Arturo Wallace
Da BBC Mundo em Bogotá
Atualizado em 28 de agosto, 2014
À primeira vista, Laura, de 22 anos, se assemelha a qualquer outra estudante a caminho das aulas de manhã: em um terminal de ônibus em Bogotá, ela se veste em roupa casual e leva uma bolsa cruzada no peito.
Parece, mas não é. Laura é uma policial colombiana em uma missão: ela integra uma equipe especial de agentes à paisana cuja função é combater o abuso sexual na rede de ônibus de Bogotá.
Sete outros oficiais sem uniforme realizam a patrulha junto com ela, a maioria, mulheres.
Não é tarefa fácil: em média, o sistema Transmilenio de ônibus transporta cerca de 2 milhões de passageiros por dia.
Pesquisa realizada há alguns anos revelou que seis entre dez mulheres em Bogotá já haviam sofrido abuso sexual ao menos uma vez nos ônibus lotados da cidade.
Apesar de apenas uma minoria registrar queixas, o número de denúncias tem crescido: de 81 em 2013 para mais de 150 nos primeiros oito meses deste ano.
Laura acredita que a nova iniciativa está funcionando. "Não temos recebido tantas queixas de abusos como quando nós começamos", aponta.
'Maré está virando'
A tenente Lina Maria Ríos comanda as operações do Grupo de Elite Transmilenio. Ela confirma uma queda no número de casos registrados desde o início da iniciativa.
"Ainda é cedo para dizer, mas parece que a maré está virando", diz ela.
A equipe realizou 17 prisões, a maioria nas duas primeiras semanas de patrulha.
"Pode ser que as pessoas estejam pensando duas vezes, porque não querem arriscar assediar uma garota que pode ser uma policial à paisana", disse Lina.
Mais que punir, o projeto visa a dissuadir potenciais criminosos. As integrantes garantem que não estão agindo como iscas - o que foi sugerido pela imprensa local após uma das oficiais ter participado de um encontro com a imprensa vestindo jeans apertados.
"Isso significaria que nós é que estaríamos cometendo o crime", disse Nestor, um dos quatro homens na equipe.
O maior número de mulheres não se justifica pelo gênero dos potenciais criminosos, e sim leva em conta a perspectiva das vítimas, dizem os agentes.
"Outras mulheres não se sentiriam à vontade se ficássemos olhando para elas durante uma situação potencialmente desconfortável", disse Yuri, especialista em coleta de inteligência, e treinado para identificar comportamento suspeitos.
"É também para informar as mulheres que elas não estão sozinhas, que as mulheres na polícia as estão protegendo", disse Lina.
As sete mulheres, assim como o restante dos 11 integrantes do projeto, foram selecionadas pela experiência com trabalho à paisana, com grupos vulneráveis e coleta de informações.
'Aparência normal'
Antes de se tornar coordenadora da equipe, Lina já estava acostumada com o trabalho à paisana, patrulhando os ônibus do sistema Transmilenio para evitar a ação de assaltantes.
O trabalho agora é diferente, diz ela. Lina explica que os criminosos que ela busca raramente agem com violência quando são flagrados - e que eles vêm de toda parte da sociedade, "jovens e velhos, ricos e pobres, com aparência estranha e normal".
Com um perfil tão variado, os membros da equipe foram treinados a observar comportamentos suspeitos, e não aparências estranhas.
Eles prestam atenção em homens que encaram os seios ou bumbuns de mulheres e aqueles que mantêm as mãos abaixadas quando faria mais sentido segurar as barras dos ônibus.
Os agentes estão prontos para agir ao menor sinal de contato impróprio não acidental.
Ação rápida
Flagrar criminosos é apenas parte do trabalho dos agentes. Eles também são acionados para agir rapidamente após queixas de abusos sexual na rede Transmilenio. A ideia é agir rapidamente para demonstrar que as autoridades levam a questão a sério.
"Muitas vítimas não denunciam os ataques porque elas acreditam que é perda de tempo. Queremos mudar isso", disse Leydi, que também integra a equipe.
Outra agente lembra o momento em que ela mesma foi assediada ao descer de um ônibus. "Consegui bater no peito do cara antes que as portas se fechassem, mas é uma situação horrível, você se sente impotente", relatou.
Pesquisas sugerem que um quarto dos homens de Bogotá não veem problema em tocar uma passageira - sinal de que a equipe ainda tem muito trabalho pela frente.
O grupo reconhece que, sob as leis atuais, a maioria dos criminosos não deve ser presa. Mas eles esperam que o trabalho possa pelo menos chamar atenção para o problema.
"É por isso que estamos fazendo isso. Para que essas coisas não aconteçam novamente", disse uma agente.
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