Vera de Fátima Vieira
Mestre e doutora em Comunicação/Feminismo pela ECA-USP. É diretora-executiva da
Associação Mulheres pela Paz.
E-mail: vera7vieira@globo.com
Trecho do artigo:
Há que se considerar que, apesar do avanço significativo na condição de vida da mulher, intensificado nas últimas décadas graças ao impulso dado pelo movimento feminista, permanece o impasse na busca da igualdade na divisão dos espaços público e privado, o que demonstra a permanência das imagens e dos mitos que cultuam, de forma efervescente, a identidade masculina e feminina.
Há que se considerar que, apesar do avanço significativo na condição de vida da mulher, intensificado nas últimas décadas graças ao impulso dado pelo movimento feminista, permanece o impasse na busca da igualdade na divisão dos espaços público e privado, o que demonstra a permanência das imagens e dos mitos que cultuam, de forma efervescente, a identidade masculina e feminina.
As novas dinâmicas comunicacionais que submergem da era digital, consolidando
nas práticas cotidianas uma profusão de formas de aprendizado e
de expressão pessoal e interpessoal, agregam-se de forma potencializadora às
revolucionárias narrativas feministas implementadas logo após a segunda metade
do século passado. Como resultado, encontra-se a inexorável oportunidade de
avanço da luta pela equidade das relações sociais de gênero, por meio de uma
estratégia de práticas educomunicativas e de comunicação a distância, para que
se vislumbre uma reformulação da agenda feminista, visando à consolidação
de formas mais efetivas de intervenção política e de atuação nas práticas pela
equidade de gênero.
Segue, abaixo, uma relação dos resultados dessas pesquisas-ação que se
somam e estão em consonância com as ações que vêm ocorrendo no processo
de multiplicação Brasil afora, no campo da educação não formal, envolvendo
integrantes do movimento feminista e de mulheres:
• O aprendizado gestado comprova a existência de outras formas de
expressão por meio da comunicação a distância utilizando-se as TIC,
que promovem uma mudança de mentalidade e, consequentemente, o
avanço da luta das mulheres pela equidade de gênero, graças às novas
formas de produção, interatividade, compartilhamento e amigabilidade.
• As pesquisas-ação apontam a possibilidade concreta de multiplicação de
ações educomunicativas e de comunicação a distância Brasil afora, principalmente
por utilizar recursos digitais elementares, que são acessíveis
a grande parte da população.
• As TIC promovem um relacionamento mais horizontal entre quem ensina
e quem aprende; ambos aprendem e ensinam ao mesmo tempo.
• Diferentes gerações conseguem entrar em sintonia no universo das TIC,
mesmo considerando-se a brecha geracional.
• Houve um avanço considerável no âmbito do domínio tecnológico das
lideranças participantes, assim como na consciência sobre a importância
de incluir mulheres residentes na área urbana e rural, pertencentes
à diversidade dos movimentos de mulheres, tais como negro, lésbico, promotoras legais populares, jovens etc. Trata-se de um modelo que
vem sendo replicado.
• Fortalecimento da conexão entre TIC e relações de gênero pelos grupos
de base de algumas regiões brasileiras, com potencial de ressonância
para outras localidades.
• Ampliação de horizontes no que concerne ao uso da internet, principalmente
para a prevenção e o combate à violência contra a mulher, que
se materializa no cotidiano pela violência doméstica e sexual, além do
tráfico de mulheres.
• Criação de uma rede específica com o objetivo de fortalecer a luta contra
a violência à mulher, que pode ser amplificada, assim como o aumento
da capacidade de sistematização e proposição de políticas públicas e
estratégias de intervenção.
• Fortalecimento dos laços de solidariedade entre as mulheres, especialmente
considerando-se o fato de que as participantes pertencem a diferentes
áreas geográficas em um país com dimensões continentais, além
da diversidade de raça/etnia, geração e orientação sexual/identidade
de gênero.
• Multiplicação de iniciativas de debates descentralizados, processos de
formação voltados para a conexão entre TIC, gênero, desenvolvimento,
empoderamento, violência contra a mulher e políticas públicas.
• Aumento da conscientização, por parte de lideranças históricas do
movimento feminista e de mulheres, da necessidade de incluir TIC na
agenda estratégica.
• Necessidade de ampliação dos processos de capacitação, tanto em nível
nacional como local.
• Incidência das pesquisas-ação nas instâncias de poder governamentais e empresariais (responsabilidade social), com a participação em eventos e realização de entrevistas.
• Incidência das pesquisas-ação nas instâncias de poder governamentais e empresariais (responsabilidade social), com a participação em eventos e realização de entrevistas.
• A experiência das pesquisas-ação ofereceu o fermento básico para o
início de projetos sobre uma metodologia específica para trabalhar
com mulheres e homens a questão da violência doméstica, do tráfico de
mulheres e da violência sexual, nas diferentes regiões brasileiras, tanto
presencialmente como em termos de comunicação a distância.
Para encerrar — sem deixar de novamente enfatizar as contribuições gestadas
coletivamente em tais pesquisas-ação, as quais não se estabelecem como
verdades absolutas —, enfatiza-se a reflexão de Citelli12, no sentido de que “[...]
entre o ‘aqui’ e o ‘lá’, para retomarmos nossa tensão teórica de base, a semente
pode frutificar; nos intervalos faíscas distribuem luzes e fazem das linguagens
lugares de criação ideológica”, que é embalada pela frase de Paulo Freire13, já
que “o mundo não é, o mundo está sendo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário