Esta preferência talvez tenha sido inspirada pelo sucesso recente de muitas distopias juvenis e em especial de Jogos Vorazes (no original, Hunger Games) de Suzanne Collins, série adaptada para o cinema que rompeu estereótipos da ficção científica ao obter um sucesso notável com uma visão feminina e uma combativa heroína adolescente, Katniss, como protagonista.
Seria, porém, a melhor opção para o tema desta antologia? As distopias costumam servir para apontar e denunciar tendências, fortes ou apenas incipientes, que podem levar a sociedade a um rumo indesejável. 1984 de George Orwell era uma advertência contra o totalitarismo. A ficção cyberpunk dos anos 1980, pelo contrário, sugeria os perigos do esvaziamento do Estado em proveito de conglomerados privados. Jogos Vorazes aponta para o aumento da desigualdade social, do belicismo e do entretenimento violento.
Quanto à pauta do feminismo, porém, incluída nela as questões do aborto e do preconceito contra homossexuais e transexuais, é difícil sustentar que hoje as tendências sejam negativas. Ninguém tem de se dar por satisfeito, arealidade ainda é lamentável, mas os avanços das últimas décadas são palpáveis, a perspectiva é melhor que a das gerações anteriores e não parece haver razão para recear que evolua para pior (redutos do fundamentalismo religioso à parte). O mundo de Jogos Vorazes, vale notar, é distópico em muitos sentidos, mas não nesse: moças e rapazes correm os mesmos perigos e têm as mesmas (raras) oportunidades.
Ressaltar numa distopia futurista as injustiças as injustiças e desigualdades das quais mulheres e minorias sexuais continuam vítimas não soa tão convincente quanto uma advertência sobre, digamos, a questão ambiental, cuja deterioração é real e visível. No pior dos casos, pode dar a entender que tais desigualdades e injustiças são inerentes à natureza humana e jamais serão superadas. Para a denúncia da realidade, a ficção realista seria provavelmente mais eficaz. Por que não, em vez disso, explorar mais atrevidamente as possibilidades de que as relações de gênero, o amor e a família do futuro sejam completamente diferentes ? Por que não imaginar um mundo no qual seja rotineiro que homens engravidem e amamentem? Onde muitos gêneros são comuns e socialmente aceitos e reconhecidos? Ou as pessoas troquem de sexo como mudam de roupa? Não deixaria de ser, pelo contraste, uma maneira de “evidenciar os problemas que temos em relação ao machismo, homofobia, transfobia, racismo etc.”, como de fato acontece no único conto que optou pelo enfoque utópico.
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O último conto, “Projeto Áquila” (referência irônica ao filme “O Feitiço de Áquila” ou Ladyhawke, de Richard Donner) da professora e doutoranda de literatura Gabriela Ventura, acabou por se mostrar o melhor de todos e merece ser mencionado em primeiro lugar. A especulação científica é plausível, engenhosa e original, o suspense bem armado, a linguagem adequada e a trama, mesmo estranha, é coerente e verossímil do ponto de vista científico tanto quanto do psicológico. Um casal cujo relacionamento competitivo se deteriora até chegar a uma forma inédita de cárcere privado e uma vingança ainda mais insólita. Interessante como um caso tão individual e peculiar consegue, mesmo assim, servir como tema de reflexão para questões de gênero que interessem a todos e todas. Não de forma particularmente pessimista nem otimista, pois não tematiza a sociedade (neste caso um pano de fundo praticamente neutro) e sim a dinâmica de um casal.
Não tenho mais família a quem recorrer e acho difícil contatar meus antigos amigos. Na ânsia por encontrar o destinatário perfeito, lembrei do meu próprio necrológio. Apesar de não gostar particularmente da foto que escolheram – estou muito séria, logo eu que nunca associei casmurrismo à competência – guardei aquele artigo, menos por vaidade do que para me lembrar que estou real e irrevogavelmente morta.
