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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Entrevista: “A negação do racismo no Brasil é nefasta”

Adital
Foto: diferencaediversidade.blogspotA doutora em Antropologia e assessora política do Instituto Nacional de Estudos Socioeconômicos (Inesc) especializado em temas como direitos humanos, igualdade racial, infância e juventude, Carmela Zigoni afirma que a negativa da existência do racismo e o discurso da existência de uma "democracia racial” no Brasil é uma situação nefasta, pois invisibiliza desigualdades profundas vividas por negros e negras em seu cotidiano. Em entrevista especial ao boletim da instituição, em comemoração pelo Dia da Consciência Negra, ela aborda as características do racismo no Brasil, além da falta da presença de negros e negras nos discursos midiáticos e no Parlamento.

Perguntada sobre a insistência do discurso da sociedade brasileira de que o racismo não impera no país, Carmela afirma que essa situação compromete a visão mais realista do racismo no Brasil. "Isso acaba escondendo mecanismos de exclusão sistemáticos, de discriminação de populações negras inteiras, seja no mercado de trabalho, na televisão ou em outros meios. A teoria da "democracia racial” serviu apenas para reforçar as desigualdades sociais após a abolição de 1888: aos negros e negras foi negado o acesso à terra, à educação, ao trabalho, à saúde e, principalmente, à dignidade”.

Para a assessora política do Inesc, a pobreza brasileira tem ”cor”, de acordo com estudos, mas que as cotas para alunos de escolas públicas, por exemplo, seriam insuficientes para enfrentar o problema do racismo, já que é uma forma particular de discriminação, que se baseia na crença de que existem diferenças biológicas que hierarquizam os seres humanos.

"Veja, recentemente, o caso dos médicos cubanos, quando algumas pessoas colocaram a competência desses profissionais em dúvida devido ao fato de serem negros. Temos uma divida histórica com a população negra e as ações afirmativas visam a corrigir essa perversidade. Além disso, as pesquisas demonstram que os alunos do sistema de cotas têm rendimento igual ou superior aos alunos que acessam a universidade através do vestibular. As cotas são legítimas e devem ser ampliadas no Brasil”.

Acerca da falta de representatividade de negros e negras dentro dos espaços de poder, Carmela acredita que somente a Reforma Política poderá resolver a questão, pois, na sua visão, o Parlamento, principal espaço de decisão sobre o futuro da população brasileira, reflete, atualmente, a desigualdade da sociedade brasileira.

Quanto às máscaras do racismo reproduzidas nos discursos midiáticos, ela defende a interferência do Estado na regulamentação dos conteúdos veiculados e a possibilidade de que os negros sejam formuladores das políticas de comunicação, além da imposição de limites para ações de preconceito presentes na internet. "Nesse sentido, o Marco Civil da Internet e a criação de leis punitivas para crimes cibernéticos são fundamentais para combater o racismo e a discriminação em geral”, enfatiza Carmela.

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