Em questionário aplicado a médicos aspirantes a oficiais, o Centro de Medicina Aeroespacial coloca "tendências homossexuais" ao lado de doenças como hipertensão e deformidade
por Marcelo Pellegrini — publicado 16/01/2015
Na mesma semana em que o Exército brasileiro criticou o projeto de lei que criminaliza a homofobia pelos "reflexos indesejados" que a proposta traria, CartaCapital teve acesso a um questionário patológico do Centro de Medicina Aeroespacial, ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), que lista "tendências homossexuais" como doença.
O questionário faz parte do processo de seleção de médicos aspirantes a oficiais na FAB e lista o item relativo à orientação sexual em meio a doenças, como epilepsia, hipertensão, doenças venéreas e deformidades, entre outras.
A denúncia foi feita por um médico recém-formado e aspirante a oficial, que pediu anonimato. "Na hora, eu não soube como reagir e o que preencher, porque tive medo de que minha orientação sexual pudesse gerar algum tipo de represália contra mim na Força", conta. "Minha única reação foi fotografar o questionário e encaminhá-la para um grupo secreto de colegas".
O grupo secreto se comunica pelo Facebook e é formado por mais de três mil médicos homossexuais, entre eles oficiais e ex-oficiais das Forças Armadas.
Em nota, a Força Aérea Brasileira afirmou que "a Instrução do Comando da Aeronáutica (ICA) que normatiza as inspeções de saúde na instituição passou recentemente por uma revisão e será publicada na próxima semana com atualizações, incluindo a supressão do item citado".
Desde 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou o "homossexualismo" da lista internacional de doenças e orientou os países a tratar o tema como uma decisão individual e não um problema de saúde. No entanto, muitos países ainda criminalizam a homossexualidade ou, no caso do Brasil, não possuem uma lei para combater a violência dirigida a este grupo.
O último levantamento sobre violência contra homossexuais, realizado em 2013, constatou que um homossexual é assassinado a cada 28 horas no Brasil. Dados como este colocam o País como o campeão mundial em assassinatos de homossexuais, sendo responsável pela morte de quatro em cada cinco gays assassinados no mundo.
Atualmente, tramita no Congresso Nacional o projeto de lei da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) que criminaliza a homofobia e crimes de ódio e intolerância contra grupos migrantes e religiosos.
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