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sábado, 30 de julho de 2016

Educomunicação pela cidadania das mulheres

Vera de Fátima Vieira 
Mestre e doutora em Comunicação/Feminismo pela ECA-USP. É diretora-executiva da Associação Mulheres pela Paz. 
E-mail: vera7vieira@globo.com

Trecho do artigo:

Há que se considerar que, apesar do avanço significativo na condição de vida da mulher, intensificado nas últimas décadas graças ao impulso dado pelo movimento feminista, permanece o impasse na busca da igualdade na divisão dos espaços público e privado, o que demonstra a permanência das imagens e dos mitos que cultuam, de forma efervescente, a identidade masculina e feminina. 

As novas dinâmicas comunicacionais que submergem da era digital, consolidando nas práticas cotidianas uma profusão de formas de aprendizado e de expressão pessoal e interpessoal, agregam-se de forma potencializadora às revolucionárias narrativas feministas implementadas logo após a segunda metade do século passado. Como resultado, encontra-se a inexorável oportunidade de avanço da luta pela equidade das relações sociais de gênero, por meio de uma estratégia de práticas educomunicativas e de comunicação a distância, para que se vislumbre uma reformulação da agenda feminista, visando à consolidação de formas mais efetivas de intervenção política e de atuação nas práticas pela equidade de gênero. 

Segue, abaixo, uma relação dos resultados dessas pesquisas-ação que se somam e estão em consonância com as ações que vêm ocorrendo no processo de multiplicação Brasil afora, no campo da educação não formal, envolvendo integrantes do movimento feminista e de mulheres: 
• O aprendizado gestado comprova a existência de outras formas de expressão por meio da comunicação a distância utilizando-se as TIC, que promovem uma mudança de mentalidade e, consequentemente, o avanço da luta das mulheres pela equidade de gênero, graças às novas formas de produção, interatividade, compartilhamento e amigabilidade. 
• As pesquisas-ação apontam a possibilidade concreta de multiplicação de ações educomunicativas e de comunicação a distância Brasil afora, principalmente por utilizar recursos digitais elementares, que são acessíveis a grande parte da população. 
• As TIC promovem um relacionamento mais horizontal entre quem ensina e quem aprende; ambos aprendem e ensinam ao mesmo tempo. 
• Diferentes gerações conseguem entrar em sintonia no universo das TIC, mesmo considerando-se a brecha geracional. 
• Houve um avanço considerável no âmbito do domínio tecnológico das lideranças participantes, assim como na consciência sobre a importância de incluir mulheres residentes na área urbana e rural, pertencentes à diversidade dos movimentos de mulheres, tais como negro, lésbico, promotoras legais populares, jovens etc. Trata-se de um modelo que vem sendo replicado. 
• Fortalecimento da conexão entre TIC e relações de gênero pelos grupos de base de algumas regiões brasileiras, com potencial de ressonância para outras localidades. 
• Ampliação de horizontes no que concerne ao uso da internet, principalmente para a prevenção e o combate à violência contra a mulher, que se materializa no cotidiano pela violência doméstica e sexual, além do tráfico de mulheres. 
• Criação de uma rede específica com o objetivo de fortalecer a luta contra a violência à mulher, que pode ser amplificada, assim como o aumento da capacidade de sistematização e proposição de políticas públicas e estratégias de intervenção. 
• Fortalecimento dos laços de solidariedade entre as mulheres, especialmente considerando-se o fato de que as participantes pertencem a diferentes áreas geográficas em um país com dimensões continentais, além da diversidade de raça/etnia, geração e orientação sexual/identidade de gênero. 
• Multiplicação de iniciativas de debates descentralizados, processos de formação voltados para a conexão entre TIC, gênero, desenvolvimento, empoderamento, violência contra a mulher e políticas públicas. 
• Aumento da conscientização, por parte de lideranças históricas do movimento feminista e de mulheres, da necessidade de incluir TIC na agenda estratégica. 
• Necessidade de ampliação dos processos de capacitação, tanto em nível nacional como local.
• Incidência das pesquisas-ação nas instâncias de poder governamentais e empresariais (responsabilidade social), com a participação em eventos e realização de entrevistas. 
• A experiência das pesquisas-ação ofereceu o fermento básico para o início de projetos sobre uma metodologia específica para trabalhar com mulheres e homens a questão da violência doméstica, do tráfico de mulheres e da violência sexual, nas diferentes regiões brasileiras, tanto presencialmente como em termos de comunicação a distância. 

Para encerrar — sem deixar de novamente enfatizar as contribuições gestadas coletivamente em tais pesquisas-ação, as quais não se estabelecem como verdades absolutas —, enfatiza-se a reflexão de Citelli12, no sentido de que “[...] entre o ‘aqui’ e o ‘lá’, para retomarmos nossa tensão teórica de base, a semente pode frutificar; nos intervalos faíscas distribuem luzes e fazem das linguagens lugares de criação ideológica”, que é embalada pela frase de Paulo Freire13, já que “o mundo não é, o mundo está sendo”. 

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