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domingo, 31 de agosto de 2014

Em curta, caça a dragão serve de metáfora para falar sobre combate às drogas

Filme lançado por comissão internacional mostra monstro que se fortalece ao ser combatido com violência

POR DANDARA TINOCO
31/08/2014

Bicho de quatro cabeças: Em cena do filme, grupo decide que o melhor é cessar a violência contra o dragão que simboliza as drogas
Foto: Reprodução
Bicho de quatro cabeças: Em cena do filme, grupo decide que o melhor é cessar a violência contra o dragão que simboliza as drogas
Foto: Reprodução
RIO - Era uma vez um dragão chamado Drugo. O monstro fabuloso encantava habitantes do reino onde vivia. Fazia até com que alguns deles deixassem de trabalhar e cuidar de suas famílias para passar tempo com a criatura. O rei, então, deu início a uma caçada. Mas, mesmo escondido, o bicho continuou despertando atração. Grupos armados surgiram para lucrar com visitas a Drugo. E quem tinha contato com ele, passou a ser preso, o que deixou os calabouços lotados. Quanto mais se tentava combater o monstro, mais poderoso e agressivo ele ficava. Só depois de cinco décadas de guerra, um grupo decidiu que o melhor era cessar a violência contra o dragão e cuidar daqueles que dele dependiam.

A história é contada em “Guerra ao Drugo”, curta em animação lançado pela Comissão Global de Políticas sobre Drogas. Com a metáfora sobre a violência relacionada ao combate das substâncias ilícitas, o grupo pretende ampliar a discussão em torno do assunto.

- Pretendemos desconstruir a ideia da repressão e da criminalização das drogas. E Drugo ajuda nesse plano. É claro que em um filme de três minutos não é possível dar conta de todos os aspectos envolvidos nessa questão, como os de saúde, raciais e de geopolítica, mas funciona para pessoas que nunca pararam para pensar no assunto. Queremos que elas reflitam - explica Rebeca Lerer, coordenadora de comunicação do secretariado da comissão.

A história do curta, uma animação em stop motion (técnica que usa fotogramas) dirigida por Gabriel Nóbrega, foi criada pelo publicitário Marcello Serpa, da AlmapBBDO. Ele buscou inspiração na mitologia para criar a narrativa sobre Drugo.

- Os gastos no combate a drogas são de milhões, mas o consumo delas só aumenta. Por isso, lembrei de uma passagem da história dos doze trabalhos de Hércules, em que ele tentava matar a hidra de Lerna. Quanto mais a atacava, maior ela ficava. Daí nasceu a metáfora. - conta Serpa. - É uma forma diferente de falar sobre o tema com pessoas que não acreditam na causa, de maneira lúdica, clara e direta.

‘USUÁRIOS NÃO PRECISAM DE POLÍCIA’, DIZ MEMBRO DE CAMPANHA

As reações à fábula mostram que a metáfora sobre o dragão é para gente grande. Tarso Araujo, da campanha Repense, que reflete sobre o uso terapêutico da cannabis, crê que a iniciativa pode levar as pessoas a refletirem sobre o assunto. Para ele, a atual política de enfrentamento às substâncias ilícitas está fracassada e tem consequências “nefastas”:

- Apesar de, nas últimas duas décadas, os Estados Unidos terem gasto US$ 15 bilhões por ano em políticas de drogas (80% dos recursos em repressão), o consumo delas não parou de aumentar. Usuários não precisam nem de médico nem de polícia. E os doentes precisam de cuidado, não de repressão.

Araujo afirma que, no Brasil, o tema tem tido avanços apenas em exemplos localizados, com efeitos restritos. No plano nacional, cita o projeto de lei 7663/10 do deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS) como um retrocesso.

A proposta, que já passou pela Câmara e aguarda votação no Senado, prevê aumento das penas para tráfico e internação compulsória de dependentes químicos. De acordo com o parlamentar, é preciso mais rigidez no assunto.

DEPUTADO CRITICA CURTA

- As drogas funcionam como uma epidemia viral: quanto mais vírus no ambiente, mais gente doente. E, com epidemia, temos de jogar duro, para proteger vítimas - argumenta Terra, criticando a metáfora de “Guerra ao Drugo”. -Não existe dragão no mundo real, existem pessoas, existe a saúde dessas pessoas. Essa é uma metáfora mal feita. Nós somos produtos de uma caminhada da história humana em que substâncias que causam alterações psíquicas, e que dão prazer no início, e, em seguida, causam problemas graves.

A opinião é divergente da avaliação de Cristovam Buarque (PDT-DF), relator da sugestão popular de regulamentação do uso da maconha que está em discussão no Senado. Para o senador, que dividirá seu relatório em duas partes - a primeira sobre o uso medicinal e a segunda sobre o consumo recreativo - desaprova a militarização do combate às substâncias ilícitas. No entanto, enumera algumas questões que, para ele, ainda estão em aberto no debate, assim como no curta lançado pela Comissão Global de Políticas sobre Drogas:

- Achei o filme extremamente criativo e bonito, mas, como toda metáfora, é simplista. A realidade é mais complicada que aquilo. Se nos acostumamos com o dragão que é a droga, a dependência por ele aumenta ou diminui? E será que aquele dragão levaria a pessoa a cair nos braços de um dragão muito pior? Ou não? O que o filme tem de bom é mostrar que proibir o dragão não resolve a questão. Mas, talvez, a solução não seja aceitar totalmente o dragão.




O Globo

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