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terça-feira, 26 de novembro de 2013

[Mulheres indígenas] O melhor investimento contra a violência


Chirapaq
Adital


Por Tarcila Rivera Zea*

Reverter as condições de pobreza e exclusão nas quais vivem as mulheres indígenas é o melhor modo de erradicar a violência.

Pressão sobre territórios indígenas obriga as mulheres a migrar para as cidades onde são vítimas de exploração sexual e laboral.

Tradução: ADITAL


Foto: Luiz Vasconcelos

Recentemente, o Peru foi sede da Conferência Global de Mulheres Indígenas (cf. em espanhol), que reuniu líderes da África, do Pacífico, da Europa, da Ásia, da América Latina, da América do Norte e da Rússia. Em uma só voz, as indígenas do mundo inteiro nos pronunciamos contra toda forma de violência, venha de onde vier, e de qualquer modo em que se manifeste.


Estamos contra a agressão aos nossos corpos, originada na violência doméstica, no abuso sexual, em práticas como a ablação e a forma mais extrema de violência, o feminicídio. No entanto, para as mulheres indígenas, a violência se expressa em múltiplas formas que, até hoje, são invisíveis para os demais.

Vivemos em países que não reconhecem nossa existência e não assumem nossa proteção. Não contamos com possibilidades de ter acesso a uma educação de qualidade e ter autonomia econômica. E tampouco somos conscientes das obrigações que nossos Estados têm para conosco. Consideramos que essa situação de completa vulnerabilidade nas quais nos vemos submersas é uma forma mais de violência.

Para as mulheres indígenas existe também uma forma de violência tão ou mais perniciosa, aquela que se realiza contra a natureza. Enquanto que as mulheres Inuit, da Groelândia, veem como o avanço das águas faz desaparecer suas comunidades, como consequência da mudança climática, as indígenas Quéchua, do Peru, enfrentam empresas mineradoras na tentativa de defender a água.

A cada dia, essa pressão empurra as mulheres indígenas para fora de suas comunidades, para as cidades, onde são vítimas da exploração laboral e sexual. Dessa forma, desaparecem as guardiãs desses territórios e, com elas, seu conhecimento ancestral, que assegura a biodiversidade no mundo e que podem ser a resposta para enfrentar os embates da mudança climática.

Nossa própria experiência nos tem demonstrado que não conseguiremos erradicar a violência somente atacando seus efeitos.

O Peru é o segundo país com a maior população de mulheres indígenas na América Latina, com aproximadamente 3,2 milhões. De acordo com um estudo do Banco Mundial, no país, 60% das mulheres vítimas de violência têm maior probabilidade de perder seu filho antes do término da gravidez; 21,3% de sofrer complicações durante o parto e 19,6% de contrair alguma enfermidade de transmissão sexual. Mais da metade dessas mulheres habitam zonas rurais.

A violência contra a mulher tem consequências também em sua saúde e no bem estar de seus filhos; e esses custos são assumidos por todos os cidadãos. Segundo o Programa para o Desenvolvimento da ONU – Pnud, somente na América Latina, investimos 2% do PIB para amenizar as consequências da violência. No Peru, o Estado gasta uma média de 36 milhões de soles (ao redor de 12 milhões de dólares) em programas sociais que amenizam, mas não erradicam o problema.

Uma mulher indígena que tem acesso a uma educação de qualidade tem maiores probabilidades de sair da pobreza, convertendo-se em parte da força produtiva de nossos países, assegurando também o manejo sustentável de seus recursos.

Ao celebrar-se o Dia Internacional de Eliminação da Violência contra a Mulher, pedimos àqueles que têm o poder de contribuir para a erradicação desse problema que atuem imediatamente. As mulheres indígenas requeremos programas sustentáveis que conduzam à mudança dessa realidade. Tomar a decisão de investir em nós não é somente uma dívida moral; mas, um modo de potencializar o desenvolvimento de nossos países.


[* Tarcila Rivera Zea é uma das mais reconhecidas ativistas indígenas no Peru e no mundo. Entre suas conquistas, destacam-se a fundação do Enlace Continental de Mujeres Indígenas de las Américas (ECMIA) e o Foro Internacional de Mujeres Indígenas (FIMI). É presidenta de CHIRAPAQ, Centro de Culturas Indígenas del Perú, associação dedicada à afirmação da identidade cultural e do reconhecimento dos direitos dos povos indígenas].


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