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“Codinome Electra”, de Lady Sybylla, pseudônimo de uma geógrafa, feminista e paleontóloga que mantém o excelente blog de ficção científica Momentum Saga (http://www.momentumsaga.com/)  tem ideias interessantes, mas erra a mão no despejo de informação, dando detalhes excessivos sobre pontos sem consequência e insuficientes em outros mais importantes para o cenário e a narrativa. O aspecto cibernético e informático do ambiente estão bem desenvolvidos, mas o físico e químico deixam a desejar. Na primeira parte do conto, por exemplo, uma nave “emborca” no espaço, o que não faz sentido – onde não há gravidade, não há como “adernar”. Também fez falta de um desenvolvimento mais verossímil da protagonista, que passa rapidamente demais de soldada exemplar a dissidente disposta a um atentado contra uma instalação secreta. É o único conto de traços utópicos em toda a antologia. Descreve um futuro não isento de problemas e conflitos, mas que é próspero, igualitário e superou preconceitos de raça, gênero e orientação sexual do passado.
Sentindo fortes pinçadas no peito, foi preciso jogar o magojin no chão para apertar o ponto de nanomeds atrás de sua orelha direita, cirurgiões de escala nanométrica. Eles recuperariam sua costela quebrada em nível celular e imediatamente liberaram analgésicos em sua corrente sanguínea. Cuspindo sangue no piso, ela finalmente conseguiu respirar fundo sem sentir uma dor lancinante logo abaixo do coração. A queda da escada não tinha sido programada, porque foi quando deu de cara com o magojin. Tinha marcado uma rota de fuga usando o dispositivo de mapeamento implantado em seu cérebro, onde as informações sobre localização, temperatura ambiente, umidade do ar e sua composição rolavam em seus globos oculares. No meio de sua corrida para sair da nau-capitânea, ele apareceu nas escadas de serviço. Antes que mirasse para sua cabeça, Electra o acertou no joelho com a coronha de seu rifle e ambos rolaram vários degraus.
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“Quem sabe um dia, no futuro”, do publicitário paraibano Alex Luna, é uma releitura do universo dos robôs de Asimov do ponto de vista dos mesmos, neste caso no papel de maridos/esposas de seus amos humanos. Robôs dotados de aspirações, medos e frustrações, apesar de estarem submetidos às famosas leis da robótica. A ideia é boa, o que deixa a desejar é a forma narrativa. Tudo é confissão e reflexão da robô protagonista. A mesma história seria muito mais interessante a atraente se mostrasse o dia-a-dia da robô, em vez de apenas contá-lo. Neste caso, a subordinação das mulheres aos homens parece ter sido substituída pela submissão de robôs inteligentes a humanos, num simples deslocamento do problema.
Gilberto só precisa trabalhar fora de casa dois dias por semana, e o resto, passa em casa comigo. Às vezes eu o ajudo com suas tarefas. Ele sempre me diz que sou muito boa com números e me agradam as tarefas repetitivas, que ele não tem paciência para fazer. É fantástico poder ajudá-lo num trabalho tão importante. Eu não consigo entender toda a complexidade do assunto, sou incapaz de criar qualquer coisa nova, mas fico satisfeita em contribuir pelo menos um pouquinho.
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O conto “Uma terra de reis”, da estudante de publicidade Dana Martins, é uma história de uma protagonista que parece uma personagem de videogame agindo num ambiente virtual, preocupada com vencer a próxima batalha sem que esteja claro o que está em jogo. O cenário é distópico, aparentemente pós-apocalíptico, com traços pouco originais. Não tematiza explicitamente questões de gênero – é feminista no sentido de ter como protagonista uma “mulher de ação”, ajudada por um homem que cura seus ferimentos. Ao contrário do conto anterior, sofre por ter pouca reflexão e demasiada ação, redundante e repetitiva.
– Sai, Maya.
– Apenas largue ela, Dev,
– SAI, MAY - - meu punho acerta a boca dele e ele pula para o outro lado, viro para Oliv, mas mais rápido que um gato ela desaparece dentro do barraco e fecha a porta por trás da colcha. Respiro fundo e estico meus dedos doloridos. A boca dele não parece nem um pouco afetada pelo meu soco, já os olhos transmitem um ódio mortal.
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“Meu nome é Karina”, do professor e pesquisador de políticas ambientais Ben Hazrael, é um conto mais hábil, com sutileza e sensibilidade. Trata-se de uma transexual à qual é proposta uma oportunidade insólita de se reconciliar com a vida que envolve um arriscado jogo entre universos paralelos. A ficção científica serve neste conto como meio de dramatizar seus sonhos e dilemas.
