AMON BORGES
DE SÃO PAULO
A fotógrafa Valérie Mesquita foi uma das representantes brasileiras na 10ª Bienal Internacional de Roma, que ocorreu entre 18 e 28 de janeiro na capital italiana. A paulistana de 24 anos expôs seu projeto Entre Nós, que aborda violência doméstica contra a mulher.
Formada pela Panamericana Escola de Arte e Design, Valérie conta que sempre ficou muito incomodada com qualquer tipo de agressão contra as mulheres —seja física ou verbal. "E, de repente, aconteceu com uma pessoa muito próxima e muito querida, que apanhou do marido. Não sabia o que fazer, mas sabia que precisava agir de alguma maneira", relembra.
A partir daí, convidou algumas atrizes —que ela mesma maquiou para as fotos— e o projeto foi crescendo. Então percebeu que não se tratava apenas de uma resposta àquela agressão especificamente. "Passou a ser uma resposta à violência contra a mulher como um todo", diz.
Agora, a profissional pensa em utilizar muros em São Paulo para colar cartazes com as imagens do ensaio e busca autorização da prefeitura para isso. "A intenção é atingir o maior número de pessoas possível", explica.
ABAIXO, CONFIRA ENTREVISTA COM VALÉRIE MESQUITA:
sãopaulo - Pretende expor em SP? Ouvi dizer que tinha a intenção de fazer colagens pela cidade...
Valérie - Sim, com certeza. Mas nos muros de São Paulo, na forma de cartazes lambe-lambe. Agora em fevereiro vou atrás de autorização para isso na prefeitura. Acredito que a internet é um meio maravilhoso de divulgação, mas não abrangente o suficiente, pois muita gente ainda não tem acesso. A intenção é atingir o maior número de pessoas possível, e acho que quase nada tem maior alcance que os muros da cidade.
Por que resolveu fazer esse trabalho? Já presenciou algum caso de violência doméstica?
Alguns temas me incomodam profundamente, e a violência contra a mulher (em todos os aspectos, desde a agressão física até o "vem cá gostosa" na rua) sempre foi um deles. E, de repente, aconteceu com uma pessoa muito próxima e muito querida, que apanhou do marido. Não sabia o que fazer, mas sabia que precisava agir de alguma maneira. Pensei, então, "o que eu sei fazer e o que eu posso fazer? Posso fotografar". O projeto brotou completo na minha cabeça, mas conforme foi sendo realizado, ele cresceu. Percebi que não se tratava mais de uma forma de resposta àquela agressão específica, mas de uma resposta à violência contra a mulher como um todo.
Como foi a repercussão das fotos em Roma? Que tipo de comentário ouviu?
Só estive presente na abertura da Bienal, mas pelo que me disseram a recepção foi boa. Não cheguei a conversar diretamente com os visitantes, mas uma cena me deixou muito feliz. Enquanto eu circulava pela sala em que a foto estava exposta (só uma obra por artista vai para a Bienal), notei uma mulher que, em vez de prestar atenção na conversa da sua roda de amigos, estava estática, encarando fixamente a imagem, com uma cara tão perplexa que, para mim, já valeu a ida a Roma.
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