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segunda-feira, 4 de março de 2019

Animação The Tower conta saga de menina palestina em campo de refugiados no Líbano

RFI
Por 
Publicado em 01-03-2019

Depois de brilhar nos principais festivais de animação do mundo, a produção franco-norueguesa The Tower (A Torre, em tradução livre) estreou nesta semana no circuito comercial da França, sob ótimas críticas. O stop motion conta a história de Wardi, uma menina palestina de 11 anos, que vive com a família no campo de refugiados de Burj El Barajneh, no Líbano. 

Dirigido pelo norueguês Mats Grorud, de 42 anos, The Tower tem como pano de fundo os mais de 70 anos de conflito israelo-palestino: da Nakba, a catástrofe que obrigou 700 mil palestinos a recorrerem ao êxodo, ao cotidiano dos campos de refugiados atualmente. 
A narrativa se concentra no drama de Wardi que recebe do avô, Sidi, as chaves de sua antiga casa, na Galileia. A garotinha, que nasceu em Burj El Barajneh, compreende a partir deste momento que sua família perdeu todas as esperanças de voltar à terra natal.
A animação é baseada na experiência da mãe Grorud, que trabalhou como enfermeira no campo de refugiados, palco da trama. À RFI, o diretor contou que sua infância foi marcada por fotos de crianças palestinas de Burj El Barajneh.
"Aos 11, 12 anos, eu via fotos dessas crianças que tinham a mesma idade que eu, vivendo em prédios destruídos deste campo de refugiados no Líbano - o que me afetou muito. Isso aconteceu em 1987, 1988, época da Primeira Intifada, na Palestina. Eu cresci com imagens dessa injustiça: criancinhas palestinas jogando pedras contra militares israelenses. É nesta idade que você começa a se dar conta sobre o que é esse mundo", afirma.
Em 1989, Mats Grorud se mudou com a família para o Egito, com quem visitou Jerusalém e Gaza na época. Presenciar o cotidiano dos palestinos foi fundamental para que The Tower começasse a germinar na imaginação do jovem norueguês. Antes de colocar o projeto em prática, o diretor resolveu conviver com os refugiados do campo de Burj El Barajneh, no Líbano. 
"Eu morei neste campo durante um ano, em 2001, onde trabalhei em um jardim de infância, com crianças. Fiz muitos amigos lá e todos eles eram o oposto de como as mídias mostram os refugiados. Meus amigos eram engraçados, simpáticos, acolhedores, inteligentes. Então eu fiz um filme que retrata as pessoas desta forma, longe da imagem depressiva que vemos dos refugiados nas mídias", diz.
Produção internacional
A ideia de The Tower nasceu no Líbano pela iniciativa do diretor norueguês de mostrar o cotidiano dos refugiados palestinos. Mas a maior parte da produção foi executada na França, pelo estúdio de animação Foliascope, especializado em stop motion, embora algumas cenas tenham sido fabricadas em 2D. 
As marionetes de cada personagem foram criadas à base de massa de modelar. Para recriar o clima do local, os cenaristas utilizaram fotos de Burj El Barajneh, para onde a equipe viajou para gravar os sons de fundo. Tudo com o objetivo de transportar o público a esse campo de refugiados criado em 1948 para palestinos que fugiram da Galileia.
"Como eu morei neste campo durante um ano, vivenciei e conhecia exatamente todas as sensações do local. Foi um desafio, mas acredito que a minha experiência em Burj El Barajneh me guiou sobre como eu queria que tudo fosse reproduzido no filme."
A trilha sonora é de autoria do compositor francês Nathanael Bergese, que tentou mesclar sons contemporâneos a orientais. "A história do filme é um tanto triste, então, queríamos dar essa conotação, e, ao mesmo tempo, queríamos transmitir esperança. O objetivo era que a música tocasse tanto o público ocidental como o do Oriente Médio, então, procuramos balancear", reitera.
The Tower ainda não tem data de estreia prevista no Brasil. Além da França, ele já foi exibido nos cinemas da Noruega e chegará às telonas da Dinamarca em abril.
* Mats Grorud foi entrevistado pela repórter da RFI Elisabeth Lequeret

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