– Guilherme, pare de se comportar como uma putinha. Se vista como homem! Não me envergonhe na frente de meus convidados, seu garoto de merda! Se por acaso não conseguir esse financiamento, vou te partir a cara, maricón!
– Meu nome é Karina, pai.
Então eram as surras e o porão.
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“Eu, incubadora”, da escritora e feminista Aline Valek, é outro conto asimoviano, como indica a alusão a “Eu, robô” no título. Seu ponto fraco é que, embora inclua trechos dramatizados e busque uma grandiosidade épica, trata-se na essência da exposição didática de uma tese. Para uma obra de ficção literária, falta expressividade. Tanto as personagens quanto as situações são abstrações sem vida. Abstrações inteligentes, sem dúvida, e aproveitáveis como reflexão sobre o aborto, o papel da mulher e o futuro papel das inteligências artificiais. Mas parece um simples esboço, anotado para desenvolvimento posterior, do que poderia ser uma excelente novela ou romance de ficção científica se recebesse um desenvolvimento propriamente literário.
Diana entende bem o que é isso. Mãe de sete crianças, ela passou por esse processo mais vezes do que gostaria e não conhece outra forma de vida que não seja a materna. Antes de Demétrio, seu primeiro filho, estudava em uma faculdade de engenharia robótica, profissão que ela seguiria se a carreira de mãe não exigisse tanta dedicação e tempo. Seu marido, que trabalha como engenheiro robótico auxiliar, costuma dizer que inveja Diana por poder ficar em casa com as crianças enquanto ele fica preso em um laboratório consertando e reprogramando Coisas, mas ela não tem tanta certeza assim de seu privilégio.
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“Um jogo difícil”, do estudante de design gráfico Leandro Leite, é satisfatório como conto e como mensagem feminista, mas não tanto como ficção científica. É a história de uma mulher estivadora que enfrenta o machismo dos colegas e a perseguição da super-empresa que a demite e persegue. Falta, porém, imaginação científica e tecnológica: embora a história esteja oficialmente ambientada mais de cem anos no futuro (o século XXI é mencionado como passado), passa-se para todos os efeitos nos anos 1980. Mesmo para 2013, soa um tanto ultrapassada: não se usam tecnologias de vigilância e rastreamento (câmeras, GPS) hoje rotineiras, os táxis são iguais aos que conhecemos, a TV é a única fonte de informação e entretenimento e informações clandestinas são transmitidas por rádio de ondas curtas. As menções a tecnologias futuristas são detalhes decorativos sem importância para o enredo. Há apenas um pouco de ficção política - empresas que exercem poder de Estado e guerreiam entre si.
Não era uma mulher feia, pelo menos não na metade direita. Lutar para provar seu valor nesse mundo e profissão tão masculinos lhe custou a simetria do rosto. Numa briga durante o trabalho, percebeu que por mais que os argumentos lhe dissessem que estava correta, não estava livre de um ego frágil e vingativo. Um colega que se sentiu “humilhado” por essa “mulherzinha” estar tomando sua vaga achou que seria justo acertar-lhe o rosto com um cano de aço. A linha esquerda de seu maxilar nunca voltou ao normal, nem sua vida social. Não eram raras as piadas sobre como os homens tinham que levar camisinhas e um saco de papel quando fossem sair com ela.
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“Memória Sintética”, de Camila Mateus, formada em Redes, cria uma personagem interessante e confere ritmo, drama e suspense à sua história sem deixar de incorporar de fato a especulação científica a seu enredo, baseado em androides criados para abrigar as mentes de pessoas falecidas. As questões feministas, que surgem na forma de discriminação e violência contra uma personagem secundária, surgem de maneira um tanto forçada e incidental, com pouca relevância para o conflito fundamental para o enredo. Além disso, o texto sofre pela construção desajeitada de certas frases e uso semanticamente inadequado de certas palavras.
