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domingo, 18 de janeiro de 2015

Concurso ‘Miss Tanguinha’ com crianças causa polêmica na Colômbia

Arturo Wallace
BBC Mundo, Bogotá
15 janeiro 2015

O "Miss Tanguinha" é o concurso do qual todos estão falando na Colômbia - e não é para menos.
Nesta competição de beleza, meninas de 5 a 11 anos de idade desfilam em trajes de banho, em frente a uma multidão em que geralmente muitos estão bêbados.
Ele é realizado anualmente há 20 anos na cidade de Barbosa, na região metropolitana de Medellín, no noroeste do país, como parte do Festival do Rio Suárez.

Semana
Concurso estimula exploração sexual, dizem autoridades

Mas, quando as fotos da edição deste ano começaram a circular na internet no último fim de semana, uma onda de indignação tomou as redes sociais.
Logo, os meios de comunicação e instituições governamentais também estavam criticando o "Miss Tanguinha".
O Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF), a Procuradoria Geral da República e o Ministério Público anunciaram uma investigação, com a promessa de punir os envolvidos.
Até a imprensa internacional ecoou o tema, que foi alvo de reportagens na Rússia, em Cingapura, no Japão e na Coreia do Sul, só para citar alguns dos países.
Mas por que o "Miss Tanguinha" virou um escândalo só agora?

'Normal'


Parte da resposta pode ser encontrada na normalidade com que muitas pessoas vinculadas ao evento - que faz parte de um festival onde também é realizado a cada ano outro concurso, o mais notório "Miss Tanga" - veem o certame.
"Que menina não sonha em ser princesa ou rainha?", disse a mãe de uma das participantes da edição deste ano ao jornal local El Tiempo.
Os reinados de beleza são muito populares na Colômbia, e muitas meninas sonham em imitar as "rainhas" que participam deles.
Surpreendidas com a polêmica, autoridades da cidade defenderam o "Miss Tanguinha" dizendo que a disputa, longe de promover a exploração sexual de menores, como dizem as acusações feitas na Justiça, incentiva o cuidado com o corpo e coloca as candidatas em contato com causas em prol do meio ambiente.
O concurso está tão arraigado que a porta-voz da prefeitura, Tatiana Smith, reconheceu ter participado dele na infância, ficando com o título de "vice-rainha".
E, dado que o Festival do Rio Suárez atrai cerca de 150 mil pessoas todos os anos, causa pouco estranhamento o fato de ninguém ter soado o alarme durante décadas.

Sexualização e exploração


Há, no entanto, muitas razões para preocupação, desde as mais gerais, como a sexualização prematura das meninas, a outras típicas de um país onde o abuso e a exploração sexual de menores continua a ser um problema grave.
Mas, desta vez, a indignação de algumas pessoas parece ter tirado proveito do poder de mobilização das redes sociais, num momento em que o noticiário carecia de novidades em um país onde os meios de comunicação e os comentaristas estão sempre em busca da indignação da vez.
E, certamente, o infeliz nome do "Miss Tanguinha" parece ter contribuído para colocar em evidência um costume que não é uma exclusividade de Barbosa.
Segundo a diretora do ICBF, Ana Cristina Plazas, depois do escândalo, surgiram mais denúncias de concursos parecidos em outras cidades.
A Colômbia se orgulha da beleza e sensualidade de suas mulheres, um "recurso" aproveitado pela televisão e pela indústria de moda.
Curiosamente, foram poucos os que estenderam suas críticas aos concursos de beleza, infantis ou adultos.
Mais raros ainda foram o que fizeram a conexão entre a existência do "Miss Tanguinha" e o fato de que, no país, os noticiários dão mais espaço a estes concursos - ou às seções de estilo - que a notícias internacionais.

Sem olhar para trás

O debate sobre os méritos e riscos da exibição pública de menores não é uma novidade.
Já ocorreu, por exemplo, em 2012, quando o governador do departamento de Antioquia, Sergio Fajardo, decidiu proibir os concursos de beleza nas escolas.
Na época, muitas vozes também defenderam as competições com argumentos muito parecidos com os usados agora pelas famílias das participantes do "Miss Tanguinha" e das autoridades de Barbosa.
Mas, quando se trata de notícias - ou de indignação -, a Colômbia raramente olha para trás.
Isso só garante que haja mais indignações no futuro, porque a atenção da imprensa e das instituições acaba se concentrando nos culpados de um episódio em particular, em vez de tratar o assunto de forma mais aprofundada, discutindo suas causas.
Desde que cheguei à Colômbia, vi o mesmo acontecer com casos de acidentes causados por motoristas bêbados ou de ataques a mulheres com ácido.

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