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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Por que a sociedade ainda culpa as vítimas? A ciência explica!

19.07.2016 | POR REDAÇÃO MARIE CLAIRE

Pesquisadores de Harvard identificaram que tipos de valores morais estão atrelados à culpabilização da vítima. ““O que nosso trabalho mostrou é que é importante saber se você acha legítimo as pessoas merecerem ser prejudicadas”, disse Laura Niemi

Uma mulher em uma festa bebe vários drinques e, quando inconsciente, é violentada por um homem. Um rapaz negro do lado de fora de uma loja de conveniência carrega uma arma no bolso e é assassinado por policiais.

Quem é o culpado?

Segundo um estudo publicado na revista científica LiveScience, a maneira como você responde a essa pergunta diz muito sobre como você pesa dois tipos de valores morais. O experimento mostrou que pessoas focadas na minimização de danos e no cuidado com o outro tendem a culpar os autores do crime. Em contrapartida, pessoas que carregam consigo valores como lealdade, pureza e obediência a autoridades têm mais propensão a culpar as vítimas.

E essas diferenças se mantiveram mesmo depois da análise de fatores políticos e demográficos, disse Laura Niemi, pesquisadora de pós-doutorado em psicologia da Universidade de Harvard, em Massachusetts. A conclusão é a mesma tanto para crimes sexuais, quanto para aqueles que não possuem natureza sexual.

Os dois casos usados como referência são reais. O primeiro diz respeito ao estupro de uma mulher inconsciente por um ex-aluno da Universidade de Stanford, que acabou recebendo uma sentença de liberdade condicional. O segundo trata-se do norte-americano negro Alton Sterling, de 37 anos, que foi morto pelos policiais por carregar uma arma.

Em ambos, os tais “comentaristas de portais” argumentaram que as ações individuais – beber demais em uma festa e não cooperar com a polícia -  conferiram certa culpa às vítimas. A diferença de julgamento sobre um mesmo caso intrigou Niemi e seus colegas.

Pesquisas anteriores haviam sugerido que a culpabilização da vítima surge de uma crença de “justiça mundial”, ou seja, que as pessoas devem ter o que merecem. “O que nosso trabalho mostrou é que é importante saber se você acha legítimo as pessoas merecerem ser prejudicadas em qualquer situação”, disse Niemi.

Uma outra linha de pesquisa, mostrou ainda que as pessoas que endossam “valores individuais”, que priorizam a redução de danos e a aplicação universal da compaixão, tendem a pensar que ninguém merece sofrer. Por outro lado, existem pessoas que dão prioridade a “valores de ligação”, que priorizam a pureza, lealdade e obediência. O segundo é responsável por manter grupos unidos.

Questionários aplicados para mais de 994 pessoas mostraram que indivíduos crentes em “valores de ligação” têm maior tendência a responsabilizar a vítima pelo crime que ela sofreu e julgá-las como contaminadas ou alteradas de alguma maneira. Essas mesmas pessoas demonstraram uma tendência menor de enxergar a vítima prejudicada pela experiência.

“Valores de ligação foram relacionados à estigmatização, culpabilização e julgamento da vítima”, explica Niemi. Quem compartilha desses valores apontaram ainda coisas que as vítimas, ao invés dos criminosos, poderiam ter feito diferente para evitar o crime.

Já no grupo de pessoas fortemente carregadas de valores individuais se mostrou mais propenso a enxergar a vítima impactada pelo crime que sofreu e não responsável por ele.

Apesar desta conclusão, ela lembra que os “valores de ligação” são também necessários para que uma sociedade funcione, mas eles às vezes podem motivar desrespeito pelos direitos humanos. Por isso, podemos falar em cultura do estupro.

Os pesquisadores concluíram ainda que a construção de uma frase também pode influenciar a maneira como as pessoas enxergam os culpados de um crime. Quem lê a sentença “Alton Sterling foi baleado pela polícia” tende a relacionar a ação à vítima do que se tivesse lido “Policial atira em Alton Sterling”. “Se você se concentrar menos na vítima e muito mais nos autores da ação, vai sentir mais simpatia pela vítima”, explica a pesquisadora.

Os especialistas descobriram também que os dois tipos de valores independem da filiação política das pessoas. Porém, existe uma tendência que pode ser sinalizada. Pessoas conservadoras politicamente falando geralmente são mais propensas do que as liberais a endossar valores vinculativos. 

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