JOEL RENNO
Quinta-Feira 18/09/14
Intervenções precoces em crianças com desvios de conduta podem se manter até a idade adulta, segundo vários estudos científicos relevantes atuais. Um impactante estudo publicado no American Journal of Psychiatry (2014) e intitulado “Impacto da Intervenção Precoce na Psicopatologia, Crime e bem-estar aos 25 anos” comprova isso
O Projeto selecionava crianças agressivas e com desvios de conduta ou disruptivos e as acompanhava de forma sistematizada por um período de 10 anos- , o programa visava ao desenvolvimento de competências sociais que se estendem ao longo de suas vidas através de treinamento de habilidades sociais, treinamento dos comportamentos dos pais através de visitas domiciliares e aulas com um vasto currículo sócio-emocional. O programa ocorreu em quatro comunidades americanas, algumas rurais, e um grupo controle de crianças que recebeu apenas intervenções comuns foram seguidas.
Até o presente, os estudos não demonstravam que mudanças comportamentais na infância se refletiriam positivamente na idade adulta e esse estudo conhecido como “Fast Track” demonstrou que pode haver sim impactos construtivos. Enquanto 69% dos adultos de 25 anos do grupo controle tinham ao menos um problema psiquiátrico, apenas 59% do grupo treinado tinham o mesmo problema. Nota-se um impacto extremamente relevante na redução de abuso de substâncias, crimes violentos e comportamentos sexuais de risco, assim como maiores índices de felicidade e bem estar.
As melhorias no comportamento foram consistentes entre cada um dos 13 subgrupos avaliados (incluindo as definidas por gênero, etnia, local de estudo, etc), o que demonstra que esta abordagem tem o potencial para uma ampla gama de crianças e níveis de risco.
Penso que no Brasil deveria haver investimentos maiores na educação multifacetada de nossas crianças e adolescentes. Há técnicas eficazes para a prevenção ou amenização de graves distúrbios comportamentais na fase adulta- quando se faz uma pesquisa, diagnóstico e acompanhamento terapêutico individual e familiar sistematizados de núcleos doentios. Esse tipo de detecção e abordagem precoces poderiam ser realizados, em parte, até pelas próprias Escolas Públicas de melhor qualidade através de treinamentos fornecidos por profissionais da área de saúde mental aos professores das instituições- no mínimo seriam capazes de fazer uma triagem das crianças de risco. E os custos são relativamente baixos em função dos inúmeros benefícios gerados no médio prazo a toda a sociedade- vítima de violência generalizada cada vez mais estarrecedora e que não pode ser combatida apenas pela punição e medidas simplistas ou imediatistas.
Por ora, apesar de alguns projetos acadêmicos interessantes e preocupados com essas questões, infelizmente, isso não passa de utopia no nosso país que possui escolas em situações de instalação deploráveis, sem até rede de saneamento básico e com professores mal remunerados e sem projetos de carreira. Mas, por outro lado, tal situação pode ser revertida por governos mais justos, corretos, sensíveis e realmente comprometidos com as causas sociais e não apenas com a maquiagem de índices econômicos ou sociais questionáveis de prosperidade.
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