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segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Embrulho e Mensagem
Um presente vem repleto de mensagens, mesmo que nem ao menos um bilhete seja escrito.
POR
Diana Corso
Edição 131
O convidado chega a um aniversário infantil. O aniversariante recebe desconfiado o volume colorido, ainda é pequeno e não entende direito o que está acontecendo. Com exclamações, a mãe tenta atrair o interesse dele para o brinquedo dentro do embrulho. Uma vez focado no presente, o pequeno fica hipnotizado pelo papel, deixando o objeto mais importante de lado. A mãe se desculpa, constrangida.
Cena dois: esquecer aniversário de namoro ou casamento é crime capital, mas ele lembrou. Desta vez foi ousado, comprou uma roupa. Nesses casos é preciso conhecer o mapa do corpo da amada como um cego lê braile para acertar. Ela abre, prova, ficou perfeito. Mas não havia cartão. Indignada, constata que ele não escreveu nenhuma linha. Será que não é capaz de um singelo "para minha amada"? Como a criança, ela também se fixou na embalagem e não notou que o objeto em si era uma declaração de amor.
Cena número três: buscamos presentear um amigo com referências culturais diferentes, de outra geração, ou estrangeiro a nossos costumes. Queremos dar algo relevante, nosso investimento deve ser visível. No começo das buscas já percebemos a dificuldade, pois muitos objetos possuem um valor perceptível somente aos iniciados. A etiqueta, o pacote, a sacola da loja também revelam a importância da oferenda.
Para alguém estranho a esses códigos, deveria ser o objeto em si o mensageiro do gesto, mas aqui reside a dificuldade. No fundo, o bebê da primeira cena não está errado, a alma do presente está na embalagem.
No mundo capitalista, somos o que temos, mas também o que recebermos e o que conseguirmos oferecer aos outros. Até quando nos auto-presenteamos, a mensagem é: "eu mereço". Nosso sistema de trocas, quer seja de presentes, olhares ou palavras, é uma forma de construção de identidade. Até ao olhar-nos no espelho interrogamos o que os outros vêm em nós, quanto valemos aos seus olhos. Nesse transito de amores e valores, todo objeto é uma mensagem.
Às vezes o encontro se dá e nos fazemos entender, afinal através dos objetos também se dialoga. Nos alegramos quando o bebê celebra o envoltório vistoso. A amada consegue perceber na roupa, entregue sem palavras, o toque do desejo que a recobre. Presente maravilhoso é aquele em que alguém revela saber-nos bem. É tranquilizador quando os outros, de fora, acham que somos parecidos com o que pensávamos ser! Quando erram, ao contrário, sentimo-nos mais sós. Objetos a parte, é sempre uma questão do afeto que encerram.
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