A escolha de Gala León para comandar a seleção na Copa Davis causa receio entre os jogadores
JUAN JOSÉ MATEO Madri 23 SEP 2014
Os tenistas espanhóis receberam com “surpresa” a escolha de Gala León como capitã (treinadora) da seleção da Espanha na Copa Davis. Com raras exceções, o assombro no vestiário, segundo fontes ouvidas, não era pelo fato de a capitã ser mulher, a primeira a ocupar o banco espanhol, e sim a sua capacidade técnica.
León, segundo fontes da seleção, não treina grandes nomes em nenhum dos dois circuitos profissionais; sempre viveu à margem do tênis masculino; e na semana passada reconheceu que jamais falou com vários dos que agora serão seus tutelados, entre eles Rafael Nadal. “Sou um pouquinho velha [40 anos], e alguns deles eu não conheço pessoalmente”, disse ela à Radio Marca.
O processo da sua escolha, que ocorreu poucas horas depois de a federação oferecer a renovação a Carlos Moyà, também causou irritação entre os tenistas: rompeu-se a tradição de consultar os jogadores, uma mudança radical depois das ausências voluntárias que conduziram ao rebaixamento da pentacampeã no Brasil, pela primeira vez desde 1995.
“Não conheço Gala, essa decisão foi tomada e a respeito”, disse Nadal nos microfones da IB3, resumindo o sentimento geral ao considerar estranho que a federação tivesse tomado essa decisão com tanta urgência, apesar de o próximo compromisso ser só em julho de 2015, contra o ganhador da partida entre Rússia x Dinamarca.
“Não é uma questão se é uma mulher ou um homem”, observou Feliciano López, fundamental nas conquistas de 2008 e 2009. “O problema é que não conhece nenhum dos jogadores, e não pediram a nossa opinião.”
A notícia “me apanhou totalmente de surpresa”, disse Toni Nadal, tio e treinador do ganhador de 14 Grand Slams, à RNE. “Acredito que assim como para a maioria das pessoas. Não sei se já havia acontecido de uma equipe da Copa Davis ser dirigida por uma mulher, não me interprete mal, porque não tenho nada contra ter uma mulher dirigindo um jogador, e temos o precedente de que muitas vezes o cargo de capitão na Fed Cup [versão feminina da Davis] esteve nas mãos de homens”, apontou.
“Não deixa de me surpreender por várias razões: não é uma pessoa que conheçamos no circuito masculino, o que é uma dificuldade agregada para ela – não ter conhecimento do jogo do circuito masculino; acredito que não conhece os jogadores, ao menos Rafael; e há uma dificuldade logística difícil de resolver, porque nas equipes da Davis se passa muito tempo nos vestiários com pouca roupa, e com uma mulher não deixa de ser estranho. É possível, provável, que ela se saia muito bem. Minha lógica me dizia que era mais normal que o capitão fosse Juan Carlos Ferrero, ou um [outro] ex-jogador... Eu gosto das coisas do jeito mais simples possível, e entendo que é mais fácil que o capitão seja um homem", disse.
“Nunca trabalhei com uma treinadora ou capitã”, afirmou Marcel Granollers, que teve de abandonar a concentração no Brasil por causa de uma lesão. “Sei que os capitães que tivemos são jogadores com grandes carreiras, grandes conquistas, que conheciam perfeitamente o circuito masculino, todos os jogadores... E que isso será um pouco diferente”, prosseguiu ele, referindo-se a León – que, como jogadora, chegou à 29ª. posição no ranking mundial.
“Não sei quanto ao resto dos jogadores, mas a mim ninguém disse nada [antes da indicação]. Acredito que a eleição deveria ser consensual, que fosse escolhida a pessoa que os jogadores quisessem. Eu gostaria que tivessem nos consultado”, acrescentou o número 10 no ranking de duplas, antes de comentar uma proposta lançada no passado por León: punir ex-bolsistas da federação que se recusarem a jogar pela Espanha. “Ir à Davis não precisa ser por obrigação, para não ser punido por não ir, e sim porque é algo que entusiasma. [As ausências no Brasil] foram um caso pontual, espero.”
Em toda a história da Copa Davis há quatro precedentes de mulheres comandando seleções masculinas, segundo a Federação Internacional (houve mulheres à frente da Moldávia, San Marino, Síria e Panamá). Além disso, já houve homens que dirigiram a equipe espanhola na Fed Cup, como Mico Margets, que esteve quase 20 anos na função. A chegada da ex-tenista, entretanto, deixou os jogadores estupefatos. Entre si, comentaram que receberam a notícia “como uma brincadeira’, e que acreditam que a Federação pode reconsiderar.
“Assumir a equipe agora, quando foi rebaixada, é complicado”, disse Fernando Verdasco. “Não é para ir contra ela, mas, sempre que possível, [o capitão] deve ser um homem”. “Não duvido que possa fazer um grande trabalho e levar a equipe para cima.”
“Ser mulher acredito que não afete em nada”, argumentou Marc López, campeão da Masters Cup de duplas em 2012. “Mais do que chocante, eu não esperava. Os jogadores precisam aceitar, estar unidos, jogar, ganhar e subir para o Grupo Mundial. Não é nada grave. É como Andy Murray com Amèlie Mauresmo [o britânico, que aliás cumprimentou León pelo Twitter, trabalha com a ex-jogadora francesa e foi formado pela mãe dela]. Há várias salas... Não é imprescindível que você fique onde toma banho. Será um pouco diferente, mas não acredito que o fato de ela não poder estar lá o tempo todo influencie no desenvolvimento do seu trabalho.”
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