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domingo, 21 de setembro de 2014

Não dá para adiar mais: a educação entra no debate do desenvolvimento


educação

Sexta-feira, 19/09/2014, por Amelia Gonzalez

Tal como quando o livro “Capital do século XXI”, do francês Thomas Piketty, esquentou o tema desigualdade social em abril desse ano, agora parece que a humanidade quer pôr em debate o fato de que é preciso facilitar mais, ou organizar melhor, o acesso global à educação. Isso não é nada simples,  mas necessário, para que haja realmente desenvolvimento sustentável no mundo. Essa é a principal mensagem do relatório oficial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgado na quinta (18).
O estudo mostra que pessoas que passam pelos bancos escolares são menos pobres – um ano de educação equivale à elevação salarial de 10% e freia o ciclo de transmissão de pobreza entre as gerações. Seria, assim, mais uma saída para a desigualdade.
Segundo ainda a agência da ONU, as mulheres também podem se beneficiar muito quanto mais recebem instrução. Mais informadas elas podem evitar doenças, complicações na gravidez, conseguem regular melhor sua fertilidade e, ao mesmo tempo, cuidar mais de seus bebês, baixando o número de mortalidade infantil que, em 2012, estava em 6,6 milhões ao ano.
Meninas, jovens e senhoras bem informadas conhecem seus direitos e têm mais potência para poder reivindicá-los. O relatório da ONU mostra que na África Subsaariana, no Sul e Oeste da Ásia, quase 3 milhões de meninas se casam por volta dos 15 anos. Se todas as jovens da região completassem ao menos o ensino primário, os especialistas que fizeram o estudo garantem que esse número baixaria para menos de um milhão.
Por tudo isso, o tema educação será central para alcançar as metas que ocuparão o lugar dos Objetivos do Milênio (ODM) cujo prazo expira no ano que vem. Segundo o relatório da ONU é preciso estar bem informado também para cuidar melhor do meio ambiente. Pesquisas feitas em dez países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) deram conta de que pessoas que ocupam ou ocuparam por mais tempo os bancos escolares atendem mais facilmente ao apelo para economizar água e outros recursos naturais.
Aqui no Brasil, há o que comemorar nesse sentido. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, divulgados na quinta, quase 100% (98,4%) das crianças com 6 a 14 anos do país estão em escolas. Um índice conseguido na última década por governos que decidiram olhar mais para o pé da pirâmide e dividir o bolo mesmo antes de esperá-lo crescer. A taxa de escolarização caiu para 84,3% na faixa dos 15 aos 17 anos, período correspondente ao ensino médio: no ano passado era de 84,2%. Entre os jovens de 18 e 24 anos, idade de cursar a faculdade, porém, a participação na escola é de 30,1%.
Esse último dado faz com que a comemoração por uma melhora quantitativa na educação seja acompanhada por uma inquietante pergunta: o que faz com que os jovens abandonem as escolas ao longo da vida? Pessoas interessadas em desvendar o fenômeno, que não é novo, há tempos tentam pensar soluções, arranjar caminhos que possam tornar o estudo atraente. Não é uma tarefa fácil, sobretudo porque há que se competir, hoje, com a proliferação de informação fácil, adquirida depois de um clique no computador, o que dá a ilusão, para os mais jovens, de que os livros são desnecessários. E há ainda quem defenda a ideia de que educação não é para todos, mas para quem quer. Porque estudar não é fácil, exige uma carga de envolvimento e de compromisso que nem todos têm.
Seja como for, não faltam debates. Também na quinta estive em São Paulo, a convite da Globo, para participar como ouvinte da segunda edição do seminário “Educação: Mitos X Fatos” que a empresa fez em parceria com o Unicef. Em depoimentos gravados pela Central Única das Favelas (Cufa), 300 pessoas de sete cidades puderam dar suas opiniões sobre quatro mitos: “A educação é responsabilidade da escola?”, “A escola parou no tempo?”, “O jovem não valoriza a educação?” e “Educação não dá voto?”.  O material serviu como base para a abertura do debate entre quatro especialistas, ancorado pela jornalista Míriam Leitão. O resultado vai ao ar no dia 27 de setembro às 21h na Globonews e no dia 30 de setembro pelo Canal Futura às 21h30m.
É preciso achar uma saída, disse a educadora e diretora de uma instituição pública de ensino Eliane Ferreira, para o fato de a escola ter sido atropelada pelo tempo.
“A tecnologia encontra hoje uma escola do século passado. Os professores estão desmotivados, sem querer o debate, sem confiança, com medo de se sentirem substituídos pelos dispositivos. Tivemos aumento de alunos, mas isso não se traduziu em qualidade. As escolas públicas receberam investimentos, mas os governos brasileiros têm mania de não ouvir os destinatários de suas políticas” disse ela.
Sim, os professores são a principal chave para promover uma mudança para melhor na educação. E precisam receber, por parte das autoridades, o apreço necessário. Como estamos num sistema capitalista, este apreço precisa ser, principalmente, sob a forma de capital. Professor precisa ter sobra de dinheiro no salário para comprar livros, viajar, conhecer novos lugares, se capacitar. Precisa também ter algumas horas a mais para isso, em vez de sair de uma escola correndo para outra e, no fim do dia, chegar em casa exausto para ainda corrigir trabalhos. 
Outro ponto levantado durante o encontro, mais complexo mas não menos importante, foi o da representação. Jaílson Souza e Silva, sociólogo, lembrou que a imagem de “escola chata” faz parte de um processo de desqualificação perverso que precisa ser revertido e pensado.
“Tem que enfrentar essa representação de impotência e minimizar a importância tão grande que é dada à escola. Assim como a gente tem N jovens e falar de um só é complicado. Cada um está tentando se inventar utilizando a escola como meio, não como um único foco”, disse ele.
Jaílson tocou também num outro ponto importante: não se pode pensar em formar alunos só para o mercado de trabalho, senão ficamos reféns de uma lógica de consumo. É preciso trabalhar a convivência, fazer uma reforma curricular que leve em conta o desejo dos alunos e sistematizar uma metodologia que leve a uma compreensão melhor sobre o papel da escola no século XXI. Mais ou menos assim: ok, é possível obter informações via internet. Mas, onde ficam a relação, o contato com outro ser humano, a troca de experiências de vida, coisas que enriquecem e dão contorno? Se a máquina é priorizada, nada disso ganha valor.
Eliane pensa que a solução pode passar por mais escuta. É preciso ouvir professores, é preciso que os governantes ouçam a escola, é preciso ouvir os alunos. Tem que debater mais, não para procurar culpados, porque isso termina em ressentimento.
Mozart Neves Ramos, especialista em educação, lembrou que o cenário hoje é assim: escolas do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI.  Como mudar isso? Fazendo uma revolução na escola, aumentando o salário do professor, acredita a cientista Mayana Zatz, também presente no debate. A profissão é tão pouco valorizada que dificilmente os alunos que se formam querem dar aulas em escolas públicas.
Volta-se, então, à base do debate: sem professores motivados e bons não dá nem para começar a pensar numa educação com mais qualidade. Já temos, assim, os primeiros passos do longo caminho de valorização de uma educação com qualidade.
Foto: Reinaldo Marques/TV Globo

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