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domingo, 17 de agosto de 2014

É possível morrer de coração partido?

Atualizado em  16 de agosto, 2014
Coração partido
Estudo mostra que morte de pessoas queridas aumenta chances de problema cardíaco
Quando Margaret Williams morreu, no País de Gales, no mês passado, seu marido Edmund escreveu um poema para o velório. Eles estavam casados há 60 anos e, aos 80, ainda caminhavam no jardim de mãos dadas.
Uma semana após a morte de Margaret, Edmund morreu. O funeral dela virou de ambos e os caixões ficaram lado a lado. O poema que ele havia escrito para ela foi lido para os dois.
Em abril, Helen Felumlee morreu em Ohio, nos EUA, e seu marido Kenneth a seguiu 15 horas depois. Ambos estavam na casa dos 90 anos.
A família disse que o casal tinha dividido a cama por 70 anos - quando foram colocados em beliches em uma viagem, se aconchegaram na cama de solteiro de baixo. "Nós sabíamos que quando um fosse, o outro também iria", disse a filha do casal ao jornal local.
Mas é possível morrer em decorrência de coração partido?
Uma pesquisa publicada no início deste ano no periódicoJAMA Internal Medicine indicou que, embora aconteça raramente, o número de idosos que sofreram ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral (AVC) no mês seguinte ao da morte de um ente querido foi o dobro em relação a um grupo de controle com idosos que não estavam de luto.
No grupo de luto, 50 pessoas entre 30.447 (0,16%) tiveram problemas de saúde, em comparação com 67 (0,08%) entre 83.588 no grupo de controle.
"Muitas vezes usamos o termo 'coração partido' para falar sobre a dor de perder alguém que amamos, e nosso estudo mostra que o luto pode ter um efeito direto sobre a saúde do coração", disse à BBC um dos autores, Sunil Shah, da Universidade de Londres.

Síndrome do coração partido

Edmundo e Margaret Williams. Arquivo pessoal
Edmund escrreveu um poema para o velório de Margaret, mas morreu antes da homenagem
Existem referências sobre a "síndrome do coração partido", conhecida formalmente como cardiomiopatia do estresse ou cardiomiopatia Takotsubo.
De acordo com a Fundação Britânica para o Coração, trata-se de uma "condição temporária, na qual o músculo cardíaco de repente se enfraquece ou entra em choque. O ventrículo esquerdo, uma das câmaras do coração, muda de forma."
O evento pode ser causada por um choque. "Cerca de três quartos das pessoas com diagnóstico de cardiomiopatia de Takotsubo sofreram estresse físico ou emocional significativo antes de ficarem doentes", diz a Fundação.
Essa tensão pode ser luto ou um choque de outro tipo, como sustos em peças pregadas por colegas, ou medo de falar em público. A hipótese é que a súbita liberação de hormônios - em particular, a adrenalina - cause o choque do músculo cardíaco.
É diferente de um infarte, quando o coração para porque o fornecimento de sangue é interrompido, muitas vezes por artérias obstruídas.
Já a maioria dos pacientes que sofre de cardiomiopatia "têm artérias coronárias bastante normais e não têm bloqueios severos nem coágulos", diz o site da universidade americana Johns Hopkins.
Muitas pessoas simplesmente se recuperam; o estresse vai embora e o coração volta à sua forma normal. Mas em alguns casos, como em idosos ou naquelas que têm uma doença cardíaca, a mudança na forma do coração pode provocar ataque cardíaco.

Perda

"
Usamos o termo 'coração partido' para falar sobre a dor de perder um alguém, e nosso estudo mostra que o luto pode ter um efeito direto sobre a saúde do coração"
Sunil Shah, Universidade de Londres
Há evidências de que a morte após a hospitalização de uma pessoa eleva o risco de morte do parceiro, de acordo com um estudo publicado em 2006 no New England Journal of Medicine.
Outra pesquisa, publicada em 2011, sugere que, após a morte do companheiro, as chances de o sobrevivente morrer durante os seis meses seguintes aumentam.
Os pesquisadores destacaram que um casamento em que os parceiros se apoiem age como um "tampão", afastando o estresse. Os parceiros também monitoram uns aos outros e incentivam comportamentos saudáveis, lembrando-se mutuamente de tomar remédios, por exemplo, e cuidando para que o outro não beba demais.
A "síndrome do coração partido" tem efeitos contrastantes. Há, naturalmente, a tristeza de uma família que perde, de uma vez só, duas pessoas amadas. Mas há também, muitas vezes, o alívio de saber que um casal profundamente apaixonado deixou a vida junto.
O poema de Edmund Williams, o octogenário do País de Gales, para sua mulher Margaret falava sobre "dois amantes entrelaçados" e uma viagem "até o fim do fim do tempo".
Se existe uma condição benevolente de coração, certamente cardiomiopatia de Takotsubo é um dos diagnósticos. Mas "morrer de coração partido" resume melhor a situação.
Colaborou Tammy Thueringer.

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