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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Por que sou feminista?


Camila Dutra
Adital

Toda fez que coloco em meus meios sociais alguma informação/texto referente ao feminismo, ou ao machismo que existe escondido no nosso dia-a-dia, ou à violência que sofrem as mulheres não só do Brasil, mas do mundo, sinto como se as pessoas se perguntassem: "Por que ela está falando nisso? O que ela sabe, ou tem a ver com essas situações e problemas?”. Estou para responder a essas perguntas faz algum tempo, mesmo que, na verdade, elas não sejam feitas e seja tudo "coisa da minha cabeça”.

Então, por que uma jovem, heterossexual, que acabou de terminar o ensino médio de uma escola particular, que sempre viveu bem, numa família de classe média e que a ama, que não possui ninguém próximo que foi vítima de violência sexual ou doméstica, por que esta –que ainda nem 20 anos tem!– mulher insiste em falar sobre coisas que "ela não conhece”? Por que acha que tem o direito de incomodar seus colegas, amigos, familiares e conhecidos em suas redes sociais sobre um assunto que nem ao menos lhe concerne diretamente? Ou pior: por que ela odeia os homens? Pois é aqui que está a verdadeira questão. O entendimento que se tem sobre o que é o feminismo.

O feminismo, como eu reconheço e defendo, é a luta por igualdade. É isso. Igualdade em quê? Em direitos, em deveres, em folhas de pagamento e reconhecimento de esforços e conquistas. E igualdade para quem? Para todos, e esta é a melhor parte do feminismo. Não se fala somente em igualdade entre homens e mulheres, e sim entre todos, sejam crianças, idosos, hetero, homo, bi ou trans, negros, caucasianos, indígenas, asiáticos e assim por diante. A luta feminista é uma luta por e para todos.


‘Seja Livre’. Marcha das Vadias de Belo Horizonte 2013.
Foto de Maria Objetiva no Flickr em CC, alguns direitos reservados.


Existe, porém, um outro movimento com o qual o feminismo é, muitas vezes, confundido: o femismo. Este, sim, é o contrário do machismo, é a luta por uma submissão dos homens às mulheres, no qual se procura um ideal de mundo onde as mulheres submetem os homens (e outras mulheres, pois o machismo também afeta aos homens) aos seus caprichos e vontades próprias. Não é isso que o feminismo busca. Então, aqueles que ignoram toda e qualquer proposta feminista porque acredita que queremos humilhar e manchar os direitos dos homens, digo que escutem com calma: o feminismo não odeia os homens. Não queremos um mundo dominado por mulheres onde os seus companheiros são seus escravos. Queremos a igualdade, o direito de acompanhar e participar, lado a lado com vocês, a construção de um mundo melhor.

Outra crítica que também surge quando se fala em feminismo é a da igualdade, e isto se vê bastante em mulheres, quando reclamam da nossa luta. Ao dizer que o ideal que buscamos é a igualdade não estamos dizendo que queremos ser homens; mas, que sim, que queremos acessar direitos que hoje são restritos a eles. Tanto homens quando mulheres (e, por favor, me perdoem pordepender tanto deste dualismo) são seres excepcionais e o gênero é apenas uma das características que marca a diversidade humana, logo não faz sentido querermos uniformizar as pessoas em uma luta por ampliação de direitos. Mas,felizmente, não é essa a ideia.

O que se propõe com a luta pela igualdade é que seja de entendimento comum e geral que tanto homens quanto mulheres, negros, indígenas (e assim por diante), são seres humanos e dessa forma, igualmente capazes e competentes para exercer as mesmas funções, e assim receberem o mesmo tratamento. É, portanto, uma luta para o reconhecimento de algo que a natureza já determinou: somos todos iguais em essência (não entrando aqui na discussão de outras cosmologias e perspectivas do que é o ser humano; este texto se baseia na ontologia ocidental da qual participo).