Foi uma queda de 49 andares que, devido ao seu peso, não demorou mais que 20 segundos para chegar ao chão. Procurou cair firmando os pés no chão, mas ainda não tinha o controle de si mesma e acabou usando o braço instintivamente como proteção. Este se dividiu pelo cotovelo, preso por tiras de silicone que formavam sua pele, cabos de cobre e alguns eletrodos revestidos que eram conectados ao córtex, auxiliando nos movimentos do braço e da mão. Nada mal, pensou, enquanto segurava o braço danificado.
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“Réquiem para a humanidade”, da bióloga e geneticista Thabata Borine, é um conto mediano sobre primeiro contato e invasão alienígena. Como é comum em contos deste subgênero, a protagonista custa a ser levada a sério em suas advertências sobre a necessidade de pesquisar as civilizações alienígenas e só é ouvida quando o ataque começa – mas da maneira como é contada a história, é-se levado a crer que isso não fez a menor diferença: a humanidade, de qualquer maneira, jamais teria chance contra esses invasores
Novamente, a articulação com temas feministas sai forçada. A protagonista é uma negra de origem pobre, vive uma união lésbica, mas se formou em astrobiologia e tem uma posição relativamente importante. Ela sofre uma súbita tentativa de estupro de um homem que até então parecia ser o melhor amigo, mas se safa e consegue que ele seja afastado. No conjunto a sociedade parece imperfeita, mas até um pouco melhor do que a atual. Entretanto, nos é dito que os alienígenas destruirão a humanidade porque alguns de seus membros têm sentimentos de superioridade sobre outros em função de gênero e raça. Parece que apenas uma sociedade perfeita merece existir e, portanto, ninguém merece viver.. A sensação geral é de pessimismo e impotência contra os desafios reais ou imaginários do futuro. Resistance is futile?
Anteriormente, estávamos criando colônias e extraindo recursos dos mais diversos planetas da nossa galáxia. Nunca tivemos muitos escrúpulos, mas quanto mais percebíamos que éramos a única espécie inteligente viva, mais aproveitávamos essa posição. Socialmente, parecíamos ter criado uma sensação de igualdade, todos trabalhando pelo nosso futuro. Acreditávamos que tínhamos superado os preconceitos antigamente enraizados em nossas culturas, mas agora percebo que isso não era real. E por que eu estou falando isso? Porque nosso ataque só ocorreu devido à nossa incapacidade de nos considerarmos verdadeiramente iguais.
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“Cidadela”, da jornalista Lyra Libero, é um conto distópico sobre uma futura ditadura evangélico-machista-socialista-igualitária (sim, tudo isso de incongruência) na região de Campo Grande, MS, onde praticamente todas as mulheres são estupradas e obrigadas a terem filhos e quase todos vivem na miséria, exceto uma pequena e rica elite dirigente. A história acompanha uma pobre trabalhadora que se mete em dificuldades ao tentar conseguir uma cremação para a mãe morta com dinheiro poupado ilegalmente e uma mulher menos desafortunada que é parte de um movimento revolucionário liderado por membros da elite. O quadro é confuso e contraditório. É uma sociedade que combina tudo que a autora considera ruim, mesmo males incompatíveis entre si, e onde apesar de uma vigilância supostamente onipresente, pessoas demais fazem o que querem. A narrativa exagerada e sentimental não ajuda a torná-lo mais verossímil, os tropeços da linguagem são frequentes e o desfecho é forçado e implausível.
Consternada, Irina sentou-se novamente no banco e começou a soluçar todas as lágrimas que não havia chorado ainda pela mãe recém morta. Os guardas não olharam duas vezes para ela enquanto finalmente se debulhava em lágrimas, e deixava o pavor tomar conta de sua expressão. Então, aos poucos, foi silenciando, aceitando resignada seu destino. Era possível haver mais sofrimento? As mulheres precisavam mesmo sofrer tanto? (...)
Ela nunca se imaginou grávida em toda a sua vida, porque em primeiro lugar não poderia, nunca, engravidar sem uma permissão expressa que seria livre da praga e que seu filho nasceria sem as obrigações estatais. E para dar entrada nesse tipo de decisão, apenas homens eram autorizados a desonerar seus rebentos. Não caberia a uma mulher direitos sobre isso. Ela era, como a igreja gostava de dizer, “o receptáculo da vida”, mas decidir sobre a vida dos filhos, apenas homens. E como a maioria das gestações eram fruto de estupro, ninguém nascia livre.

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