por Soraia Alves
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Porém, coube à Janelle Monáe trazer um discurso mais encorpado ao palco, com o pedido de igualdade entre gêneros. A cantora citou o movimento Time’s Up e falou pelas mulheres da indústria da música, que também sofrem com sexismo e assédio sexual tanto quanto Hollywood: “Assim como temos o poder de moldar a cultura, também temos o poder de desfazer uma cultura que não nos serve bem“.
Com essa introdução, Kesha performou a canção “Praying” ao lado de Cyndi Lauper, Camila Cabello, Julia Michaels, Andra Day e o Coral Resistance Revival composto por mulheres que cantam em forma de protesto. O peso da apresentação é gigante: essa é a grande volta de Kesha depois de um longo processo, em 2014, contra seu atual produtor Dr. Luke, que foi acusado de agredi-la sexualmente por anos.
O momento poderia ter sido marcado com ainda mais emoção, caso Kesha tivesse levado pouco antes o prêmio na categoria “Performance Solo de Pop”, que ficou com Ed Sheeran e “Shape of You“. Realmente, seria difícil para Kesha sobrepor o impacto causado por “Shape of You” o ano todo. Ainda assim, vale lembrar que mais 3 mulheres estavam na disputa – Lady Gaga, Pink e Kelly Clarkson.
Na sequência, Camila Cabello, que é cubana, apresentou um belo discurso usando muitas vezes a palavra “dreamers” e destacando a importância dos imigrantes na construção dos Estados Unidos. Um destaque à comunidade latina que foi reforçado com a performance anterior de Luis Fonsi e o fenômeno “Despacito”.
Porém, mais uma vez percebemos que a abertura do Grammy para a diversidade ainda é tímida e reservada ao “espaço concedido” e não ao “reconhecimento musical”. Nas duas categorias que disputou, “Melhor Música” e “Melhor Gravação”, “Despacito” perdeu para Bruno Mars com “That’s What I Like” e “24K Magic“, respectivamente.
Sabemos que popularidade e qualidade são pontos diferentes, mas se um sucesso global como é a canção de Fonsi também é considerada boa o bastante para entrar na competição, não seria um caso de realmente o material ser o melhor do ano?
Além do discurso de Camila Cabello, houve o bom momento de alfinetada à política dos Estados Unidos com a leitura de trechos do livro “Fire and Fury: Inside the Trump White House”, que critica o primeiro ano do governo do presidente Donald Trump, por artistas como Cher, Snoop Dogg e uma aparição surpresa de Hillary Clinton.
Ainda assim, o impacto geral é pequeno. Muito se falou sobre esse ser um Grammy histórico. E não foi. Nem mesmo a tão esperada “justiça” a Kendrick Lamar veio. Com ele, Jay-Z, Bruno Mars, Childish Gambino e Lorde na disputa pelo principal prêmio da noite, “Álbum do Ano”, o troféu ficou com Bruno Mars, que em seu discurso de agradecimento classificou o disco como feito para juntar pessoas em torno da celebração e da felicidade.
Apesar da maior presença de negros, latinos e mulheres nas performances e nas disputas, o prestígio e reconhecimento finais ainda exalam conservadorismo e o favorecimento de gêneros menos incômodos que o Hip Hop.
Mas, ainda assim, a maior diversidade vista no Grammy desse ano é melhor que nada. Mesmo que lentamente, é como Bob Dylan diz: “os tempos, eles estão mudando“.
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