Dadas essas explicações iniciais, vou responder agora porque o feminismo é importante para mim, e como ele (e o machismo) me atinge.

Sou feminista porque em todas as capas de revistas "para mulheres” (ou seja, seu público-alvo somos nós) que vejo há a ditadura da beleza reinando, praticamente obrigando as mulheres a interiorizarem que o seu maior potencial é físico, e que o que elas (nós!) devem fazer para fazer o seu parceiro feliz – veja bem, não se procura a felicidade ou realização própria, e sim a dos outros, principalmente os homens – é malhar, comer pouco, pintar os cabelos de loiro, esticá-los (com um processo que os prejudica), esticar também o rosto (porque nenhum homem vai querer uma mulher com rugas, é claro!), colocar silicone e passar dois quilos e meio de maquiagem todos os dias, para garantir que nenhuma beleza natural consiga um vislumbre de luz.

E não, não sou contra o uso de maquiagem, nem academias de ginástica, nem mesmo em pensar na felicidade de outra pessoa. Mas sou absolutamente contra uma sociedade que insiste em ensinar as meninas, desde pequenas, que seu maior valor é a imagem, que só o que as outras pessoas irão notar nela são suas unhas bem feitas e cabelos bem escovados, e não a sua personalidade, inteligência, astúcia ou bom humor. E, sou contra a ideia de que devemos sempre buscar nos aprimorar para dar mais prazer ao parceiro, ou não envergonhá-lo em frente aos amigos, ou qualquer coisa desse gênero. Eu acredito que o que fazemos, se nos "melhoramos” ou "aprimoramos”, deve ser em primeiro lugar para a nossa felicidade, nossa realização, seja como mulheres, esposas, amigas, filhas, mães ou profissionais.

Também sou feminista porque quero, um dia, criar meus filhos em uma sociedade onde a sexualidade de uma pessoa não importe para ninguém além dela própria. Onde o fato de um menino gostar de pintar as unhas ou uma menina cortar o cabelo curto não influencie em nada a maneira como outros olhem para eles, muito menos os tratem de forma diferente. Igualdade. Simples assim.

Afinal, em que te afeta quem eu amo? O simples fato de eu amar, não somente a mim mesma, mas a outras pessoas, já deveria valer como um bom julgamento do meu caráter. Da mesma forma, como o seu filho será influenciado se o meu gostar de bonecas? Não será, e esta é a verdade. Principalmente as crianças, que pensamos tão frágeis, dependentes e influenciáveis, elas são as que menos se afetam em situações que nós, adultos, entendemos como "diferentes”, pois não tentam (como fazemos) encaixar tudo em categorias pré-estabelecidas, onde meninas brincando com azul é errado, e com rosa é correto.

Nós colocamos essas "caixinhas” em suas cabeças, e os obrigamos a "encaixotar” tudo o que veem e vivem em categorias como "certo” e "errado”, "bom” e "ruim”, "normal” e "estranho”. Elas, por si próprias, não pensam assim, e é por isso que é importante permiti-las serem quem e como são enquanto ainda não foram – porque inevitavelmente serão – atingidas por essas normas. Deixemos as crianças ser quem são, e teremos adultos muito mais abertos às novidades e diversidades do mundo.

Por fim, sou feminista porque me entristecem as estatísticas, que mostram que a violência contra a mulher, contra os homo e transexuais, contra as crianças e adolescentes, não somente física, como também verbal, essas violências continuam tirando vidas e projetando desespero. E isso me dá medo. Medo de sair à rua com a roupa que eu quiser e ser estuprada, medo de conviver com pessoas que constantemente me dirão que eu não sirvo para nada, medo de colocar mais vida neste mundo e ter que passar pelo sofrimento de ver meus filhos maltratados por uma sociedade machista. E é por isso que eu sou feminista: cansei de ter medo. E vou fazer o possível e impossível para que ninguém mais precise ter medo de ser quem é.

[Fonte: bloguerasfeministas.com].

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