Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

"A mulher que inventou a beleza": Michèle Fitoussi lança biografia de Helena Rubinstein

por Larissa Saram

Escritora fala com exclusividade à Marie Claire sobre a trajetória da empresária que revolucionou o universo dos cremes, maquiagens e afins

A CAPA DO LIVRO E A AUTORA, MICHÈLE FITOUSSI (Foto: Divulgação)
A CAPA DO LIVRO E A AUTORA, MICHÈLE FITOUSSI
(FOTO: DIVULGAÇÃO)
Quando aos 24 anos  Helena Rubinstein subiu em um navio, em Gênova, rumo à casa do tio desconhecido na Austrália, carregando poucas peças de roupa e 12 potes de creme caseiro, não imaginava o império que construiria anos depois. Nascida em 1872, no subúrbio de Cracóvia,  a polonesa foi pioneira nos cuidados com a pele, ensinou mulheres do mundo inteiro o poder da cosmética e consagrou-se como a imperatriz da beleza ao se tornar dona de uma das maiores fortunas do mundo.

“Ela foi para o desconhecido com uma coragem e determinação que me fascinam”, disse com exclusividade para Marie Claire a escritora e jornalista Michèle Fitoussi, autora da biografia “A mulher que inventou a beleza – a vida de Helena Rubinstein” (Editora Objetiva). O livro acaba de chegar às livrarias brasileiras. 

Durante a entrevista, Michèle conta como redescobriu a história de superação e sucesso de Rubinstein, além de comentar o papel da polonesa na emancipação das mulheres e nos costumes femininos até hoje.

Marie Claire: No prefácio, você descreve uma série de eventos que justificam sua admiração pela história de Helena Rubinstein. Se fosse escolher, qual ponto ao longo da trajetória da empresária mais te fascina?
Michèle Fitoussi: É sempre muito difícil escolher, mas existem dois momentos: o primeiro é a partida dela, sozinha, para a Austrália, para encontrar o tio. Ficou dois meses cruzando o oceano, empoleirada em  seus sapatos com saltos de 12 centímetros e doze potes de creme na mala. Isso, em 1896, quando Helena tinha só 24 anos, não falava inglês, não conhecia o parente que a esperava do outro lado do mundo. Ela foi para o desconhecido com uma coragem e determinação que me fascinam. O segundo momento é quando vendeu sua empresa norte-americana para os Lehman Brother em 1928 a US$ 7 milhões na época e a adquiriu de volta, após a crise, em 1930, por US $ 1 milhão. Chance, intuição, oportunidade? Isso mostra um verdadeiro talento para os negócios. Chega a ser emocionante a maneira como ela atacava esses homens.

M.C.: Por que a história dela ficou esquecida por tanto tempo?
M.F.: Porque as pessoas esquecem e o nome de Helena Rubinstein se popularizou como marca, não como pessoa. Além disso, os produtos pararam de ser vendidos nos Estados Unidos e na França, já que a marca foi adquirida pela L' Oreal e se transformou em um "nicho" dentro da multinacional. Talvez alguns tenham pensado que sua história estivesse fora de moda. E ela não tinha ninguém para perpetuá-la como mito.

EM SENTIDO HORÁRIO: MADAME, COMO FICOU CONHECIDA, NOS ANOS 30, COM JOIAS GRANDES, SUA PAIXÃO; NO LABORATÓRIO, ONDE TESTAVA OS PRODUTOS; EM FRENTE A SUA COLEÇÃO DE ARTE PRIMITIVA (Foto: Divulgação)
EM SENTIDO HORÁRIO: MADAME, COMO FICOU CONHECIDA, NOS ANOS 30, COM JOIAS GRANDES, SUA PAIXÃO; NO LABORATÓRIO, ONDE TESTAVA OS PRODUTOS; EM FRENTE A SUA COLEÇÃO DE ARTE PRIMITIVA (FOTO: DIVULGAÇÃO)

M.C.: Por que você decidiu resgatar a biografia?

M.F.: O interesse veio por acaso e eu imediatamente percebi o potencial daquela história. Por ela, atravessamos o século XX através da beleza e da arte. Há, ainda, a emancipação das mulheres, o nascimento de consumo, do marketing, da publicidade. Passamos por Cracóvia, Paris, Nova York, Melbourne, Londres.Helena viveu mil vidas e todas elas valem a pena serem contadas. 

M.C.: Como você vê a participação de Helena Rubinstein no movimento de emancipação das mulheres?
M.F.: Honestamente, mínima. Não tenho certeza se essas mulheres inteligentes de negócios e de empresas, que eram independentes e faziam tudo sozinhas, como Elizabeth Arden ou Coco Chanel, tenham sido grandes feministas. Mas se você olhar para o que Helena fez, comoentender que a beleza era um novo poder, mostrar que a maquiagem não precisa estar ligada necessariamente com o teatro e os bordéis, democratizar o acesso a produtos de higiene e beleza, revelar a importância da ciência na produção de novos cremes, aí sim, podemos dizer que ela foi significativa. A emancipação da mulher não se tratava apenas do direito de votar, trabalhar ou ter autonomia econômica. Moda e beleza também desempenharam um importante papel. Quando Chanel se livrou do espartilho e provou que as mulheres podiam se mover melhor, praticar esportes, caminhar nas ruas com mais liberdade, é um exemplo. Em 1912, em Nova York, manifestantes que saíram para as ruas pelo direito de votar usaram batom vermelho. Era um tabu, um desafio. Helena Rubinstein conquistou a América três anos depois. E as mulheres estavam prontas.

M.C.: Helena dizia que "a beleza é um novo poder" e acreditava que usá-la para atrair e conseguir o que queremos, não significa um tipo de submissão. Hoje vemos atrizes e modelos que investem muito dinheiro em técnicas invasivas para atrair a atenção e obter fama. As mulheres perderam a linha?
M.F.: Penso que para cada revolução existe um cursor. Proibir as mulheres de usar maquiagem é acabar com uma parte da liberdade. Dar-lhes confiança, graças aos cuidados com a pele, com o corpo, é embarcar na jornada pela liberdade. Algumas ficam obsessivas pela aparência, acham que as qualidades são defeitos e querem disfarçar tudo.

M.C.: Qual é a parte mais importante do legado deixado por Helena para as mulheres?
M.F.: O poder da beleza. Não como um instrumento de submissão, mas de realização pessoal.



Nenhum comentário:

Postar um comentário