25 de julho é dia de resistência e protagonismo político contra o racismo e o machismo
Chegamos a mais um 25 de julho. Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha. Dia Nacional de Tereza de Benguela. As marcas do racismo e do machismo atravessam nossa história e nossa vida cotidianamente e as mudanças na conjuntura nacional acirram o como vivemos, visto que o racismo e o machismo estruturam a nossa sociedade. Há dois anos inauguramos em São Paulo o processo de construção da Marcha de Mulheres Negras que culminou em 2015 com mais de 50 mil mulheres nas ruas de Brasília denunciando o racismo, o machismo e o recrudescimento conservador presente no Brasil.
No quadro social brasileiro, ainda temos uma baixa qualidade de vida da mulher negra, verificada a cada em cada indicador econômico e social ou social produzido pelo Estado brasileiro. Essa situação tem provocado, de maneira preocupante, o êxodo de mulheres negras, indígenas e afro indígenas, imigrantes e refugiadas, devido ao “progresso”da demarcação de terras pela elite agrária brasileira, além das crises sócio econômicas e culturais ao redor do mundo.(Manifesto ao 25 de julho de 2016)
Estabelecemos uma disputa cotidiana em nossas vidas, já que a luta contra o racismo e o machismo não se resume a apenas um dia do ano. O processo de objetificação de nossos corpos é atravessado pelas estruturas do machismo e do racismo na sociedade. Os números do Mapa da Violência de 2015 sobre feminicídio negro são indicadores importantes de como tanto o processo da violência machista, quanto do genocídio do povo negro nos atingem de forma brutal. Em 10 anos o número de mulheres negras mortas subiu 54% enquanto o de mulheres brancas caiu 9,8%. Tal diferença não é algo menor a ser pensado por nós seja no movimento feminista, seja no movimento negro.
A construção histórica e escravocrata de que os negros eram propriedade. Isso dava direito aos sinhozinhos de vender, torturar e matar. Tal base da compreensão do lugar do negro na sociedade brasileira acaba por se aprofundar de uma forma cruel quando entendemos a relação de propriedade estabelecida pelo patriarcado entre homens e mulheres. Nós mulheres negras não somos apenas a carne mais barata do mercado. Nós mulheres negras somos a concretização de uma objetificação racista e patriarcal, ou seja, apenas existimos para servir da forma que for aos brancos e aos homens.
Em um país onde até hoje se nega que o processo de miscigenação foi baseado no estupro de mulheres escravizadas e subjugadas ao tacão forte da aristocracia agrária e branca brasileira. Levantar a cabeça e ocupar as ruas dizendo que nós mulheres negras resistimos é imperativo. Ainda mais quando nos encontramo neste quadro político de volta das caravelas e retirada violenta de direitos duramente conquistados pelo movimento negro e feminista.
A violência machista, lesbofóbica e transfóbica atuam de forma alinhada com o racismo. Aprofundando de diversas formas o que conhecemos como genocídio do povo negro. O caso Luana Barbosa é um pesaroso demonstrativo disso. Mulher, negra e lésbica morta pela polícia militar apenas por ser quem é.
Hoje é 25 de julho. Voltaremos às ruas, mas nossa resistência não tem se construído apenas neste dia. Ela se faz cotidianamente. A cada grito ecoado quando nossos filhos são assassinados. Ao perdermos uma de nós por causa do machismo ou quando somos expulsas de casa por causa da nossa orientação sexual. Nossos passos vem de longe e seguirão andando e confrontando este status quo que estrutura a sociedade!
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