por Ana Cássia Maturano
Não canso de me surpreender com as crianças e dos belos exemplos que elas nos dão. Muito se tem falado do consumismo exacerbado e de como estamos criando nossos filhos nesta ideia. Apesar dos pais se queixarem de que os pequenos pedem a todo o momento para comprarem coisas, o certo é que não nasceram assim. Adquirem, deixam de lado, para logo em seguida requisitarem outro produto.
Os adultos também têm agido desta maneira. Estão sempre comprando e procurando atender aos desejos das crianças. E tudo se transforma numa bola de neve, que parece nunca ter fim ou bastar. Talvez possamos aprender com os pequenos algumas coisas.
No Dia das Crianças, um garotinho de cinco anos, que ainda não tinha ganhado nada, foi levado pelos pais a uma grande loja de brinquedos. Assim que chegou, disse querer um jipe que custava mais de dois mil reais. Diante da negativa seguida de uma justificativa, sem stress algum, passou a olhar com atenção vários itens. Os pais ofereciam um ou outro que cabia no orçamento, até que triunfante disse ter achado o que queria: um baldinho com soldadinhos. Há tempos havia pedido para a mãe este brinquedo.
Como estava muito abaixo do orçamento previamente combinado, os pais pensaram em permitir-lhe que escolhesse mais alguma coisa, mas um deles desistiu da ideia. Afinal, o menino havia escolhido o que queria, parecia muito satisfeito e o combinado era apenas um brinquedo. Na cabeça dos pais, devido ao valor, era muito pouco aquilo. Puderam, no entanto, rapidamente não cair no engano de ensinarem o filho que o que vale num brinquedo é o quanto ele custa, não o que significa.
Mas este sábio garotinho, meses atrás, havia surpreendido sua mãe numa outra situação de compra. Diante de ele pedir muito que queria um brinquedo novo qualquer, ela o levou a uma loja de R$1,99. Depois de muito olhar os produtos e sem conseguir se decidir, justificou-se: “Mãe, eu já tenho tudo!” Com sua pouca idade, este menino conseguiu discriminar o que realmente precisava: Um brinquedo diferente e não simplesmente comprar algo. Ou, indo além, na ânsia de comprar ficou pedindo, mas ao constatar a realidade viu que não era necessário.
Quando me deparo com histórias assim, vejo o quanto o desejo de compra é maior nos pais, cujo comportamento acaba influenciando os filhos. Lembro-me de uma mãe que queria fazer a coleção dos cinco personagens de um desenho animado para a filha, que não tinha muito interesse nisso. E de outra que comia os vários lanches de uma rede de fast food para conseguir todos os brindes para sua pequena.
O que essas crianças aprenderam? Provavelmente que não basta ter um, é preciso ter todos. Ou seja, adquirir muito torna-se uma necessidade.
Quem sabe se ajudarmos os filhos a discriminarem o que realmente querem ou precisam, eles não se tornarão pessoas compulsivas em comprar. Como este garoto de cinco anos. Este exercício, no entanto, deve partir dos adultos, cujos exemplos têm um significado importante na conduta dos pequenos.
O protagonista dessas histórias tem brincado todos os dias com seus soldadinhos.
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