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domingo, 22 de setembro de 2013

A armadilha dos contos de fadas


Regina Navarro Lins

Mulher sonhando com príncipe
Ilustração: Lumi Mae

Comentando o “Se eu fosse você”

A questão da semana é o caso da internauta que vive um casamento frustrante e se considera vítima dos contos de fadas. Lembrei-me então de Sheila, uma paciente que atendi recentemente no consultório. Ela sonha com o príncipe encantado e a cada namorado que arranja transformava-se numa gueixa. Mostra-se frágil, dependente e submissa, só pensando em agradá-lo.
Acredito que a maioria dos pais e professores não percebem que tipo de ideias estão passando para as crianças, subliminarmente, através dos contos de fadas. Por que esses contos continuam tão populares no século 21, se príncipe montado a cavalo é coisa do passado?
Desde a Antiguidade as mulheres detinham um saber próprio, transmitido de geração em geração: faziam partos, cultivavam ervas medicinais, curavam doentes. No final da Idade Média (século 15) seus conhecimentos se aprofundaram e elas se tornaram uma ameaça. Não só ao poder médico que surgia, como também do ponto de vista político, por participar das revoltas camponesas. Com a “caça às bruxas”, na Inquisição, 85% dos acusados de feitiçaria eram mulheres. Muitas delas foram executadas, na maior parte das vezes queimadas vivas.
A partir daí podemos entender melhor como as mulheres e as personagens femininas das histórias infantis foram se tornando passivas, submissas, dóceis e assexuadas. Em Cinderela, Branca de Neve e A Bela Adormecida existem algumas mulheres que até fazem mágicas, mas a mensagem central não é a do poder feminino, e sim da impotência da mulher. O homem, ao contrário, é poderoso. Não só dirige todo o reino, como também tem o poder mágico de despertar a heroína do sono profundo com um simples beijo.
Além da incompetência de lutar por si própria, comum às principais heroínas, Cinderela é enaltecida por ser explorada dia e noite, trabalhando sem reclamar e sem se rebelar contra as injustiças. Padece e chora em silêncio. Seu comportamento sofrido, parte do treinamento para se tornar a esposa submissa ideal, é recompensado. Seu pé cabe direitinho no sapato e ela se casa com o príncipe.
No entanto, o mais grave nos contos de fadas é a ideia de que as mulheres só podem ser salvas da miséria ou melhorar de vida por meio da relação com um homem. As meninas vão aprendendo, então, a ter fantasias de salvamento, em vez de desenvolver suas próprias capacidades e talentos.
A historiadora americana Riane Eisler afirma que essas histórias incutem nas mentes das meninas um roteiro feminino no qual lhes ensinam a ver seus corpos como bens de comércio para segurança, felicidade — e, se conseguirem pegar não um sujeito comum, mas um príncipe —, status e riqueza. Ela diz que em última análise a mensagem dos “inocentes” contos de fadas, como Cinderela, é que não somente as prostitutas, mas todas as mulheres devem negociar seu corpo com homens de muitos recursos.
Em vez de desenvolver suas próprias potencialidades e buscar relações onde haja uma troca afetivo-sexual, em nível de igualdade com o parceiro, muitas mulheres se limitam a continuar fazendo tudo para encontrar o príncipe encantado.

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