Glenn Close, Jane Fonda, Diane Keaton e Helen Mirren protagonizam uma nova e peculiar onda de comédias para idosos
Na cena que abre The Wife, o filme que pode dar a Glenn Close seu primeiro Oscar – ela é a nova Leo DiCaprio, foi indicada seis vezes e nunca levou o prêmio para casa –, a atriz interpreta uma peculiar cena de sexo com Jonathan Pryce (Alto Pardal em Game of Thrones). No filme eles são um casal de escritores, ele mais bem-sucedido do que ela, prestes a se tornarem avós e ganhar um Nobel (ele), em plena crise conjugal anterior à catarse total na Suécia. A crítica se rendeu diante de “uma fantástica sequência inicial” que retrata como é o sexo para aqueles que já passaram dos 60 anos. “Seria bom que as crianças a vissem. A cena é divertida e real”, disse a intérprete ao The Guardian, após sua aclamada estreia no Festival de Toronto.
Close aproveitou sua entrevista à imprensa para defender dois pontos: um, criticou o etarismo hollywoodiano pedindo “mais papéis” para atrizes que, como ela, estão “no auge de seu poder” (The Hollywood Reporter) e dois, defendeu a sexualidade das mulheres maduras: “Acho que as pessoas não se dão conta de que você continua sendo sexualmente ativa até morrer” (The Guardian).
O despertar sexual feminino bem acima dos trinta anos vive seu momento de glória no cinema. Após a inclusão da sexualidade nas mulheres de 40 há alguns anos (Amor Sem Pecado e The Hot Flashes), os ícones sexuais dos 70 assumiram o nicho de um mercado em sintonia com a nova fornada de literatura para mulheres maduras fogosas escrita por Claire Dederer e Arlene Heyman. Além de Close, outras atrizes que passaram dos 70 vivem um momento de glória sentimental na ficção, colocando-se no centro do discurso e interpretando outros papéis além das mães (e avós) dos protagonistas.
Jane Fonda, que também experimenta o sexo em sua série Grace and Frankie, se reencontra com Robert Redford meio século depois de Descalços no Parque em Nossas Noites, uma das estreias da Netflix na primavera (29 de setembro) e a vertente mais romântica na programação cinematográfica. Baseado no romance homônimo de Kent Haruf, Fonda e Redford interpretam um casal de viúvos que foram vizinhos por toda a vida, cujos filhos já moram longe, mas jamais se preocuparam em conhecerem-se profundamente. Para combaterem a síndrome do ninho vazio, Fonda e Redford vivem uma história de amor sobre como envelhecer com dignidade.
Outros que vivem uma história de amor na senectude, um pouco abrandada pela dureza de sua situação de acordo com a crítica que o viu em Veneza, são Helen Mirren e Donald Sutherland em The Leisure Seeker, um divertido road movie que estreará em 2018 sobre um casal que decide ir com seu trailer de Massachusetts até a Flórida. Essa comédia de costumes coloca coração e ternura ao fato de que ela tem câncer e ele, Alzheimer; o que propiciará uma boa quantidade de histórias em sua amorosa viagem.
Mas se hoje em dia existe uma diva nas comédias românticas pós-60 anos é Diane Keaton. A atriz é a rainha indiscutível dos namoricos da terceira idade nas telas, especialmente desde sua interpretação em 2007 da mítica Erica Barry em Alguém Tem que Ceder e Nancy Meyers transformar suas lágrimas diante de seu computador em um dos gifs mais recorrentes na Rede. A sombra e influência de Keaton nesse novo gênero é tão abrangente que seu estilo naquele filme é venerado, dez anos depois, pela tribo do site Man Repeller. Nesse ano mesmo colocaram Keaton como figura inspiradora do Menocore, algo como o normcore de quem está na menopausa e que se caracteriza por “um look de mulher de meia idade de férias” com “muito linho, óculos de sol pequenos, um chapéu de pescador e suéteres confortáveis, tudo com muito flow”. Além de criar um estilo icônico, algo que Keaton já faz desde Annie Hall (sua personagem em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), a atriz abusa de seu papel como nova dona da rom-com como em Um Amor de Vizinha (2014), Ruth & Alex (2014) e o recente Hampstead (2017), onde se apaixona por Brendan Gleeson.
Keaton atuará com Jane Fonda e outros dois grandes nomes da comédia, Candice Bergen e Mary Steenburgen, em Book Club, um filme sobre como quatro antigas amigas mudam suas vidas após a leitura de 50 Tons de Cinza. A escritora Arlene Heyman explicou que “o sexo entre idosos continua sendo um grande tabu”. No o é para essas gigantes da interpretação, dispostas a derrubar o que for preciso pelo cinema.
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