Aventurar-se no mundo dos negócios deixou de ser uma ação genuinamente masculina e, a cada ano, mais mulheres estão realizando o sonho de empreender.
Metade dos novos empreendedores no Brasil (empresas com até três anos de mercado) são mulheres, segundo dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Atualmente, o país possui 24,9 milhões de empreendedores –destes, 7,9 milhões são mulheres (32%). Além disso, segundo informações da Rede Mulher Empreendedora (RME), a cada 100 novas empresas abertas no Brasil, 52 são de mulheres.
Uma pesquisa realizada pela RME por meio de entrevistas com 1.376 mulheres empreendedoras do Brasil traçou o perfil do empreendedorismo feminino: 79% delas possuem nível superior ou mais; 55% têm filhos; 44% são chefe de família e 61% são casadas. A idade média ao empreender era 38,7 anos.
“Decidimos fazer essa pesquisa anualmente em 2015 para observar a evolução desse mercado. Até então, não existiam dados oficiais específicos sobre mulheres”, afirmou Ana Fontes, fundadora e diretora da RME.
Segundo a pesquisa, 52% das mulheres optaram pelo empreendedorismo pela flexibilidade de horários; 40% para aumentar a renda e 30% para terem mais tempo com a família. No grupo de mães empreendedoras, a maternidade foi o empurrãozinho que faltava para que 75% delas decidissem ter o próprio negócio, sendo as principais áreas de atuação serviços, seguido de comércio, indústria e terceiro setor.
Diferentemente dos homens, que quando empreendem colocam a questão financeira entre as principais razões e em primeiro plano, a maioria das mulheres decide ter o próprio negócio para alcançar uma satisfação pessoal, realizar um sonho e trabalhar com o que realmente gosta. Foi o que aconteceu com a empresária Sarita Lanis Valadão, de 37 anos, que decidiu abrir o próprio negócio –uma escola de educação infantil– depois de ser demitida da empresa por onde trabalhou por 15 anos como assistente financeira.
Mãe de duas meninas e disposta a ter o terceiro filho, Sarita diz acreditar que o fato de ser mãe foi uma das razões para a sua demissão, embora isso não tenha sido dito claramente. “Não quis procurar emprego na minha área por desgaste emocional e também por não achar um emprego que pagasse o mesmo salário. Resolvi então ir atrás do meu sonho, que sempre adiei por estar acomodada”, conta.
Para se dedicar ao mundo da educação infantil, Sarita começou a fazer faculdade de pedagogia, pesquisou o mercado no seu bairro, visitou mais de dez escolas para buscar um diferencial e identificar as coisas boas e as ruins. Para isso, contou com o apoio do marido e da dona da escola onde estuda sua filha Maria Eduarda, hoje com cinco anos.
“Ela me deu todo o suporte que eu precisava para começar. Não tem sido fácil. Por seis meses fiquei pesquisando, ouvindo mães, buscando criar uma escola acessível. Estou me dedicando integralmente, trabalho mais do que em qualquer outro emprego, mas a recompensa é muito maior pela satisfação em fazer o que amo”, afirmou Sarita.
Outro dado que chama a atenção na pesquisa é que 14% das mulheres não possuem nenhum controle financeiro da sua empresa, 33% usam uma planilha básica de Excel e 19% ainda anotam as despesas e receitas em um caderno. “Percebemos que a principal dificuldade das mulheres que empreendem é lidar com as finanças. A maioria deixa aos cuidados do marido ou de um funcionário. Temos de mudar isso. Por isso a nossa rede tem promovido cursos e palestras de capacitação dessas mulheres. Não é tão difícil quanto parece”, diz Ana Fontes.
(FERNANDA BASSETTE, COLABORAÇÃO PARA CLAUDIA)
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